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31/07/2012

Certificado de Propriedade da Morte


Certificado de Propriedade da Morte
Luiz Carlos Barata Cichetto

Quando nascemos recebemos um certificado de propriedade. Pessoal e intransferível. O Certificado de Propriedade da Morte. Um bem único. E durante toda nossa existência o que fazemos é simplesmente pagar as prestações desse bem. Com sangue, com lágrimas, com suor... Todos os nossos atos servem para quitar esse Certificado. Comer, beber, transar, estudar, casar, trabalhar... São atos que nos aproximam mais e mais de recebermos esse "Documento".

Não podemos transferir, vender, alugar, emprestar. É nosso. Nossa única e real propriedade. A vida? A vida não é nossa propriedade, a morte sim. A vida é o banco em que pagamos as prestações, a quem devemos sua hipoteca. A vida não nos pertence, embora viver nos pertença. Entretanto a morte nos pertence, mas a ela não pertencemos. Schopenhauer dizia que "O amor é a compensação da morte". Um dia perguntei: e a morte, é a compensação do amor? Mas o amor é apenas uma das prestações que pagamos por nossa propriedade. Prestação gostosa de pagar, como o sexo, como as artes... Deliciosas prestações... Mas apenas isso.

E há também os juros que pagamos, por atraso nos pagamento. Não viver plenamente é considerado pelo Banco da Morte como juros por atraso no pagamento. E tal os mais cruéis bancos capitalistas, o Banco da Morte faz contas de juros sobre juros, mora sobre mora que nem o mais sádico matemático é capaz de calcular. O único problema com tal Certificado de Propriedade é que não sabemos o preço exato e muito menos quantas prestações iremos por ele pagar. Pode ser de alto custo àqueles cuja disposição para com a vida for fraca; pode ser baixo custo aos que compreendem o óbvio sobre o Contrato. Mas alto ou baixo tem um custo. E quanto ao prazo, também igual aos mais hediondos banqueiros, nunca terminaremos de pagar, a não ser no fim da vida. 

A Morte, entretanto não tem credores, nenhum senhor ao qual possamos pedir adiamento de prazo, descontos, renegociações. É o dono do contrato e nos entrega o Certificado Final de Propriedade quando bem entende. Sem piedade, sem clemência.

O que é preciso é que encaremos a vida como encaramos os estudos. A Vida é apenas uma universidade paga, onde o diploma é a Certidão de Óbito, ou seja, o tal Certificado de Propriedade. Estude-mo-la, então com afinco, prazer e determinação. Retiremos dela as melhores lições, aprendamos com seus melhores professores, busquemos as melhores notas. A aprovação não a cada ano letivo, mas a cada minuto, cada segundo. As provas não são mensais ou bimestrais, são diárias. Os exames, ora serão muito rígidos, ora muito fáceis. Reconheçamos os melhores alunos de nossas turmas, façamos deles nossos amigos. E busquemos sempre ser os melhores alunos da classe. Somente assim podemos ter uma formatura à altura. Não com festa, não com bailes, não com fogos de artifício, mas com o reconhecimento de que fomos os melhores que pudemos ser nessa escola. E que, mesmo que não recebamos uma placa numa parede, que sejamos lembrados por outros alunos. É nisso que consiste tudo.


30/07/2012

Sobre Um Punhal Enfiado na Garganta de Um Cão



Sobre Um Punhal Enfiado na Garganta de Um Cão
Luiz Carlos “Barata” Cichetto

Hei psiu! Chega mais perto do monitor! Quero lhe contar uma história interessante. É, chega perto! A letra é um pouco miúda? A porta está aberta? Então fecha! Presta atenção, é uma história um tanto complicada, mas acredito que conseguirei contar desde que o telefone e a campainha não toquem. Ok, ok, apóie o antebraço sobre a mesa, puxe a cadeira mais perto. Ler no monitor é complicado, né?! É não dá para dobrar a ponta da página quando quer interromper, nem riscar as frases interessantes. É não tem muito jeito. Querendo saber o que eu quero lhe contar é a única forma. É uma merda ter que ficar puxando a maldita barra de rolagem quando quer ir ao parágrafo seguinte, era mais fácil virar a página e pronto! Nem dá pra botar o computador debaixo do braço e continuar a ler no ônibus a caminho do trabalho. Maldito computador! Cheiro de papel e tinta de impressão é uma delicia, né? Mas tudo bem, presta atenção no que quero lhe contar. É uma história bem interessante. Ao menos acho que é! Não atende o telefone agora, não. Jantou? Almoçou? Então... Diga apenas uma coisa, com tanto texto de humor por aí e você vem bem num site desses? Ah, sei, agora é seu momento de intelectual! As piadas e as fotos eróticas você já viu e leu né?! Tudo bem, ninguém é de ferro e aqui também você não precisa se sentir um imbecil e comprar um monte de jornal só pra ter a desculpa para comprar uma revista erótica. Basta digitar o endereço e pronto: piadas, fotos, filmes... Mas a história... Que saco ler no computador. Computador não foi feito para se colocar texto. Pára de brincadeira, presta atenção! Ah, não sei, não... Acho que você não vai querer escutar minha história... É uma coisa meio pesada sobre filosofia... "Filosofia", você deve estar pensando. "Mas isso aqui não é lugar de filosofia." Tá bom, vou contar outra história... Falar sobre o que? Ah, se você pudesse me dizer sobre o que gostaria de ler, eu bem poderia escrever sobre o que você quer ler. Mas você fica ai, parado na frente desse maldito computador e eu aqui, tentando escrever alguma coisa que possa lhe chamar a atenção. Afinal pulso telefônico é caro e seu tempo é curto. E fico eu aqui te enrolando e não sai texto porcaria nenhuma... Escrever para a Internet, escrever na Internet, escrever sobre a Internet. Que lindo! Preferia falar sobre meu sonho de ontem à noite... Mas ontem à noite eu nem dormi. Então o que seria aquilo? ... Bom, deixa pra lá, acho que você não está minimamente interessado naquilo que eu quero lhe contar. Afinal tem tanto lugar com fotos de mulheres peladas e piada... Tá ok. Então vai dormir, vai! Amanhã você volta aqui e te conto minha história.


N.A. Este texto foi escrito em  9/1/2001, portanto, antes da demolição da Internet com o surgimento das redes sociais....




29/07/2012

O Colecionador (2)


O Colecionador (2)
Luiz Carlos Barata Cichetto

Sou um colecionador. Coleciono angústias, paranoias, frustrações. Coleciono também contas a pagar, poesias escritas em pedaços de papel que nunca irão ler. Sou um colecionador. E também coleciono desamores e incompreensão, estas as peças mais coloridas e doloridas de minha coleção.

Um dia colecionei selos, discos, livros... Tantas coisas que nem cabiam dentro de casa... E aí sai de casa e deixei minha coleção àqueles que tinham a mim como apenas uma das peças empoeiradas de sua coleção. Fui colecionar copos de bebidas, mas nunca os tinha tão cheios que pudessem ser colecionados. E colecionei bebedeiras e amantes bêbadas e dopadas de remédios e drogas. Colecionei tristezas também, porque ninguém coleciona noites sem acordar de ressaca de decepção. Coleção de dores de cabeça, no corpo e na alma. Foi justamente nessa época que aumentou, e muito, minha coleção de dentes quebrados, ossos partidos, mordidas, beijos, chupadas e cicatrizes.

E também colecionei teimosias, medos, receios. Nem cabia na minha estante de colecionador. E todas essas coleções foram catalogadas em forma de poemas, contos, cartas, crônicas. Disseram que eu era um poeta e, portanto tinha que colecionar de tudo, mas a maior coleção que tem um poeta é a de nada. Uma imensa coleção de "nadas".

E comecei então a colecionar letras, depois palavras, transformando a elas em enormes coleções de versos. E juntando minhas coleções particulares de "nadas" às públicas de letras, palavras e versos, terminei como um dos maiores colecionadores de sonhos que a humanidade conheceu.

29/07/2012 – 4:56 da Manhã

E joaok@elemesmo.com.br Entrou no Facebook.


E joaok@elemesmo.com.br Entrou no Facebook. 
Luiz Carlos Barata Cichetto
- Conto -

E joaok@elemesmo.com.br entrou no Facebook. Não, não da forma como todos diariamente entram naquela rede social.  joaok@elemesmo.com.br entrou efetivamente no Facebook. Se espremendo, primeiramente enfiando a cabeça, depois o restante do corpo por aquela minúscula caixa de texto,  joaok@elemesmo.com.br conseguiu apertar com a ponta dos dedos dos pés as teclas que formaram asteriscos misteriosos na caixa de  texto abaixo de sua cintura.

E então,  joaok@elemesmo.com.br entrou no Facebook. Com as mãos apagou um recado malcriado de sua ex-namorada que insistia em atormentá-lo.  E começou ele,  joaok@elemesmo.com.br a passear pelas ruas brancas com calçadas azul claras onde todos aqueles 999 amigos moravam. e visitou um a um, todos eles. Ficou sabendo que a maior parte deles mentiam seus nomes, outros a idade, outros sobre seus relacionamentos e sobre seu próprio sexo. Mas joaok@elemesmo.com.br ficou contente em conhecer todos os seus verdadeiros amigos. Estavam todos ali, ao alcance de suas mãos, muito mais que ao alcance do apertar fremente do botão do mouse. Estavam ali, todos eles.

