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31/05/2012

Barata: Sexo, Poesia & Rock'n'nRoll, por Viegas Fernandes da Costa


Trecho  do prefácio, por Viegas Fernandes da Costa

"Barata: Sexo, Poesia e Rock’n’Roll” contribui para compreendermos os deslocamentos nas margens paulistanas, no underground cultural. Luiz nos leva a passear pelos cinemas pornográficos, convida-nos a uma transa em um puteiro, a bebermos o desespero e a mágoa e a dançarmos enlouquecidamente ao som de uma banda de Rock jamais alçada ao mainstream. Seu texto muitas vezes equilibra-se entre um Bukowski embriagado (êita pleonasmo maldito!) e um Bataille revelando-se na “História do Olho”. É desabafo e monumento de um homem ciente do tempo, este lugar miserável que nos traga em sua superfície porosa e movediça. É testemunho de entrega a uma causa que sabe perdida, mas nem por isso menos necessária." - Viegas Fernandes da Costa, Escritor e Historiador, Blumenau, SC

29/05/2012

Silêncio

Sófocles disse que há algo de ameaçador num silêncio prolongado. Acho que qualquer silêncio é muito ameaçador, pois é nele que há a verdade.

22/05/2012

Amyr Cantusio Jr. (Alpha III Project)


Amyr Cantusio Jr. é formado em Música Erudita pela Unicamp e autodidata em música eletrônica com teclados e estruturas de orquestração, música experimental progressiva e Canterbury Fusion. Tem cursos nas áreas de Psicanálise Integral, pela Escola Analítica Existencial do Dr.Victor Frankl em Viena, extensivo em Psicanálise Trilógica ministrado pelo Dr. Norberto Keppe e nas áreas de Musicoterapia, Ocultismo, Meditação & Filosofia Oriental de Teosofia e Yogas 

Foi crítico musical e colunista do Jornal Diário do Povo de Campinas e em revistas nacionais (Zen, Pendulum, Bons Negócios) e internacionais como a Background Magazine (Holanda) e Paperlatte (Itália) e na revista germano-brasileira Hard Valhalla.

Como artista plástico, desenhou a maioria dos logos e capas de seus próprios LPs e CDs e é Pintor de surrealismo gótico, com vários desenhos para capas e telas.

Na área musical, foi co-fundador do primeiro selo do Rock Progressivo e Música Eletrônica Experimental do Brasil em 1986 (Faunus), coordenador de vários projetos musicais em Campinas, entre eles “Rock Todas as Vertentes” (1986). Produziu inúmeras bandas no Brasil e no Exterior, trabalhou na trilha sonora do alemão de Holger Kernstein “Jesus Viveu na Índia” (1996) e também criou jingles, spots e trilhas sonoras na Junta de Rádio e Televisão e na Rádio e Televisão Bandeirantes.

O músico Amyr Cantusio Jr. produziu independente 20 CDs e 7 LPs desde 1974. Amplamente premiado no Brasil e no exterior, recebeu a Medalha Carlos Gomes (Campinas) por representar a cidade em mais de 15 países do mundo com seus discos e foi o primeiro lugar de arranjo e composição do Projeto Guarani. Além disso, foi considerado melhor Tecladista e melhor Projeto do mundo em vários festivais internacionais: Espanha/1986; Japão/1986, e Canadá/1991, Itália/1993, Escandinávia e Holanda. 

Atualmente desenvolve projetos de World Music e ritmos árabes e hindus no Espaço Cultural Lince Negro, com Filosofia Oriental, Instrumentação, Teosofia e História da Música, com sua esposa Cáthia Cantúsio.

Discografia:
LPs:
1983 - Mar de Cristal
1986 - Sombras
1987 – Agartha
1988 - Ruínas Circulares
1989 - Temple of Delphos
1989 - The Aleph
1990 - The Seven Spheres

CDs:
1993 - Voyage to Ixtlan
1995 - The Edge
1995 - Acron
1996 - Grimorium Verum
1996 - Oásis
1999 - The Edge of Vortex
2000 - Book of Sacred Magik
2001 - Live Destroyer – (Studio)
2001 - Spectro
2002 - Lord of the Abyss
1998 - The Aleph
1999 - New Voyage to Ixtlan
2000 - Seven Spheres
2004 - Ruinas Circulares
2004 - Temple of Delphos
2008 - Mar de Cristal
2008 - Sombras
2008 - Live-Shades of Windows
2010 – Vitória, ou a Filha de Adão e Eva (Libreto de Barata Cichetto)

