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24/08/2017

Fui

Fui
Barata Cichetto

(Direitos Autorais Reservados)

Nos últimos sete ou oito anos, desde que criei um trabalho de artesanato de livros, que me possibilitou publicar, além de livros de pessoas interessadas, meus próprios livros, venho publicando cerca de dois ou três livros meus por ano. Tiragens bem pequenas na maioria das vezes. As menores giraram em torno de quinze ou vinte, chegando as maiores a cem. A maior parte dos livros "publicados" são de poesia, tendo feito treze nesse período.
A maior parte foi comprada por amigos mais chegados, em eventos que organizo e em redes sociais. Muitos foram doados a amigos, poucos por interesse de mídia. Amigos possivelmente os leram. A mídia, claro, ignorou, da mesma forma que, durante um tempo mandei textos de minha autoria a concursos literários, sem resultado nenhum.
Então fico aqui, nesta manha fria de inverno, depois de uma noite gelada de insônia, pensando sobre os erros que cometi durante cerca de quarenta e cinco anos que me dedico à escrita, e que me fizeram chegar a situação atual, com pilhas e pilhas de escritos, um currículo artístico que engloba atuação em inúmeras áreas, com uma produção constante, intensa e de qualidade, e nenhuma, ou quase nenhuma projeção dentro dos meios artísticos, tendo que me manter à custa de bicos, trabalhos espúrios e uma série de outras artimanhas, enquanto escritores medíocres, moleques e molecas sem não chegam a unha do meu trabalho, seja em vivência, qualidade e quantidade, brilham sobre holofotes, ganham fama e dinheiro.
Foram muitos, decerto, meus erros. Alguns identifico claramente, outros não. Mas decerto meu maior erro foi acreditar na independência.  Independência artística e financeira, sem permitir que o desejo de fama ou dinheiro corrompessem meu pensamento e, por conseguinte minha arte.
Mas agora, beirando aos sessenta anos, sem nada que possa me dar esperanças de ter o lugar que mereço, me entristeço. E é apenas o que consigo sentir. Tristeza.
Tristeza de não ter minha obra conhecida e reconhecida. Lida, vista e ouvida por muito mais pessoas. Isso é o mínimo que merece aquele que trabalha com paixão, dedicação, que faz de cada texto, de cada pincelada, de cada palavra, um artesanato preciso e ótima qualidade, no computo geral. Mas, afinal, a cada dia menos há lugar para mim, num mundo em que a intolerância do politicamente correto cada vez mais amordaça e amarra os braços dos artistas. Morro um pouco a cada manhã gelada de inverno, a cada noite quente de verão. Acreditei no trabalho, na perseverança, na qualidade que vem com o estudo, com a leitura e com o aprimoramento cultural, intelectual. Esperei. Esperei. Esperei. Trabalhei. Trabalhei. Trabalhei. Mas agora escrevo apenas para mim. Por mim. E sobre mim. Sou o que me importa. Tenho que ser. O não ser.
E na minha lápide imaginária, colocada na tampa de uma caixa de madeira onde estarão minhas cinzas, rogo que esteja escrito apenas: "Fui". Fui por ter sido, fui por ter ido.

24/08/2017

17/08/2017

Escriditadores

Escriditadores

Eu sei escrever a mão, em máquina de escrever. E até com pedaço de carvão, se necessário. Sempre fiz isso. E também sei ler. Cartas, livros, revistas e até receitas de remédios e de bolos. Sempre fiz isso. Portanto, se acabar o Facebook, a Internet e até mesmo a energia elétrica do mundo, continuarei a ler e a escrever. Fazia isso às velas, à noite. De dia. Qualquer horário. Então escrevo isso para que fique bem claro que Facebook não faz escritores, com sua fama de quatrocentos cliques. Tenho poucos leitores, mas nenhum me pede livros de graça, não me imploram dedicatórias, nem lotam salas da FLIP por minha causa. São poucos, sim. Mas entendem o que sou. E me respeitam por isso. Eu sou escritor. Respeito qualquer pessoa que leia qualquer coisa minha. E a entenda. Por isso, escriditadores de Facebook, meu mais profundo desprezo à sua vaidade. Fiquem com seus quatroquinhentos cliques que eu fico com meus dez leitores. Eu os respeito, porque são pessoas. Não máquinas. E eles me respeitam pelo mesmo motivo.

Barata Cichetto, 31/07/2017