E joaok@elemesmo.com.br entrou no Facebook e escreveu com a caneta azul que trazia no bolso, recados  no retângulo branco que existia diante das portas das casas de seus amigos. E não era digitado, mas escrito. E joaok@elemesmo.com.br  estava feliz, porque tinha finalmente conseguido entrar no Facebook. E antes de decidir visitar aquelas comunidades silenciosas, decidiu dar uma bela olhada nos seus álbuns de  fotografias. E elas estavam todas elas ali, seguras em suas mãos, amareladas algumas pelo tempo. E em algumas joaok@elemesmo.com.br  escreveu com sua caneta azul, outras rasgou de  raiva, outras beijou. Algumas escondeu no bolso da calça e umas tantas decidiu simplesmente ignorar.

E joaok@elemesmo.com.br estava feliz, embora nenhum de seus 999 amigos tenha percebido sua entrada, sua chegada no Facebook. Estavam todos muito ocupados com seus outros 666, 777, 123,,,  amigos e nem tiveram tempo de perceber que joaok@elemesmo.com.br  estava ali, fisicamente, integralmente. E joaok@elemesmo.com.br começou a ficar preocupado. Aqueles 999 amigos de joaok@elemesmo.com.br pareciam um tanto estranhos assim de perto. Até mesmo sua ex-namorada, que joaok@elemesmo.com.br conhecera pelo Facebook, parecia muito esquisita ali, em três dimensões. Não eram apenas altura e largura em pixels, mas a terceira dimensão era o que mudava tudo. E a maior parte dos amigos de joaok@elemesmo.com.br não tinha a profundidade. Apenas altura e largura em pixels.

Decidiu então procurar novos amigos, pelas ruas brancas emolduradas de retângulos arredondados azuis e andou por veredas que nunca se aventurara. Afinal, existe uma diferença agora, pois joaok@elemesmo.com.br havia entrado no Facebook.... Mesmo. Mas agora não era tão simples e joaok@elemesmo.com.br  não encontrou ninguém realmente com qualidades.... Suficientes para ser seu amigo ou sua amiga. Não iria, portanto joaok@elemesmo.com.br  atingir o numero máximo de amigos.

E quando percebeu que tinha se passado muitas horas ali dentro, joaok@elemesmo.com.br  resolveu que seria hora de sair do Facebook. E passou então, freneticamente a procurar, nos céus e nos espaços em cima de sua cabeça a palavra "Sair".  Mas não havia, não tinha e não existia. Acima de sua cabeça não existia uma nuvem de um azul mais intenso com aquela palavra. Então joaok@elemesmo.com.br ficou ali, caminhando eternamente pelas ruas brancas com calçadas azul claras, visitando amigos que nem percebiam sua presença. E dia após dia, noite após noite, permaneceu joaok@elemesmo.com.br ali dentro do Facebook. Sempre procurando a palavra "Sair", no céu acima de sua cabeça.

28/07/2012

O Rock Não Errou! - Crônicas Roqueiras


O Rock Não Errou! - Crônicas Roqueiras

“Dizem que o Rock andou errando / Não valia nada, alienado / E eu aqui na maior das inocências / O que fazer da minha santa inteligência / Será que esse é o meu pecado, porque / Errou, errou, errou, errou / Eu sei que o rock errou / Acho que é melhor passar a borracha / Ninguém é perfeito você não acha?/Nem mesmo o bruxo da vassoura / Música do Planeta Terra / Cantiga de guerra / Canto, espanto e fico rouco / E ainda acham pouco porque / Errou, errou, errou, errou / Eu sei que o rock errou / Vivemos num país bem revistado / Uma nova volta ao passado / Muito louco anda solto / De colarinho, é claro / Se eu respiro inspiro mais cuidado / Desse pobre coitado, porque / Errou, errou, errou, errou / Eu sei que o rock errou”

Muito mais interessante do que eu ficar aqui, tentando escrever uma apresentação a este conjunto de textos sobre Rock, escritos e publicados nos ultimos 10 ou 12 anos, acredito que seja deixar essa letra do Lobão. E estou certo que quanto ele canta que o Rock Errou, é apenas um jogo sonoro, uma brincadeira com "and roll"... Nada mais. E arremato: o Rock não errou, de forma alguma. Apenas num determinado momento tomou o atalho errado, indicado por uma placa sacanamente colocada à beira da estrada por algum ganancioso ou preguiçoso. Mas mesmo assim, foram apenas alguns que pegaram tal atalho, porque os verdadeiros apreciadores do Rock como movimento mais que musical, mas social e sempre de vanguarda, continuam a trilhar o caminho principal. Boa leitura!

Luiz Carlos Barata Cichetto
Inverno 2012

Pedidos: http://abarata.com.br/livros.asp?secao=L&registro=2
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Pizza, Poesia & Rock'n'Roll
Luiz Carlos Barata Cichetto

Alguma coisa acontece em meu coração... mas a esquina da São João com a Ipiranga não é mais a mesma! Caetano não é mais o mesmo, os Mutantes... mudaram e se mudaram. A Augusta está cheia de putas e puteiros e não existem mais shows de Rock decentes. O muro caiu, o socialismo acabou... e agora José? E agora João? E agora você? Acreditávamos em sonhos e agora são os sonhos que não acreditam em nós... A gente continua com fome de paixão... Acreditar em quê? Sexo, Drogas e Rock'n'Roll? Acredito em Pizza, Poesia e Rock'n'Roll... Janis, Lennon, Raul... Estão todos mortos e os fracos estão todos vivos... Eu inclusive! Comamos a Santa Ceia da "ingnorância"... Pobres crianças sem esperanças e empregos e sonhos... O Rock está morto! Morreu junto com Deus! O sonho acabou, a festa acabou... E agora José? E agora John? Apanhem os pedaços de cérebro espalhados por Nova Iorque... Na frente do Edifício Dakota... Quero cantar, quero contar, uma história bem antiga, caminhando e cantando e seguindo a canção... Somos todos iguais braços dados ou não (?) Não, não somos todos iguais, braços dados ou não! Abraços dados ou não... O que aconteceu com a Poesia? Ah, deixa pra lá... E com a Pizza? Quero a minha com mortadela... Estou enjoado hoje! O estômago dói de fome e eu não como ninguém há muito tempo... Morri e nem sei em que mês... Metrô Linha 743... Raulllllllllllllllllllllllllll! Comeram meu cérebro no jantar de ontem à noite e eu nem percebi... Ah, quanta coisa queria falar, mas minha língua está cortada... Então, escuta aqui... Cinco e meia da manhã e eu não sei se o dia amanhece hoje e se amanheceu ontem... Insônia terrível essa! Queria alguém agora deitada em meu colo, e eu lhe fazendo cafuné... E ela chupando meu pau! Credo, que cara nojento! Quero carinho e sexo e não tenho o que nem quem comer... Então escreve ai! Meu caderno de anotações está cheio de letras de música, de poesias e rabiscos. Pára com isso! Quero minha pizza com molho de menstruação! Escrevo poesias para não enlouquecer... Me masturbo embaixo das cobertas para não esquecer... Que existo. Já tive amores sim! Existe uma mulher que está comprando uma escada para o céu e eu nem sei onde isso vai dar... Quem vai dar? Pra quem? Pra mim, que é bom, ninguém quer! Esqueci quem sou e nem lembro porque... Mas por quê? Existiam putinhas bonitinhas na esquina da São João com a Ipiranga... Hoje tem apenas um bando de camelôs e Caetano nem Gil andam por lá apenas os novos baianos... O que aconteceu com a música, meu Deus do Céu? Do Céu? Meu? Deus? O que aconteceu com meu Deus? Ele fugiu de mim igual minha mulher? O que esperar de mim? Alguém espera por mim? Minha mãe? Onde anda? Sonho que se sonha só... É só um sonho... Mas ontem eu tive um pesadelo, quem quer dividir comigo? Pára com isso, cara! Todos os meus pensamentos estão sendo vigiados, existe um americano em cada esquina e em cada esquina da minha angústia, uma cançãozinha antiga me faz lembrar minha paixão! Ah, mas existem ainda a Pizza, a Poesia e o Rock'n'Roll! Ah, quanta coisa eu queria falar, escrever, mas arrancaram meus dedos! Ainda bem, senão eu ia enfiá-los no seu rabo sujo! Foda-se, amigo! Meus sapatos estão gastos, minhas calças rasgadas e eu nem sei o que pensar! Espera um pouco ai... Vou ali na esquina me suicidar e já volto! Patas de baratas arranham meu cérebro e hoje eu nem comi nenhuma... Aceita um cafezinho? As paredes escutam meus pensamentos e surdas são as mulheres! Paredes? Os sonhos não me deixam dormir... E a esquina da São João com a Ipiranga... Onde fica mesmo? O que fizeram com o Rock? O que fizeram com a Poesia? O que fizeram com a Pizza? O carteiro entregou uma carta... de baralho! Caralho!!!!!!! Tem certas rimas que são perigosas! Ah, como eram gostosas as putinhas da São João! E as Pizzas, então....! A Poesia... Um dia encontrei umas folhas datilografadas com poesias no chão da São João... Seria alguma Puta-Poeta? Ah tinha, sim... a Regina era uma puta que tinha uma buceta tão quente que queimava a cabeça do pau! Quer poesia melhor que essa! Aprendi muito com as putas da São João.... Caetano comeu alguma delas? Acho que não! Lembrei de Henry Miller... sei lá, esse jeito de escrever! Foda-se ele também! O velho Buk deve estar se mijando de rir disso! Tomando um porre com algum anjo! Quando eu morrer... morrer.... morrer... Eu tenho um sonho... Então passa manteiga nele! Estou nu na chuva e na escuridão e nem um Rock pra acalmar minha ira! Garçom traz uma Pizza, de Mussarela com bastante azeitona! E um guardanapo de papel pra eu escrever minhas mágoas e depois limpar o cu! Bobagem! Chama a polícia! Prendam o garçom e o poeta! Tirem esses pregos da minha mão que eu não sou Jesus! Ah, Madalena! Não conheci nenhuma puta com esse nome! As putas, coitadas, nem têm nomes! Ângela era uma puta por quem me apaixonei! Onde anda? Com certeza é uma puta-velha ou uma puta-morta! Ao vencedor, as baratas! "Eu desisto, Não existe essa manhã que eu perseguia" O dia nem clareou, as putas estão indo pra casa! E tudo o que eu preciso é de Pizza, Poesia e Rock'N'Roll!