Livros:
- Rock, Filosofia & Ocultismo
- Musicoterapia
- Anjos, As Sentinelas do Universo
- A Era da Escuridão
- A Era da Escuridão II
- A Música Erudita de Todos os Séculos
- Led Zeppelin (Compilação)

Sites Oficiais:
www.myspace.com/amyrcantusiojr
www.myspace.com/projectalpha3
www.myspace.com/alphaiii

Contato:
lunardraco@gmail.com
F(19) 3243.8647

Led Zeppelin (Posfácio do Livro Organizado Por Amyr Cantusio Jr.)



Quando eu, no início dos anos 1970, um pré adolescente recém chegado ao mundo do Rock, ouvi falar em Led Zeppelin imaginei algo parecido a Beatles, Stones... Mas um dia folheando uma revista de musica, me deparei com uma foto da banda e aquilo foi o suficiente para que eu procurasse escutar aquela banda.

Led Zeppelin II era o disco, "Whole Lotta Love" a musica. O impacto, o soco na cara. O som e a fúria daquele disco rolou na minha vitrola semanas a fio, até encher a sala de estalidos de um vinil lixado. Aquilo era diferente de tudo aquilo que tinha escutado até então. Uma musicalidade impar na guitarra de Page, uma voz aguda e ao mesmo tempo áspera de Plant, no baixo, de John Paul Jones e na bateria... Ah, a bateria, de John Bonhan... Tambores do Céu e do Inferno. 

E logo Led Zeppelin passou a representar, dentre tantos deuses do panteista universo do Rock, um deus especial, gigante, forte, místico e poderoso. Led passou a ser a referencia a tudo. E por intermédio da busca das interpretações de sua música, encontrei a história do Rock, flertei com o esoterismo, saltando as montanhas nebulosas e subindo escadas para o Céu.

Os temas eram escutados e re-escutados por semanas a fio. Cada disco era tocado até riscar. Muitos deles comprei duas ou três vezes porque acabavam lixando de tanto escutar. O quarto disco da banda, que tem na parte interna a imagem do eremita foi comprado três vezes, porque uma das cópias se transformou em poster. E assim foi com todos os discos do Led até o lançamento de "The Songs Remains The Same" que traria uma versão, a mais genial e definitiva interpretação de uma música, "Dazed and Confused". 23 minutos de duração no vinil e um clima que me levava das alturas ás profundezas de mim mesmo com a mesma rapidez das mais poderosas drogas. Com o passar dos anos, acabei transformando "Dazed and Confused" na trilha sonora da minha vida e do meu funeral, conforme passei a comentar com amigos.

Até no fim da banda, o Led Zeppelin se comportou da forma correta: um disco fraco denotando o cansaço da banda. A morte de Bonhan logo após.. E o necessário fim. Depois disso, apesar de algumas reuniões "furtivas", a banda se negou a retornar apenas por jogada comercial. E bem que poderiam, pois embora sem chegar às pontas das baquetas de seu genial pai, Jason Bonhan é um bom baterista e poderia ter assumido o papel que fora de John Henry.

E no tempo em que os Deuses do Rock andaram sobre a Terra, deixaram não apenas o Rock, não apenas a Música, deixaram entre nós seu mais dileto filho, o Led Zeppelin.

...
Led Zeppelin
Coletânea de textos sobre Led Zeppelin.
Apresentação e Organização: Amyr Cantusio Jr.
Posfacio: Barata Cichetto
2012 - Editor'A Barata Artesanal - 76 páginas
Pedidos: lunardraco@gmail.com

Abismo de Luz
(No Quarter)
Amyr Cantusio Jr.
Led Zeppelin Tribute
Letra: Amyr Cantusio Jr.
Música Led Zeppelin

Feche as Portas e veja a Luz
Que está além do mar
Rios que correm pela Cruz
Noites frias de Luar
Sonhe agora no Além
Ventos frios que se vão
Feche as portas e veja o Sol
Brilhar, Brilhar, Brilhar
Em Você, Em Você....