27/07/2012

A Sabedoria e os Seres Silenciosos


A Sabedoria e os Seres Silenciosos
Luiz Carlos Barata Cichetto

"Sábios verdadeiros são aqueles que dão o que têm, sem maldade e sem segredo."  (True sages are those who give what they have, without meanness and without secret.) - Provérbio Egípcio

Acredito que os sábios verdadeiros seriam aqueles que conseguem dar até o que não tem... Mas como (será que endoidei?) alguém poderia dar o que não tem? O sábio verdadeiro busca o que não possui, mas não toma posse do que encontrou e entrega sem maldade nem segredo, porque o verdadeiro sábio sabe o sentido pleno de não ter vaidade e conhece plenamente a humildade.

Há muito tempo é tido como sinônimo de sabedoria o silêncio, a mudez, a quietude. Existem tantas frases "célebres" falando sobre a sapiência do silêncio, mas que se fossem de fato seguidas ao pé da letra, não passariam de geração a geração, transportando com elas os nomes de seus autores. Certo que a maioria se refere a uma espécie de silêncio "necessário" em determinadas situações, o esperar pelo momento “correto” de lançar a palavra “correta”. Mas a mim, o silêncio nunca foi sinal de sabedoria, muito pelo contrário. Normalmente as pessoas quietas são rancorosas, medrosas, hipócritas e sempre, invariavelmente, tem segredos escondidos. Normalmente são cobras que ficam enroladas esperando apenas o momento “certo” de dar seu bote. Muita gente se finge de sábio com uma mudez que disfarça a falta de conhecimento, medo de expor seus pensamentos ou simplesmente por preguiça. São cínicos, isso sim, todos eles.

O silêncio nunca é realmente necessário, a não ser aos hipócritas, aos medrosos e aos incultos. "Guarda o silêncio e o silêncio te guardará." Essa frase é do mais puro cinismo, pois em outras palavras significa: "Tudo o que você disser pode e será usado contra você num tribunal". Então, o Ser Silencioso se cala, com medo de que suas palavras possam ser usadas contra ele. E de fato serão. Sempre são. Nossas palavras sempre são usadas contra - ou a favor - de nós mesmos. O Ser Silencioso sempre tem medo do julgamento? Talvez não, talvez seja apenas o medo de se expor, por insegurança ou falta de conhecimento. 

Mas no meio de uma multidão ou atrás de um monitor de computador, entretanto, essas pessoas tendem a tagarelar, gritar. Pois em ambas as situações a sensação de impunidade lhes encoraja. Portanto, chego a conclusão de que o Ser Silencioso nada mais é de que um covarde, nunca um sábio, pois este conhece e tem segurança de suas palavras, tem prazer em compartilhar seus conhecimentos e através da conversa, complementá-los e absorver outros, enquanto os primeiros apenas, na hipótese mais banal, apenas sugam conhecimentos, sentimentos e dados, guardando-os para usar como uma arma "no momento certo".

E acredito então que, ao contrário do provérbio egípcio, não nos basta dar aquilo que temos, o que pode ser apenas nosso silêncio. Mas é necessário, através do falar e do escutar - nem importa em que ordem porque o que escutamos é resultado daquilo que falamos e vice-versa - buscarmos o que não temos e quando conseguirmos não guardarmos apenas ao nosso prazer e uso pessoal, mas compartilhar, entregar sem maldade nem segredo, mas com humildade. E sem a vaidade e a crueldade dos Seres Silenciosos.

27/07/2012

25/07/2012

Dia do Escritor


Dia do Escritor
Luiz Carlos Barata Cichetto


Garanto que eu não sabia que 25 de Julho era o Dia do Escritor, no Brasil. Mas durante a ultima noite, mais uma de insônia, comecei a pensar sobre livros e escritores... Fiquei a imaginar quantos livros até agora na existência da humanidade teriam sido escritos, quantos escritores existiram. Pensei sobre quantos livros foram rasgados, abortados, incendiados em atos de barbárie e ditadura... Enfim, qual seria a estatística literária da humanidade?

Arte nada mais é que uma forma de amor. A melhor delas... Arte é sempre expressão de amor... de alguma forma... Aos dançarinos, a linguagem - nem tão oculta - é a dança; aos músicos a música; aos pintores a pintura. E aos escritores a escrita... Decerto, são TODAS as ARTES, linguagens do interior mais profundo do ser humano. Chamem de alma ou do que preferirem, porque até aos ateus que não acreditam em alma, a ARTE é a mais profunda expressão do sentimento humano.

Acredito que logo a seguir ao desenho, tida como a primeira expressão artística do ser humano, a segunda foi a de escrever. E das pedras das cavernas ao papel e deste aos bytes dos computadores, cumpriram os escritores a função maior de transmitir emoção, cultura, entretenimento... Da palavra falada transformada em linguagem literária, letras formando palavras e estas formando sentenças, parágrafos, páginas, capítulos. Folhas de papel que formaram toneladas e toneladas de livros e revistas e depois toneladas de bytes, megabytes, gigabytes de arquivos de texto.  Contos, crônicas, romances, ensaios, fábulas, tratados, epopéias, novelas, peças de teatro, poemas... Escritos, enfim.

E fiquei também a imaginar uma sociedade humana sem os livros. Mas não da forma como na distopia de Ray Bradbury, sobre livros sendo proibidos e queimados, mas numa sociedade que os desconhecesse. E penso que se não fossem os livros e os escritores a escrevê-los, a humanidade estaria ainda habitando em cavernas, contando uns aos outros verbalmente as mesmas e velhas histórias sobre caçadas de dinossauros.

O fascinante mundo dos riscos tortos que formam as letras que se amontoam e se unem pelo desejo de serem compreendidas. Sozinhas, as letras são apenas riscos tortos, mas juntas formam palavras que também cumprem seu desejo de compreensão e buscam as outras... Feito os seres humanos, de início rabiscos tortos em forma de espermatozóide, as letras buscam o crescimento e a compreensão. E tal como as letras os seres humanos isolados não fazem sentido, buscando nos outros a complementação de seu próprio sentido... E juntos formam famílias, cidades, planetas, galáxias... Retratados por escritores...

O Escritor cria e destrói. De mundos a amores. Lendas e mitos, verdades e mentiras, sentidos e sentimentos, questionamentos e certezas. Assim é feita a existência de um escritor, que gera sem ser pai, gesta sem ser mãe; mata sem ser assassino, morre sem estar morto; condena sem ser juiz, prende sem ser polícia; liberta sem ser herói e vive sem viver.

Então fico aqui a pensar, transformando meus pensamentos em palavras, sentenças, apertando as teclas negras com letras desenhadas em branco, sobre a função e a sina do escritor, sobre a necessidade que a atual sociedade lhe rouba diariamente, sobre que caminho seguir, sobre que linguagem usar... E pergunto: afinal o que é e o que faz um Escritor? E, principalmente, do que é feito um Escritor?

Quando eu, ainda na adolescência, matraqueava uma máquina de escrever o tempo todo, e até mesmo atrapalhava seu sono, minha mãe dizia aos parentes que eu era escritor. Mas não tardou para que ela compreendesse o duro caminho, de preconceito e de dificuldades que eu encontraria. E começou então a ignorar minha faceta. A necessidade, mãe dos pescadores e das putas, tratou de empurrar-me a escritórios empoeirados e as lides literárias foram definidas como desnecessárias e, portanto, deixadas de canto. O feijão e o sonho, o dilema de Orígenes é o dilema da maioria.

Então acabo pensando sobre os escritores bem sucedidos financeiramente, aqueles que alimentam o ego nas prateleiras de livrarias, nas entrevistas de programas de televisão e no fardão da academia. São escritores ou comerciantes de letras? Portanto, o que tenho eu, o que temos nós, a maioria que não consegue o feijão com o suor de seu sonho, a comemorar?

Bom Dia do Escritor! Bom dia, Escritor! Que a terra lhe seja leva e a pena nunca lhe pese na mão.



25/07/2012

23/07/2012

Energia Poética


Energia Poética
Luiz Carlos Barata Cichetto

Em matéria de Poesia, ou mesmo de Arte de uma forma geral, não tenho nenhuma presunção, mas também nenhuma dúvida a respeito, de que a sensibilidade maior não está na antena, mas sim no receptor.

É sim, a Poesia, uma forma de energia, pairando no ar, fruto de todas as energias poéticas transformadas por outros durante a existência da humanidade.

Acumulada ao longo dos tempos, a Energia Poética é captada por uma antena chamada Poeta e retransmitida. E a sensibilidade dele acaba aí. A partir desse momento, cumpre a obrigação a essa antena de pegar essa energia, transformar em algo amalgamado com suas próprias experiências e sentimentos, transforma-la em uma forma de linguagem e retransmiti-la. 

E apenas a partir disso que começa realmente a poesia a acontecer, pois quando o leitor, ouvinte, observador a recebe, e nela coloca o componente essencial, seu sentimento, é que ela se completa. Sem esse componente, o sentimento do receptor, não existe a Poesia, ou ela é perdida entre as energias outras que pairam sobre a cabeça e ao redor dos seres humanos, tornando-se totalmente sem sentido. Sem sentido, em ambos os sentidos da palavra sentido.

E então cabe ao receptor transformar toda essa energia poética formada pela mistura de todas as outras que lhe chegaram e juntar a todas aquelas contidas em seus próprios sentimentos e a devolvê-la, agora com a função de antena retransmissora, ao ar.

E tal energia será novamente captada e transformada em poesia por outra Antena-Poeta que a transformará... Assim é o ciclo eterno da Poesia, em que o receptor é o elo fundamental e de sua sensibilidade depende a existência e a continuidade da Poesia, e da própria Energia Poética da qual é formada a alma humana...

É a poesia pura energia... Energia Poética. A mesma energia da qual é formada a alma do ser humano. Não há nada de esotérico ou divino na poesia, não há nada que possa ser chamado de estranho ou mediúnico. A Poesia é energia... Pura!


21/07/2012

Trilogia do Amor Mortal



Inversões
(Por Paloma Fonseca)
pam2003@terra.com.br

Arte da Capa: Barata Cichetto Sobre Quadro de Gabriel Fox
"À primeira vista, a coletânea "Impessoal e transferível" traz poemas amorosos e eróticos, se confiarmos na capa estampando a figura de uma mulher seminua e em posição sexy. Mas, antes, trata-se de poemas que são a inversão do amoroso e do erótico, e explico isso mais adiante. O próprio título da coletânea é uma inversão da expressão 'pessoal e intransferível', usada para designar algo que é particular e não passível de ser alienado por outro. A intenção do autor, então, já está manifesta: ele escreve sobre algo que não é meramente pessoal, e que, sim, pode infectar qualquer um de nós. 

O quê, então, motivou o autor a se expressar pela poesia? Voltemos à capa: a mulher traz uma tarja preta nos olhos, aquela mesma usada para esconder a identidade de menores infratores, cujas imagens são expostas nos meios de comunicação. Não conhecemos quais a reais intenções do editor ao usar esse recurso, mas ele é sugestivo, porque a mulher dos poemas cometeu infrações. De que tipo? Eu diria do tipo sentimental e emocional. Ela cortou o barato do 'eu' poético, seja pela traição, pela indiferença, pela falta de carinho, pelo fato de não ter lido os poemas dele, todos esses delitos anunciados em "Leve um homem ao matadouro...", a primeira parte do primeiro da série de 18 poemas.

O poeta está inconformado, pois não pode expressar seu desejo, sua vontade, seu ardor, sua paixão pela mulher amada. Ela tolhe, pelo desdém, pela indiferença, pelo desprezo, todo tesão que quer sair, se libertar em forma de beijos e carinhos, saliva e esperma. O poeta, então, sente-se preso, e só enxerga na morte - isso mesmo, na morte - a saída dessa prisão. A morbidez atravessa a série de poemas de cabo a rabo, perseguindo freneticamente o autor. Por isso, considerei "Gosto da morte" o poema-síntese. O duplo sentido de 'gosto' - como paladar (gôsto) ou como estado de apreciar (gósto) - reforça o que ficou demonstrado nos outros poemas: a presença incessante da morte. Junto com a traição, constituem os temas recorrentes tratados pelo auto-denominado 'Arquíloco da era moderna'.

Em determinado ponto, mais exatamente o primeiro verso de "O poder do amor e da criação", o autor demonstra o seu próprio cansaço pela recorrência a tais temas:

'Agora chega! Não falo mais em morte ou em traição!' 

Ledo engano... Pois verificamos que a intenção do verso não corresponde necessariamente ao título, já que o amor em pauta é aquele pelas 'putas de lua'. Eis que o poeta foi desviado para o caminho sujo, em contato com as prostitutas, porque ele mesmo está puto da vida, não consegue conter a sua amargura, a ponto também de comparar a amada a uma puta ("Eu te amo, sua puta!", "Fuck Yourself", "Porca"), preferi-la morta ("Morta") e de nomear a dor que sente no peito pelo nome dela, a fim de aprisioná-la em seu coração ("O nome da dor"). Por isso, não podemos afirmar que são poemas amorosos e eróticos, já que toda amorosidade vai se esvaindo e o erótico resvala na tensão. Assim, o leitor não pode esperar singeleza ou doçura nos versos. Afinal de contas, o 'eu' poético foi traído, ludibriado, maltratado...   

"Gosto da morte" expressa a inversão das inversões, já que, no poema, não é mais a mulher amada o objeto de desejo, e sim, a MORTE. O arremate final do poema contém uma súplica àquela que tem um belíssimo rosto, àquela que não trairá nunca, jamais, àquela que tem o gosto da liberdade e do tesão: 

'Eu lhe digo, me liberta, Senhora, me liberta da prisão!'

A leitura dos poemas pode não ser confortável, mas atire a primeira pedra quem nunca se encontrou em posição desconfortável, angustiante, desoladora, provocada por uma dor amorosa que agrilhoa. Não gosta de compartilhar sensações mórbidas e de dor? Diga-me então porque Arthur Rimbaud, Edgar Allan Poe e Augusto dos Anjos continuam sendo lidos. Ou pelo menos leia a "Segunda Epístola aos Hipócritas", ou simplesmente escreva um poema, a exemplo de Danny C. Ferrice, o nosso ilustre autor fictício, e tire-o da gaveta, como afirma Sérgio Sampaio na epígrafe da coletânea. Quer queira quer não, quero que saibas que a morte acomete a todos - ela é impessoal - e a sensação relatada nos poemas é transferível, impregna a mente e os sentidos."

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Pedidos do Livro: barata.cichetto@gmail.com
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De Amor e De Sombras
Luiz Carlos "Barata" Cichetto
barata.cichetto@gmail.com
De: Impessoal e Transferível
Publicado no Livro: "Trilogia do Amor Mortal" - Editor'A Barata Artesanal - 2012

A minha sombra é de muitas e muitas cores
Como minhas dores são de muitas sombras
A minha dor é de muitas e variadas cores
E eu não sei porque então te assombras.

Cores e dores são do tempo sombras foscas
Tempos de traição e loucura, elos partidos
Amores e dores são sempre rimas toscas
A poetas cujas sombras são sonhos perdidos.

O que resta de mim são apenas sombras sem cor
Desfilando pelas paredes, pelos pisos e escadas tortas
Sem desejo, sem vida, apenas um arremedo de cor
Sombras a quem dou a vida, portanto sombras mortas

O que restará quando meu corpo não fizer sombra fútil?
Serei apenas a sombra do que fui, mas o que fui, criança?
Apenas a sombra de um ser humano, um poeta inútil?
Ou teria sido apenas uma sombra que projeta esperança?

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Pedidos do Livro: barata.cichetto@gmail.com
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18/07/2012

Herança


Herança
Luiz Carlos Barata Cichetto

Herdei a tagarelice de minha mãe, o gosto por contar história de meus antepassados caipiras e os gestos espalhafatosos dos ancestrais italianos. Gosto de contar histórias, particularmente as minhas, então muita gente acha que sou um ególatra. Mas minha mania de estar sempre contando histórias tem muito mais a ver com uma necessidade de estar presente nas histórias alheias, de ser de alguma utilidade nas histórias alheias.

De certa forma é sim uma espécie de dependência emocional. Uma dependência quase que química, orgânica de gente. Preciso estar perto de gente, mesmo dos idiotas, mesmo dos chatos, mesmo dos incultos, mesmo das putas, dos pederastas, das santas e das promiscuas. São pessoas e o melhor de tudo isso é que são histórias. 

Farto material a um filósofo amador, formado nas mais incomodas cadeiras em forma de guias e sarjetas das ruas e cujo quadro negro são as costas das minhas amantes e as páginas dos livros. As lições escritas numa espécie de tatuagem secreta que apenas eu consigo decifrar e que formarão um livro de fabulosas histórias.

E a tagarelice passada a mim por herança genética é auto-sustententável e enfim, um culto ao meu ego, pois não tagarelo com o mundo, mas comigo mesmo, com intenção de não esquecer de mim, nem de minha própria história.