Amyr Cantusio Jr. - Vocais, Letra, Teclados, Bateria e Arranjos
Marcelo Diniz: Técnico Som
"Dedico esta versão em português da famosa música No Quarter, feita no dia de nascimento do místico Aleister Crowley pela banda inglesa Led Zeppelin, ao grande arranjador tecladista e baixista John Paul Jones." - Amyr Cantusio Jr.

A Grande Puta do Apocalipse

A Grande Puta do Apocalipse

Apocalipse, 17
1. Veio, então, um dos sete Anjos que tinham as sete taças e falou comigo: Vem, e eu te mostrarei a condenação da grande PUTA, que se assenta à beira das muitas águas,
2. Com a qual se contaminaram os reis da terra. Ela inebriou os habitantes da terra com o vinho da sua luxúria.
3. Transportou-me, então, em espírito ao deserto. Eu vi uma mulher assentada em cima de uma fera escarlate, cheia de nomes blasfematórios, com sete cabeças e dez chifres.
4. A mulher estava vestida de púrpura e escarlate, adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas. Tinha na mão uma taça de ouro, cheia de abominação e de imundície de sua prostituição.
5. Na sua fronte estava escrito um nome simbólico: Babilônia, a Grande, a mãe da prostituição e das abominações da terra.
6. Vi que a mulher estava ébria do sangue dos santos e do sangue dos mártires de Jesus; e esta visão encheu-me de espanto.
7. Mas o anjo me disse: Por que te admiras? Eu mesmo te vou dizer o simbolismo da mulher e da Fera de sete cabeças e dez chifres que a carrega.
8. A Fera que tu viste era, mas já não é; ela deve subir do abismo, mas irá à perdição. Admirar-se-ão os habitantes da terra, cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde o começo do mundo, vendo reaparecer a Fera que era e já não é mais.
9. Aqui se requer uma inteligência penetrante. As sete cabeças são sete montanhas sobre as quais se assenta a mulher.
10. São também sete reis: cinco já caíram, um subsiste, o outro ainda não veio; e quando vier, deve permanecer pouco tempo.
11. Quanto à Fera que era e já não é, ela mesma é um oitavo (rei). Todavia, é um dos sete e caminha para a perdição.
12. Os dez chifres que viste são dez reis que ainda não receberam o reino, mas que receberão por um momento poder real com a Fera.
13. Eles têm o mesmo pensamento: transmitir à Fera a sua força e o seu poder.
14. Combaterão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá, porque é Senhor dos senhores e Rei dos reis. Aqueles que estão com ele são os chamados, os escolhidos, os fiéis.
15. O anjo me disse: As águas que viste, à beira das quais a PUTA se assenta, são povos e multidões, nações e línguas.
16. Os dez chifres que viste, assim como a Fera, odiarão a PUTA. Hão de despojá-la e desnudá-la. Hão de comer-lhe as carnes e a queimarão ao fogo.
17. Porque Deus lhes incutiu o desejo de executarem os seus desígnios, de concordarem em ceder sua soberania à Fera, até que se cumpram as palavras de Deus.
18. A mulher que viste é a grande cidade, aquela que reina sobre os reis da terra.

Ao texto bíblico constante em Apocalipse 17, apenas substitui "prostituta" e "meretriz" por "PUTA".

Publicado no Nº 2 da Revista-Zine Versus
http://zineversus.blogspot.com.br/



18/05/2012

Barata: Sexo, Poesia & Rock'n'Roll - Trecho Inédito


§33
"O Rock nasceu de uma necessidade psicológica original: eliminar as garras da sombra". Essa frase, de autoria do filósofo Luiz Carlos Maciel, publicada em "A Morte Organizada", 1976, sempre me foi verdadeira. O Rock dentro de mim era simplesmente isso, eliminar as garras da sombra, jogar luz dentro de minha mente escura, sombria, lotada de fantasmas. E mais do que em qualquer momento, naquele 2007, um dos anos mais gelados de toda minha lembrança, eu precisava de muito Rock. Morando em um canto na fábrica de etiquetas onde também passei a trabalhar. Um pequeno retângulo de cerca de 5 metros quadros era o suficiente, pois qualquer coisa maior aumentaria ainda mais o meu sentido de solidão extrema. Quando as sombras da solidão nos esperam, precisamos estar num espaço pequeno, pois quanto maior é o tamanho do nosso quarto, maiores são as sombras na parede. E era por isso que eu coloquei duas coisas essenciais naquele cubículo da Penha: um pôster em preto e branco (o preto e branco é maravilhoso e se confunde com as sombras) de Janis Joplin nua e um peixe beta. A parte boa da solidão, além de podermos cagar de porta aberta, é que ela nos faz sentir importantes a nós mesmos, quando olhamos por uma ótica intima.

Entre rolos de etiquetas e impressoras de código de barras, o dia corria. Mas a noite, era entre litros de Rum com Fanta e muita putaria que ela acontecia. Ia todas as noites jantar numa Casa do Norte próxima ao Cemitério da Penha e acabei jantando (e almoçando) duas das garçonetes. Uma delas que era muito magra e branca, as 4 e meia da manhã no muro do Cemitério. A outra, uma negra que lembraria um pouco "Sweet Jane", foi devorada num motel. "Foi" devorada é maneira de falar, por na verdade ela foi quem me devorou. Numa quebrada, em meio a um monte de lixo e entulho atrás da Led Slay, uma garota de nome Cristina, se não me engano. Eu, completamente bêbado e ela muito chapada achando que eu era Raul Seixas. Foi muito engraçado porque a garota era fanática e ficava o tempo todo, enquanto eu a comia, cantando músicas como "Maluco Beleza", "A Maçã"... E outras. Um outro dia, na Galeria do Rock encontro uma gótica... Ela conhecia A Barata e disse estar contente por estar ali comigo, que conhecia e admirava minhas poesias e tarari, tarará.... Mas era ruim de cama pra cacete, do tipo de mulher que parece que irá lhe arrancar o saco de tanto lhe chupar, lhe dar até o buraco das orelhas... Mas na hora agá, deita, abre as pernas e... Mais nada...

Num puteiro das proximidades, conheci a Puta Caridosa. Ela fazia programas e depois saia na calada da madrugada com parte do dinheiro arrecadado comprando comida e distribuindo aos mendigos da rua. Sai umas duas ou três vezes com ela fazendo esse roteiro, depois de fechado o puteiro. Ela parecia a Madre de Calcutá enquanto distribuía pão, mortadela e refrigerante aos mendigos. Mas uma Madre Tereza de um par de peitos e uma bunda enormes, além de uma buceta muito suculenta e sempre querendo ser penetrada. 

De sexta a domingo era Dia de Rock. Led Slay, Fofinho, Café Piu-Piu. Nas duas primeiras, desde a época em que realizara meus eventos, eu tinha passagem livre e principalmente na Led, ainda certo prestigio, herdado da época em que fazia o website. E foi então que percebi que, ao contrário do que pensava, não era tão desinteressante às mulheres. Algumas, sabendo que agora eu não tinha amarras nem algemas, confessaram que tinham interesse por mim há bastante tempo. Então, ao que interessa... Dayana era um desses casos. Mas foi em outro bar que a conheci, trabalhando. Ela era garota de um conhecido da Led Slay e tinha um filho pequeno com ele. Confessou interesse em minha pessoa há bastante tempo. Fui ficando, bebendo e percebendo que aquele olhos claros não desgrudavam de mim. Fechado o lugar ela disse que precisava recolher as garrafas e copos dentro do salão. Prontifiquei-me matreiramente a ajudá-la. O salão às escuras e eu trepei com ela em cima de uma das mesas de plástico, em meio a copos de cerveja e guardanapos de papel lambuzados de molho de cachorro quente. E depois foi que percebi que o DJ ainda no fundo do salão enrolava seus cabos. Acho que ele nem percebeu...


12/05/2012

Thelema - Cidade dos Anjos




Cidade dos Anjos
Thelema

Madrugada afora perigo na esquina
Atravessa a noite só prá se divertir
Sensações em um jogo de perigosas relações
Entre corpos nus a cidade te seduz

Com seus bares cheios de pessoas vazias
Revelando desejos que escondem de dia
Crianças construindo seus castelos na lama
Vendendo seus sonhos por menos de um grama

Na madrugada o jornal que cobre o corpo caído
Diz a manchete na cidade dos anjos nada é proibido
Quem poderá negar todo o mal que já fez
Antes que o galo cante pela terceira vez.