17/07/2012

Foto tirada nas Lojas Pirani, São Paulo, 14/11/1959, por ocasião do meu batizado católico, e recentemente batizada com o nome de "Olhar Atávico", pelo amigo Orlando Lazaretti


17/07/2012

Programa "Momento Rocktime # 49"


Programa Rocktime, do amigo Jackson Rocktime, falando entre outras coisas, sobre meu livro "Barata: Sexo, Poesia & Rock'n'Roll". Assistam, comentem e compartilhem. O programa Rocktime vai ao ar também pela TV em Ponta Grossa e divulga sempre, alem de noticias do Rock Mundial, bandas e artistas independentes. Vale a pena acompanha o programa inteiro!!!


Vida Útil ou A Morte Como Utilidade


Vida Útil ou A Morte Como Utilidade
Luiz Carlos Barata Cichetto

A Universidade da Vida, uma escola cara, onde o único e possível diploma é a Certidão de Óbito. Espero que minha formatura ainda demore um pouco, pois existem muitas lições ainda a ler e aprender nas costas das mulheres e nas bocas dos profetas. Sim, dos profetas, mas não daqueles entronizado livros sagrados, em bancos de academia. Não esses pouco interessam na atualidade. Interesso-me francamente pelos profetas não de mantos e togas e túnicas, mas pelos profetas de roupas rasgadas e sujas, pelos profetas de dentes quebrados, de feições marcadas pela dor de um cotidiano injusto. 

Ah, o cotidiano é sempre injusto com todos, pois emburrece os seres humanos, os torna frágeis e inúteis a si mesmos. E a pior coisa que um ser humano pode ser é inútil a si mesmo. Aqueles pregadores da falsa caridade detestam tal forma de pensamento por ser ela um contraponto à mentira pregada pelos dogmas cristãos e religiosos de uma forma geral. A caridade é a pior forma de humilhação, por tornar as pessoas dependentes e inúteis a si mesmo e consequentemente aos demais.

A primeira coisa que um ser humano precisa é ser útil a si mesmo. A utilidade ao próximo só será válida se a auto-utilidade estiver completa. E de que forma podemos ser úteis a nós mesmos? Primeira sendo verdadeiros conosco. Não aceitando regras inúteis nem tomando atitudes que sejam contra nossos próprios princípios íntimos. Segundo, analisando todas as experiências que nos foram oferecidas e tirando delas o melhor em nosso próprio proveito. Temos sim que ler bons livros, pois serão eles que nos trarão as experiências e formas de pensamento que serão o amálgama de nossa personalidade. Mas não adianta também apenas ler livros, é preciso viver nossos próprios livros. E fazer uma mistura de todas as coisas, bater todos esses componentes em um liquidificador mental, coar numa fina peneira ética e depois beber até fartar. Então assim estaremos sendo úteis a nós mesmos. E apenas depois disso, poderemos nos dedicar a tentar ser de utilidade a outras pessoas. Um filósofo, um político, um artista, um padre ou pastor religioso de qualquer ideologia ou crença deve ser antes de qualquer coisa, útil a si mesmo antes de se dedicar, antes de pretender, ser de utilidade aos outros. Esta é a grande falha, o grande erro das instituições todas, das religiosas às políticas, passando pelas artísticas e filosóficas: pretender ser de utilidade a alguém sem antes obter a certeza da utilidade a si mesmo. Essas pessoas na maioria das vezes têm teorias demais e vivência de menos, têm teses demais e tesão de menos, têm vontade demais e desejo de menos. E pretendem ser de alguma valia, alguma utilidade, para o restante da humanidade. E as pessoas, a massa burra, dominada pelo cotidiano emburrecedor, inseguras de suas próprias e íntimas crenças se deixam abater, dominar e principalmente serem de utilidade a esses usurpadores da utilidade alheia. Serão então úteis a eles, serão de utilidade pessoal a eles e nunca a si próprios. E em outras palavras, serão escravos sem correntes e bolas de ferro. Todos, independentemente de cor, raça, religião etc., estarão sendo de utilidade a seus preceptores, que, feito morcegos vampiros alimentados do sangue útil alheio.

A obrigação do ser humano é a de ser útil a si mesmo, não aos outros, desde o sua concepção. Isso significa que, ter ou não um filho, não deve ser uma decisão tomada por fatores como ego, interesses pessoais, financeiros ou sociais. Muito menos com a execrável pratica de "salvar casamentos". Um filho deve ser pensado com relação à utilidade ao próprio. E nada além disso, pois a utilidade dele aos outros, será construída a partir da edificação de sua própria utilidade. Mas é claro que nunca ou quase nunca isso ocorre e o resultado é a sociedade como um todo que colhe, com seres totalmente inúteis a si próprios e consequentemente a sociedade e a humanidade com um todo.

E do mesmo jeito que o nascimento, a morte de um ser humano deve ser de utilidade. E podem pensar, "Como a morte de alguém poderia ser de utilidade a ela própria? Esse sujeito é maluco!" Recorram a parágrafos anteriores onde coloco a necessidade imperativa de que um ser humano necessita ser de utilidade primeiramente a si próprio e depois aos demais. Então, diante disso, a morte deve ser cercada de utilidade. De que forma? Da forma de não ser inútil e principalmente prejudicial, pois uma coisa de extrema inutilidade é uma coisa totalmente prejudicial. E não ser inútil nesse caso significa: sem corpos apodrecendo e derramando o necrochorumem nos lençóis freáticos e ocupando espaço vital a moradia ou cultivo de terra; sem túmulos suntuosos totalmente inúteis, sem despesas inúteis de pompa social de velórios, coroas etc. Por qualquer ponto de vista, a morte deve ser tratada com simplicidade, aí sim será de utilidade. 

Acaso os governos do mundo fossem o que definem ser, laicos, de fato, todos os cemitérios seriam extintos e todos os corpos seriam cremados. Isso depois de retirados todos os órgãos ainda úteis aos vivos e totalmente inúteis aos mortos. Está aí a utilidade da morte, e qualquer ser humano que pretenda ser útil durante toda a sua vida deve incluir tal atitude perante sua futura morte em suas decisões. De fato, cemitérios são mantidos por fatores como a religião e os costumes, criados justamente para que cada ser humano se considere inferior e inútil, justificando suas próprias necessidades.

Não existem estados laicos, ao contrário do que pregam as cartas máximas da maioria dos paises ditos democráticos, pois ser um Estado Laico significaria não apenas deixar de professar oficialmente uma determinada crença, ou não ter símbolos religiosos exibidos em instituições públicas, mas principalmente não admitir leis influenciadas por religiões, crenças e dogmas. Um Estado laico de fato e de direito não pode aceitar orientações religiosas de nenhuma espécie, sob nenhum tipo de desculpa. Um Estado laico não pode estar atrelado a uma moral religiosa, seja cristã, budista ou qualquer coisa semelhante. E historicamente é o que temos, com os governos e suas casas legislativas sendo ainda reféns principalmente da hipócrita moral cristã. Um verdade estado democrático não pode estar debaixo de regras de moral religiosas, debaixo de dogmas de nenhuma espécie. Ele deve sim, permitir e proteger o direito a que cada um use sua religião da forma que quiser, da forma que lhe for útil. Mas desde que essa “utilidade” se restrinja ao caráter pessoal e intransferível.

Um Estado atrelado a qualquer desejo religioso é um Estado totalmente inútil. E reafirmo: uma coisa de extrema inutilidade é uma coisa totalmente prejudicial... Pior que isso, chega a ser criminosa. Em outras palavras, eu somente confiarei no Estado a partir do momento em que ele for, de fato, ateu. 

7/07/2012

16/07/2012

Viver É Apenas Contar Histórias...


Viver É Apenas Contar Histórias...
A Jon Lord e Meu Amigo ARL, que hoje deixaram de contar e fazer parte de algumas histórias
Luiz Carlos Barata Cichetto
Ilustração: Jacek Yerka

Quando morre uma pessoa com quem partilhamos um pedaço de nossa história nos sentimentos tristes. Tristes, porque com ela desaparece um pouco de nós mesmos. E não ficamos tristes apenas por saudades, por falta da presença, por gostar ou deixar de gostar. Nem é porque amamos ou até mesmo odiamos, mas porque com ela morre sempre um pouco de nós, justamente aqueles pedaços, bons ou ruins que compartilhamos com o morto. Aqueles pedaços se foram para sempre e então sentimos a nossa própria morte ali... E nos sentimos fracos porque aquele ser defunto carregou com ele um pedaço, maior ou menor de nós. Sabemos que no fundo somos todos apenas mortos demorando um pouco mais ou um pouco menos. Somos apenas história, e a de cada um é formada por pedaços das histórias dos outros. Um pedaço de cada um que interagiu conosco, forma a nossa história, e cada pedaço nosso, a história de todos aqueles com quem a partilhamos. Então, quando morre alguém com que interagimos por anos, apenas por dia, apenas por uma hora, ou mesmo apenas por intermédio de um olhar, morre um pouco de nós. Mesmo quando morre alguém que sequer soube de nossa existência, um artista, por exemplo, que fez parte da nossa história contando a dele, nos entristecemos profundamente. E não há nada errado nisso, pois ao morrer um cantor, por exemplo, cujas musicas embalaram certos trechos de nossa história, sentimos que aquele pedaço se foi com ele... E ele fez, mesmo sem saber, parte da nossa. Até que não sobre nenhum pedaço de nossa história, a não ser... Histórias. Façamos então com que com cada pessoa com quem partilhamos um pequeno pedaço de nossa história, que seja ela apenas por uma palavra, apenas por um olhar, apenas por um gesto, o melhor pedaço da nossa história e do outro. Apenas assim estaremos perpetuados... Na história. Assim seremos eternos.... Porque enquanto nossa histórias perdurar estaremos vivos. Cabe-nos, portanto escreve-la da melhor forma possível e contribuir para que todas as outras histórias que ajudamos a construir, também se tornem... Eternas. Porque viver... É apenas contar histórias...