Meninas, mulheres vendendo seus corpos num leilão
Lutando na noite por um pedaço de pão
O lado sombrio da noite nos mostra rancor e frieza
Desprezo da vida, vergonha e tristeza

Outros se escondem na noite com medo que o dia amanheça
E traga de volta toda sua incerteza...
Na madrugada o jornal "ainda" cobre o corpo caído.

08/05/2012

Psychotic Eyes: Rompendo Fronteiras

Psychotic Eyes: I Only Smile Behind The Mask



Transformar em arte a atual caótica sociedade parece ser a proposta básica das bandas de Metal, principalmente dentro dos subgêneros mais extremos, como o "Death".  Então, temas como o medo, o terror, a corrupção, a desigualdade social, a morte, entre outras, tomam a forma de músicas cruas, geralmente com harmonias muitas vezes pseudo intelectualizadas, mas que disfarçam e mascaram um desejo, não de mudar esse estado de coisas, mas sim, usá-los em proveito próprio. 

Mas não é absolutamente o caso da Psychotic Eyes, banda criada em 1999 por Dimitri Brandi (Vocal e Guitarra), Alexandre Tamarossi (Bateria), Valdemar Ferrari (Guitarras) e Leandro Araújo (Baixo). Desde a época de sua formação, a banda sempre buscou algo inovador e sólido, com bases musicais que começam na complexa base do Rock Progressivo, passam pela apurada técnica inerente ao Jazz e acrescem o ritmo da música brasileira. O resultado é um Death/Thrash Metal com uma qualidade acima da média, principalmente se nesse resultado isolemos apenas as bandas criadas dentro do território brasileiro, mas mesmo que extrapolemos nossas fronteiras, ainda assim é um trabalho extremamente criativo e inovador dentro do cenário não apenas do Metal, como do Rock e da musica da atualidade.

Mesmo fazendo uso em alguns clichês do gênero, como o vocal gutural e a bateria soando como um bate estaca em alguns momentos, a Psychotic Eyes consegue estar acima deles. Bem acima, aliás. E o diferencial dessa banda começa no texto de seu release, muito bem escrito e deixando bem claras as intenções e potencialidades dos músicos e demais envolvidos no projeto. "Disse o poeta: o Death Metal é a aquarela em preto e branco mais completa para transformar em arte todos os 'predicados' da sociedade contemporânea". Uma definição ortodoxa do gênero ao qual a banda embora pertença claramente, não permite que seja usada como amarra criativa, armadilha perigosa que muitos artistas sempre caem. 

Atitude correta, decerto, bem como a de estabelecer como característica própria o flerte com a literatura, transformando a cultura adquirida pelos integrantes numa riquíssima sopa cultural. A literatura marca presença na logo na faixa de abertura. “Throwing Into Chaos” cuja letra foi escrita pelo poeta Adriano Villa, responsável pelas letras do renomado projeto “Hamlet”.

Já a segunda música, "Welcome Fatality", é brutal e visceral, com marcas características do Death Metal, mas com uma linha de bateria que demonstra uma habilidade e técnica acima da média, além de algo que me chamou bastante a atenção, com o vocal em si, oscilando entre aquele gutural característico com uma voz mais "normal" e com as frases declamadas no final em português, e que terminam com "Percebo com clareza que a maldade é o anverso da esperança". Versos magníficos, mas que acabam por me colocar dentro daquela eterna pergunta, que até agora não obtive uma resposta satisfatória: porque as bandas brasileiras não cantam em português?

Em seguida, “Dying Grief”, em que, segundo o release, o vocalista Dimitri narra os sentimentos quando da morte do pai. Agora a faixa “Life” é realmente a primeira grande surpresa do álbum, pois é quase uma balada que fala sobre amores perdidos... Algo que poderia parecer inusitado a qualquer banda do estilo, mas que vem de encontro à proposta da Psychotic Eyes, de buscar algo além das fronteiras, além do que ficar presos a um estilo fechado.

Um outro excelente destaque de "Only Smile Behind the Mask" é “The Humachine” que tem letra baseada no livro "O Diabólico Cérebro Eletrônico" do escritor americano David Gerrold, que entre outras coisa escreveu roteiros para "Jornada nas Estrelas",  e marca a participação do mestre em artes, artista multimídia e pesquisador Edgar Franco que adicionou diálogos pós-humanos à faixa, que é com certeza a melhor e a mais bem produzida do disco. Algo para se escutar, duas, três vezes, captando todas as nuances e emoções sugeridas.

Mas é claro que uma banda surpreendente e ousada guardaria algo ainda mais ousado e surpreendente para o final. “The Girl”, um épico, que é segundo Dimitri é uma "desconstrução do clássico de Chico Buarque, “Geni e o Zepelim”, contando a mesma história de uma forma totalmente diferente. Aliás, a "versão" de Chico Buarque também se pode dizer que era também uma "desconstução", pois foi baseada num conto do escritor francês Guy de Maupassant chamado "Bola de Sebo". Então, até mesmo esse fato, que provavelmente era de conhecimento deles, acaba por fazer da musica uma desconstrução de uma desconstrução sobre a qual o próprio escritor francês poderia escrever uma outra desconstrução, acaso ainda vivesse. 

E como o "produto" de um artista não se encerra nele próprio, mas nos fatos e atitudes que o geraram e que dele foram gerados, além também de que não adianta uma artista produzir uma obra prima e deixar guardada no porão, " I Only Smile Behind The Mask" foi lançado apenas virtualmente e pode ser baixado integralmente e gratuitamente através dos endereços da banda na Internet "fica ao fã a decisão de pagar ou não pela música", informa a área de "download" do site oficial. Uma atitude corretíssima em tempos em que todos lamentam a diminuição de ganhos, mas poucos se dispõem a criar alternativas criativas que rompam as barreiras das formas tradicionais de sustentação.

Aliás, quero finalizar este texto, justamente com um gancho de Star Trek, já que citamos David Gerrold e sintetizar numa reconstrução da frase da própria Psychotic Eyes, "arte não tem fronteiras, muito menos econômicas."

E antes que algum "Metal" radical esperneie e estrebuche, afirmando que eu não entendo de Metal, e aqueles discursos radicais inerentes: escutem "I Only Smile Behind The Mask" do Psychotic Eyes e aprendam de uma vez por todas que qualquer tipo de criação precisa de liberdade para transformar e se transformar. E crescer. 



I Only Smile Behind The Mask
Psychotic Eyes
2011

Faixas:
1- Throwing Into Chaos
2- Welcome Fatality
3- Dying Grief
4- Life
5- I Only Smile Behind The Mask
6- The Humachine
7- The Girl

Músicos:
Dimitri Brandi (Vocal/Guitarra)
Alexandre Tamarossi (Bateria)
Douglas Gatuso (Baixo)

Discografia:
Psychotic Eyes (2007)
I Only Smile Behind The Mask 

Internet:
www.psychoticeyes.com (Site Oficial)

07/05/2012

Resenha: Made In Brazil – Virada Cultural São Paulo – 5/5/2012


Tinha ficado ausente da Virada Cultural de São Paulo nos últimos dois anos por achar que a programação que me interessava estava fraca e repetitiva. Mas neste ano, com a novidade do Palco Baratos Afins sob a batuta de um dos maiores incentivadores do Rock no Brasil Luis Carlos Calanca, a coisa melhorou muito. No Palco Rock, agora sob o nome de Palco São João ficaram digamos, os medalhões, as bandas de maior expressão e as internacionais. Ali se apresentariam Iron Butterfly, Mutantes, Titãs, Black Oak Arkansas e outros. E no da Baratos Afins, as bandas proeminentes do que poderíamos chamar de Novo Rock Brasil, como Baranga, Cracker Blues, Carro Bomba, Tomada e outras tantas de qualidade excepcional mas que até agora, acredito que nenhuma delas, com espaço na Virada Cultural. 

Construímos um roteiro possível às pernas e braços e pegamos um trem na periferia da Zona Leste onde moramos e fomos em direção ao centro de São Paulo. Nesse roteiro, acabamos deixando de lado o Baranga em detrimento do Made In Brazil que tocaria no mesmo horário, naquelas escolhas difíceis, mas necessárias.  Chegamos uns minutos antes do inicio da apresentação do Made, que seria o principio da maratona da Virada, numa Avenida São João, quase esquina com a Ipiranga nem tão cheia, com o público ainda chegando e que em poucas horas transformaria o centro da maior cidade da América Latina num gigantesco festival de arte e cultura a céu aberto.