14/07/2012

Meu Primeiro Poema Infantil


Meu Primeiro Poema Infantil
(Especialmente a Petrus e Isis)
Luiz Carlos Barata Cichetto
Do Livro "Cohena Vive!" - 2012 - Editor'A Barata Artesanal



Minha querida criança de olhar esperto
Chegue agora de minhas letras bem perto
Pediram um poema feito ao seu coração
Sem palavras pesadas, letras de adoração.

Um poema sem cores escuras e berrantes
Algo sem as bestas ou criaturas errantes.
Falaram que tinha que ser algo com pureza
E sabe os adultos quando falam com dureza.

Disseram que era preciso ser cheio de brandura
Num poema bonito, sem nenhuma amargura
Pois, contaram, as crianças tem ingenuidade
E portanto não poderia lhe falar de maldade.

Tinha que falar apenas sobre belos sentimentos
Porque existe o tempo em que terás sofrimentos
Ameaçaram também, que não podia falar de morte
Porque crianças, elas tem que crer na própria sorte.

Que tinha que ser bondoso e falar sobre a bondade
Ser mentiroso e falar sobre a mentira da igualdade
Deram tanta ordem sobre como tinha que ser o poema
Que pensei que jamais poderia resolver este problema.

Ainda ordenaram, eu tinha que falar sobre um ser
Aquele que lhes contam ser o dono do seu nascer
E então falaram e falaram sobre as crianças
Que eu não podia lhes retirar as esperanças.

E falaram tanto, que agora eu sentia que era um tolo
Que sem mentir não ganharia um pedaço desse bolo
Então me sentei, de castigo em um canto da sala
Chorei e pensei, sou apenas uma criança sem bala.

Então, criança, confesso que sou mesmo um perdido
Porque jamais lhe faria um poema sem teres pedido
E não poderia escrever meu primeiro poema infantil
Sabendo que feito aos adultos lhe trataria com ardil.

11/03/2012 - 5 da Manhã...

13/07/2012

Syd Barrett e o Elefante Efervescente



Syd Barrett e o Elefante Efervescente
Luiz Carlos Barata Cichetto
Arte: Quadro Pintado Por Syd Barrett

Syd Barrett criou a essência do Pink Floyd, mas depois não coube mais dentro de sua própria criação. Aquilo era pequeno demais para caber sua genialidade. Syd Barrett era maior que o Pink Floyd. Sempre foi e sempre será. Segundo conta a história, ou melhor contam os remanescentes da banda, Syd foi colocado de escanteio por causa de sua "deterioração mental". Afinal, aprisionar aquela gostosa da Karine (a peladona que aparece na capa de Madcap Laughs era a namorada dele na época) num apartamento e lhe passar bolachas por baixo da porta era coisa de doido mesmo.  Aparecer no palco com a cabeça cheia com uma pasta de comprimidos é coisa de maluco mesmo. Ficar tocando uma nota apenas na guitarra, então, isso é coisa de doente mental.

Mas Roger Keith Barrett não era maluco, maluco eram eles. E sabiam disso. Tanto sabiam que continuaram a usar as idéias digamos pouco ortodoxas de Syd em um monte de discos que seguiram a saída dele. "The Dark Side Of The Moon", segundo Waters e Gilmour era uma homenagem á ele, pois "apenas os lunáticos podem enxergar o lado escuro da lua". Lunático? Syd era lunático? Claro que não. Chamar Syd Barrett de lunático é o mesmo que chamar Freud, Schopenhauer, Da Vinci, Einstein também de lunáticos.

Um sujeito que pegou o Rock e disse: "Ok, vamos à lavanderia!". Que pegou as experiências sonoras de John Cage (outro lunático?), colocou uma pitada de musica erudita, um quilo de Rock'n'Roll, bateu num liquidificador mental e transformou essa pasta num belo e florido Elefante Efervescente. Um elefante que esmagou os conceitos sobre música para sempre. Não era um maluco, nem doido, nem doente mental. Era um gênio. E aA história da musica deverá ser escrita no futuro da seguinte forma: AB/DB, ou seja, Antes de Barrett e Depois de Barrett. 

Basta que escutem com atenção composições como "Astronomy Domine", "Interstellar Overdrive" e principalmente "See Emily Play" e mais ainda "Arnold Layne". Esta uma das composições musicais, incluindo letra, mais "malucas" da história da música. As idéias de Barrett até sua "demissão" do Pink Floyd estavam por toda parte. E não apenas na música, nos arranjos e nos mínimos detalhes musicais, com também na plástica, nos conceitos e em cada uma das letras compostas diretamente por ele, ou influencias por sua “loucura”. 

E seus ex-companheiros sabiam e ainda sabem disso. Tanto que toda obra que o  Pink Floyd compôs desde sua saida é simplesmente a continuação das suas idéias, como se aquele prisma que Syd tinha dentro da cabeça tivesse sido lapidado e passasse a refletir outras tonalidades. Barrett era a luz que incidia sobre o prisma ou era o prisma que refletia a luz que partia de algum ponto do universo e criava o espectro? Karine conhecia Syd que não conhecia ninguém, não reconhecia seus amigos de banda... Bobagem. Roger comia Karine que estava sempre nua em sua dieta de bolachas.  Syd comia as bolachas também?  Syd usava drogas ou eram as drogas que faziam experimentos em sua mente, tentando entender até que ponto podiam chegar dentro da mente humana? Escolheram um gênio para suas experiências.

"Há um lunático em minha mente", pensou Roger Waters, dentro de sua paranóia de Segunda Guerra Mundial. "Há alguém em minha cabeça, mas não sou eu". Era Barrett dentro da cabeça de Waters e ele não podia suportar aquilo muito tempo. "E se a banda em que você está começar a tocar melodias diferentes" ainda pensou. "Eu te verei no lado escuro da lua"., ainda disse Waters antes de chutar Barrett do ventre de sua criação.

Waters em sua megalomania não podia suportar Syd, um louco diamante. E nem Karine suportou comer bolachas passadas por debaixo da porta, colocou a roupa e desapareceu. "Corra, coelho corra, Cave um buraco, esqueça o sol / E quando afinal o trabalho estiver feito / Não se sente, é hora de cavar mais um". E Barrett respirou fundo, cavou um buraco bem fundo dentro de sua própria mente, e feito um coelho assustado ficou quieto, calado, deixando que pensassem que era a loucura o que o afastara do mundo.

Era preciso ajustar os controles para o coração do Sol, rompendo a escuridão. E Syd foi cuidar das flores do jardim da sua mãe. Era preciso entender as flores ao Sol. Era preciso entender o Sol. Porque apenas quem entende o Sol, consegue fugir das sombras, da escuridão. O elefante efervescente o acompanhou, enquanto Arnold Layne pendurava suas roupas na janela. E o Octopus da morte disse: "Veja, veja Emily brincar". E Emily respondeu: "Não há outro dia!" .Então, o Elefante Efervescente “com olhos pequenos e uma tromba enorme sussurrou para a orelha de um inferior que para o próximo mês de Julho ele morreria.” 

18/04/2012

O Amigo Naturista e o Criador do Pink Floyd


O Amigo Naturista e o Criador do Pink Floyd
(Acerca de Um Texto de Jorge Bandeira)
Luiz Carlos Barata Cichetto


Há cerca de um ano pretendia escrever um texto sobre Syd Barrett para a Revist'A Barata. Considero Roger "Syd" Barrett um dos maiores gênios não apenas do Rock, mas de toda a música contemporânea, e sai pelas páginas virtuais em busca de mais informações e imagens. Queria escrever algo um tanto diferente, não apenas uma outra biografia, afinal ninguém merece ler outra biografia de Pink Floyd ou de seus membros. Depois de muitas páginas lidas e abandonadas por não oferecerem nenhuma informação diferente, nada que eu ainda não soubesse, entrei num blog por intermédio de uma busca no Google e o título do texto logo de cara me chamou a atenção: "Namorada Naturista de Syd Barrett, o Criador do Pink Floyd". Decerto estaria ali um enfoque diferente. E estava mesmo! Comecei a ler o texto, ilustrado fartamente com as fotos do ensaio feito por Syd para o álbum "The Madcap Laughs", com uma linda mulher nua, sempre de costas, exibindo um corpo maravilhoso. O contraste do olhar perdido e por horas penetrante de Syd com aquela bela mulher suscitava inúmeras alucinações, viagens, interpretações. E foi assim que Jorge Bandeira, o autor do texto de forma genial tratou: uma viagem transcendental para dentro da mente de Syd Barrett, com os olhos fixos no Naturismo de Karinne. Escrito na primeira pessoa, Jorge mistura ficção com realidade, viagem com sonho e nos desenha com tintas psicodélicas um quadro completamente natural traçando por horas um paralelo entre o Naturismo e a mente “nua” de Syd Barrett. 

Acabei por desistir de meu intento, pois jamais poderia ser tão preciso e louco a ponto de produzir um texto tão cheio de imagens e interpretações quanto aquele. Desisti, ao menos naquele momento, e a acabei publicando apenas uma frase com algumas fotos... A partir daí retornei inúmeras vezes ao blog e reli o texto do Jorge, cada vez mais apaixonado por Karinne e pelas imagens criadas feito instantâneos por ele. Deixei uma mensagem no blog, nunca  respondida, e achei que o autor houvesse abandonado, que tivesse pirado, desistido.. Sei lá, tanta gente começa coisas na Internet e desaparece... Mas aquilo ficou martelando na minha cabeça. Aquela visão era muito forte. Aquele quadro pintado por Jorge Bandeira tinha cores intensas demais. Um dia, poucos meses depois, o reflexo de uma antena parabólica numa parede, num ponto de ônibus deserto me alçou novamente à condição de poeta e comecei a escrever um poema enorme: "A Sombra de Objetos Inexistentes": "Apenas lunáticos enxergam o lado escuro da Lua, mas quem percebe a sombra de objetos inexistentes?...". Uma resposta, ou contraponto ao que os remanescentes do Pink Floyd tentaram mostrar com "The Dark Side Of The Moon", pretensa homenagem a Syd Barrett. "Um domingo de sol desses, eu levo minha sombra para visitar um parque qualquer, carregando em meu embornal um par de sanduíches de carne de elefante efervescente." Minhas claras referências estavam pululando, pulando, pulverizando minha mente. "Pink Floyd rolando em um velho disco negro de vinil enquanto Syd Barrett ignora o corpo nu de Karinne e eu desejo ao seu."... Este trecho, particularmente brotou inspirado na jornada naturista de Bandeira. E no final do poema: "Syd Barrett é um São Jorge moderno domando com sua lança psicodélica, um elefante efervescente de olhos de cristal.". Depois de pronto o poema, gravei uma narração e fiz um vídeo onde misturo cenas de antigos vídeos pornôs, minha narração e a musica do Pink Floyd da era Barrett. O poema foi lançado em meu ultimo livro de poemas "Cohena Vive!" 

Algum tempo depois, Syd e o Elefante Efervescente apareciam em meus sonhos e finalmente meu texto sobre ele saiu: "E nem Karine suportou comer bolachas passadas por debaixo da porta, colocou a roupa e desapareceu. (...). E Barrett respirou fundo, cavou um buraco bem fundo dentro de sua própria mente, e feito um coelho assustado ficou quieto, calado, deixando que pensassem que era a loucura o que o afastara do mundo." Sentia que tinha pago meu tributo a Syd. Eu o desnudara. E também estava nu.

A alemã Nico era uma paixão desde a época, nos anos 70 que me descobri a trupe de Lou Reed e John Cale. E decidi escrever alguns textos sobre eles. O primeiro, dedicado á ela, foi publicado no Whiplash e entre as pessoas que comentaram, uma pessoa de nome Genecy Souza, de Manaus. Acabamos por criar uma amizade e ele acabou sendo a primeira pessoa a comprar minha autobiografia. Adicionado ao Facebook hora ou outra trocávamos algumas palavras. Mas há uns dias, decidi ler o texto do Bandeira novamente e ao reler, percebi que o mesmo tinha sido dedicado "a um floydiano de nome Genecy". Não poderia ser coincidência, pois o “blog” era de alguém de Manaus, tal e qual meu amigo de nome incomum. Perguntei-lhe sobre o texto, ele confirmou e também falou sobre a amizade de mais de 25 com o autor, e do orgulho de ter tão maravilhoso texto dedicado à sua pessoa. E então, hoje ao acordar recebo um pedido de amizade virtual de Jorge Bandeira. Horas depois conversávamos via Internet sobre esse texto e principalmente sobre o assunto que mais interessa a ele, "uma pessoa que acredita que o Naturismo é a solução para muitos problemas da humanidade." 

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A Namorada Naturista de Syd Barrett, o Criador do Pink Floyd
(A Um Floydiano de Nome Genecy.)

Jorge Bandeira (*)
(Reprodução autorizada pelo Autor)

Eu estava tentando superar aqueles pesadelos que me perseguiam após a saída da banda, o que nem mesmo eu desconfiava. Não esperava ter ido ao fundo do poço sem som algum, sem letras, sem acordes, sem viagens ao meu interior. Os caras não tinham o que inventar, uma estranha sintonia desconectada, talvez pelo uso de certas substâncias que muito me alegraram e que até hoje consomem meus sonhos mais apreciados. A insistência de Roger e David, agora, seria para que eu entrasse naquele estúdio e registrasse algo para a minha alma. Eles sabiam que o elefante efervescente poderia ser domado para este circo da indústria de discos. Neste período conheci Karinne. Ela era nudista, mas me corrigia sempre quando a chamava assim, dizia que o certo era naturista, e que a nudez no caso dela era um complemento perfeito para sua arte, no final de 1967 essencialmente colocada nos palcos e na feitura de livros artesanais de poemas. Karinne adorava ficar nua, e em princípio achei aquilo meio que um exibicionismo gratuito, sem um foco específico. Roger e David, quando entravam em meu apartamento e a encontravam nua ficavam cabisbaixos, mas não demorou muito para que se acostumassem com a nudez de Karinne. Eu ficava nu, mas só quando estávamos sós, e chegamos a fazer um ensaio fotográfico juntos, este que vocês estão vendo ilustrando este relato. Ficamos pouco tempo juntos, talvez em virtude de minhas iluminações, que cegavam a todos, ou dos momentos de reclusão interior, quando ficava incomunicável por longo tempo. Nos separamos depois que a prendi neste recinto e passei a alimentá-la com biscoitos, e ficou Karinne nua com seus biscoitos apetitosos. Ela reclamou e foi embora, para não voltar mais. A nudez e a arte dela deixaram resquícios, porém. Muito tempo depois cheguei a ver vários ensaios do Pink Floyd utilizando-se da nudez de forma artística e dinâmica. Um bonito trabalho é aquele das mulheres nuas com as costas pintadas na beira de uma piscina, tendo como motivos algumas capas do Pink Floyd. O próprio Roger usou uma capa com uma mulher nua pedindo carona,usando somente uma mochila nas costas. Karinne é a co-responsável por estas obras, tenho a certeza, mesmo que o ego inflado e Roger e David não admitam, Karinne está lá! O louco Syd não esqueceu mesmo daquela naturista, as fotos um tanto desbotadas daquela sessão memorável não me deixam mentir, Karinne era muito talentosa, além de possuir uma sensibilidade para esta coisa de movimento do corpo. No piso de taco e tecido aveludado daquele recinto esta menina-mulher nua perpetuou sua arte. Digo isso, pois Roger e David tanto insistiram que acabei por lançar (eles fizeram a parte burocrática com a gravadora!) dois álbuns, “Barrett” e “Madcap Laught”. A capa do primeiro tinha a pintura de uns insetos que matei com a bravura de um Dom Quixote e no Louco que ri, o segundo, as fotos de Karinne nua foram incluídas no encarte (a da capa só aparecia eu e um jarro). Karinne nua, sentada num banco alto, um tamborete, no canto do aposento, como se estivesse agüentando a parede para que não caísse sobre nós e nos esmagasse, e eu de mendigo louco, descabelado, um hippie mesmo, um ser feito de psicodelia tentando, com minha bicicleta, deixar uma limonada de bebê para minha querida tia gigôlo. Coisa da vida, e da morte. 

Eu falava de Karinne, aquela nudista que passeava pela casa e que não lavava roupas. As dela não precisava, pois ficava nua o dia todo, e as minhas porque ficavam podres mesmo, não fazia questão de que as lavasse. Pedia a Karinne que esquecesse o fogão, a escova e o sabão em pó. Que cuidasse só da arte, pois a vida é passageira, e a arte é um infinito profundo, interplanetário, descomunal. Existia entre nós uma comunhão de propósitos, Karinne nua com seus poemas e coreografias, Barrett com uma música verdadeira, nua. Ao ver a natural nudez de Karinne imaginava em meus sonhos artificiais aqueles índios das florestas selvagens, inóspitas, prendendo Tarzã por usar aquela tanga ridícula. Índios nus que usavam aqueles alteradores de consciência, de percepção, que usei e abusei, tornando-me um diamante louco, como querem David e Roger. Minha lapidação, porém, foi feita por algo que os índios nus não conheciam, não foi o peiote, não foi a mescalina, não foi o yage, não foram os cogumelos, não foi erva alguma, foi um composto criado em laboratório por um certo Hoffmann. Louco, Sem Diamante. Foi como fiquei, (L)ouco, (S)em (D)iamante, e o que seria pior, sem aquela agradável nudez naturista de Karinne, minha companheira de quarto naqueles dias e noites londrinos de eternas viagens ao redor de mim mesmo. Agora penso no jarro, escuro, com aquelas flores claras, de um amarelo pálido, e Karinne indo na outra direção de minha vida. Meu olhar interroga um possível interlocutor, como se perguntasse a ele se nunca viu aquilo, uma mulher nua e um jarro num meio de uma sala vazia. Nua, Karinne desponta da penumbra no recinto fechado, neste quadrado em que me encontro, onde ratos imperam, onde o único livro é um grosso exemplar do Ulisses, de James Joyce. David e Roger hoje estão muito ricos, Mason não sei por onde anda ou o que faz, e o Richard daqui há pouco deve me acompanhar, quando eu conseguir sair deste local, deste quarto interminável. Coisas da vida, e da morte. Karinne nua percorre minha mente, ela anda desenvolta, com muita calma e elegância. Os gnomos do quarto acabaram por quebrar o jarro com suas brincadeiras insanas, tempos depois. As flores do jarro não resistiram por muito tempo e também murcharam, como secaram os meus neurônios. Só restou em minha mente a nudez representativa da paz interior de Karinne, e fico até hoje divagando se tudo ocorresse diferente, como outro. Outrora. Talvez se eu ficasse com Karinne, como um casal, por exemplo, John e Yoko, não teria feito um disco com a capa de nós dois nus, dois nus e um jarro de flores desbotadas. Quem o saberá? 