A programação do Made In Brazil seria a apresentação do disco Jack o Estripador que no lançamento tivera nos vocais o grande mestre da voz do Rock Brasil Percy Weiss, também um dos responsáveis por esse Palco. Na primeira parte, a banda apresentou um repertório variado, com Oswaldo Vecchione nos vocais e mostrou uma banda que apesar de ter entre seus membros músicos com inúmeros anos de estrada, como o guitarrista Celso Vecchione e o fantástico Johnny Boy que fazia sua primeira apresentação com a banda, tem uma energia que apenas aos roqueiros de coração e mente conseguem ter.

Comemorando, segundo informação do próprio Oswaldo, 45 anos de estrada de Rock'n'Roll, o Made In Brazil tem em sua atual formação um trio de metais capitaneado por Otavio Bangla, além de duas belíssimas coristas, aliás outra marca da banda, outro guitarrista que infelizmente agora foge o nome, e Ricky, filho de Oswaldo na bateria e sempre apresenta, independente do local ou publico presentes, um show sempre muito bem produzido e ensaiado aos detalhes. Nesta apresentação, além dos músicos da atual formação, as presenças de Johnny Boy nos teclados, Percy Weiss no vocal e Franklin Paolilo, que já foi baterista do próprio Made, do Joelho de Porco e tocou com Rita Lee, entre outros, além da participação também do grande guitarrista Tony Babalu que durante muito tempo fez parte da formação oficial.

Há bastante tempo não assistia uma apresentação do Made In Brazil. Entre o publico, de diversas faixas etárias, a presença de velhos conhecidos das estradas do Rock. E no palco o que presenciamos foi um autentico espetáculo de Rock'n'Roll da mais alta qualidade, sem nada a dever a qualquer banda ou artista internacional. Durante mais de uma hora e meia, o Made apresentou musicas das diversas fases e discos e na segunda, dedicada ao mote do espetáculo, o disco Jack o Estripador, uma série de temas que, segundo informou o próprio Percy, nunca tinha sido tocados ao vivo.

Infelizmente não carreguei nada para anotações, então não lembro e portanto não irei chutar o "set list" apresentado. Mas tenho a certeza de que as musicas tocadas agradaram em cheio a platéia que cantou junto muitas delas, especialmente as mais conhecidas, como a própria "Jack o Estripador", "Quando a Primavera Chegar" e a música que encerrou, já com o palco às escuras, "Minha Vida é Rock'n'Roll". 

Ao final faltaram, em função do tempo determinado, algumas musicas do disco e uma anunciada "jam", com as presenças dos músicos que fizeram participações especiais. Foi "apenas" pouco mais de 90 minutos de show, mas poderia ter sido estendido pela madrugada inteira, tal a disposição dos músicos e da platéia.

Em resumo, foi um dos melhores "shows" de Rock que estive nos últimos anos e mesmo depois de ter comparecido a outros, como Cracker Blues e Carro Bomba no Palco Baratos Afins e ter retornado ali para o show dos "icônicos", como bem definiu Percy Weiss transformado em mestre de cerimônias, do Iron Butterfly, ficou marcado na minha mente. E sou obrigado, neste caso, a ser um tanto piegas e acabar este texto com um chavão: que o Made In Brazil tenha mais 45 anos de carreira e nos traga sempre espetáculos de Rock tão autênticos e tão profissionais quanto este apresentado na Virada Cultural de São Paulo 2012.

06/05/2012

06/05/2012

Barata: Sexo, Poesia & Rock'n'Roll - Uma Autobiografia Não Autorizada

"A Led Slay era uma criança habitando um antigo empório... E minha morada e namorada de fim de semana.. E no auge dos meus 15 para 16 anos um presente, o maior dos presentes que os deuses do Rock, a quem eu começara a cultuar me dariam: "Alice Cooper no Brasil". O real primeiro show de uma banda de Rock por estes lados.. Janeiro de 1974, depois de dormir a porta do Anhembi, ser quase massacrado e ficar a cerca de uns 500 metros do palco e não conseguir ver absolutamente um milímetro da ponta da cauda de Kachina fui pra casa feliz e orgulhoso... E no dia seguinte sentia-me tão bem, que depois do trabalho como continuo do Banco Commercio e Indústria de São Paulo, de paletó e gravata, fui parar num puteiro da Avenida São João... " Trecho da minha autobiografia 'Barata: Sexo, Poesia & Rock'n'Roll - Uma Autobiografia Não Autorizada'", que sai em junho pela Editor'A Barata.


Capa Final