O meu vertiginoso pensamento percorre os espaços vazios e amplos daquele recinto, e sinto mais uma vez que Karinne passeia nua aqui, eu não estou só. A nudez dela cheira a alfazema do campo, um perfume agradável, um odor de pele como não se tem ao usar uma roupa, qualquer que seja a vestimenta. Karinne, do alto de seu espírito completa e totalmente naturista dizia que quem veste uma vestimenta veste a mentira, quem usa vestimenta, a veste e mente. Um trocadilho que me deixa encucado até hoje. A música poderia ser nua? Como alcançar um som que nos faça feliz, sem usar nada além do som e de nosso corpo despido? Eu não consegui esta façanha, e Karinne por causa deste vácuo na minha produção, não retornou ao quarto dos biscoitos e do jarro escuro. Roger poderia me dar a resposta, mas ele está muito ocupado contando seu dinheiro e fazendo ópera na selva, na companhia daqueles indios nus, ou que ficavam nus. David está fora de cogitação, está com uma tremenda barriga proeminente e quase careca, e fisicamente ficou um tanto quanto parecido comigo, perdeu sua força junto com suas medeichas que caíram pelo caminho tortuoso do tempo e das intrigas e pelejas pelo potencial de uma marca, de um nome de banda. Trivialidades. Sem a nudez de Karinne confesso que fiquei meio perdido, foi como se faltasse uma peça fundamental da roupa de minha mente, e eu chorei esta ausência, a nua mulher menina que eu vi e senti, a menina mulher nua que me fez acostumar com a naturalidade de um corpo nu, desta Eva desgarrada do Éden, que fugiu de Deus e da serpente, e que deve estar em busca de um raro Adão dos séculos vindouros. Sei que entre olhar dois olhos que não se enxergam por entre uma cabeleira despenteada e uma mulher nua, seu olhar dará preferência àquelas protuberâncias que fazem a festa dos olhos gulosos de muitos e de muitas... Saiba porém que a dona destes atributos, naqueles anos de psicodelia chamava-se Karinne, e que tinha em sua nudez uma força além da limitação destes olhares curiosos e famintos pelo nada. Seu corpo nu almejava somente a nudez, natural, e nada mais.

(*) Jorge Bandeira é escritor, autor do livro de poemas Bela Cruedade, Diretor de Teatro e Cantor da banda "Alma Nômade".

Texto  Original: 


Links Relacionados:
- Video de "À Sombra de Objetos Inexistentes" - http://www.abarata.com.br/videos_detalhe.asp?codigo=1513
- Syd Barrett e o Elefante Efeverscente:  http://whiplash.net/materias/biografias/153733-sydbarrett.html



09/07/2012

Barata: Sexo, Poesia & Rock'n'Roll: O Dia Seguinte



Apesar do frio intenso e da típica garoa paulistana de um domingo de inverno, no domingo, dia 8 de Julho de 2012, muita gente compareceu ao lançamento do livro "Barata: Sexo, Poesia & Rock'n'Roll", no CIAM, no bairro do Tatuapé. Pessoas para quem nem mesmo uma baixa temperatura afasta o desejo de compartilhar sonhos e histórias. Porque somos sim, história, como escreveu Ignácio de Loyola Gomes Bueno. E nesse dia mais um capítulo não apenas da minha, mas de todas as pessoas que compareceram foi escrito. Falar sobre os livros, sobre como foram escritos, feitos e editados não tem dinheiro que pague, nem frio que afaste. Escutei frases de pessoas alí que me deixaram encantado, vivo e até de certa forma, orgulhoso. Mas não um orgulho vaidoso, um orgulho em saber que o sucesso não é medido pelo retorno financeiro ou a glória etérea. Mas o orgulho de ter feito e escrito coisas que dão certezas ou dúvidas, não importa, sobre o que elas pensam e sentem.

Escutar a voz de Ciro Carvalho e Renato Pop interpretando musicas construídas a partir de minhas poesias, receber a presença da banda Baratas Organolóides que fez questão de aparecer e tocar; apreciar a arte genial desse garoto chamado Gabriel Fox, são coisas que fizeram com que eu me sentisse uma criança brindada com o melhor dos presentes. E ainda mais pela presença firme de meus pais, que apesar de todas as dificuldades de locomoção compareceram.

Poderia ter feito um evento num lugar afamado, ter convidado uma série de famosos e ter vendido milhares de livros e decerto não teria a sensação de sucesso que tive. Acima de tudo pelo sentimento de amizade e parceria oferecidos pelo Dimas Farias, guardião do CIAM. Compartilhamento é isso, não apenas um clique num ícone numa rede social. As revoluções são feitas assim: com pessoas e idéias. Apenas assim são válidas e permanentes.

Obrigado a todos.

Luiz Carlos "Barata" Cichetto
09/07/2012

Cedo ou Tarde...


Cedo ou Tarde...
Luiz Carlos Barata Cichetto

Acordou tão cedo, que nem o Sol ainda despertara
Cansado do dia, dormia ainda sob o manto da noite
Tão cedo que até a Lua cansada da noite se deitara.

Era cedo, e de tão cedo, sequer o dia lhe disse bom dia
Porque dormia ele, o dia, ainda sereno entre as colchas
De retalhos de sereno úmido das coxas da madrugada.

Mas nem tão cedo era assim, pois acordada feito a morte
A lhe sorrir a amante, com uma xícara de café nas mãos
Mas então era tarde, porque nunca dorme cedo a solidão.


08/07/2012

07/07/2012

Manifesto da Contra-Acultura


Manifesto da Contra-Acultura
Luiz Carlos Barata Cichetto



A Contracultura foi um movimento que teve origem na década de 50 com a Geração Beat, os chamados “Beatniks”, onde intelectuais, principalmente artistas e escritores, contestavam o consumismo e o otimismo do pós-guerra americano. Os líderes desse movimento foram Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs. Mas o auge da Contracultura se deu nos anos 1960 com a explosão do Rock. Na segunda metade dos anos 60, Ken Kesey, Alan Watts, Timothy Leary e Norman Brown criaram a teoria e as práticas da Contracultura, ganhando destaque e transformando-se em lideranças do movimento. Muitos acreditam ainda que a deflagração desse movimento se deu bem antes com Jean Paul Sartre, através de seu engajamento político, defesa da liberdade e pessimismo pós-guerra, mas de fato a Contracultura começou a tomar forma e estender suas bases para além das fronteiras, chegando em todas as partes do mundo, onde pensadores como Luiz Carlos Maciel era um dos estandartes mais visíveis. O ponto alto da Contracultura é definido como sendo o Festival de Woodstock em 1969, mas outros festivais de Musica e Arte, nos Estados Unidos, na Europa e até mesmo no Brasil, representaram uma amostra do que poderia ser uma sociedade baseada em princípios simples de convivência em harmonia.

A contracultura, também chamada de cultura underground, cultura alternativa ou cultura marginal, pode ser definida como um movimento que questionava valores centrais vigentes e instituídos na cultura ocidental, aí incluídos todos os padrões de comportamento, como religião, educação e família dos modelos convencionais. A Contracultura buscava, através de formas alternativas, uma transformação da sociedade como um todo, através da tomada de consciência, da mudança de atitude e do protesto político. O Rock foi a trilha sonora, e mais que isso, o catalisador desse movimento, com sua vocação natural à rebeldia e a quebra de tabus.

De um modo geral, podemos citar como características principais deste movimento:
- Arte Auto-cognitiva;
- Valorização da Natureza; 
- Vida Comunitária;
- Antibelicismo;
- Vegetarianismo;
- Respeito a Minorias;
- Liberdade Sexual;
- Anticonsumismo;

Mas acredito que as principais características da Contracultura sejam, crítica aos meios de comunicação de massa como, por exemplo, a televisão; e principalmente a discordância com os princípios do capitalismo e economia de mercado. O uso de drogas psicodélicas, baseado nos estudos de Timothy Leary, principalmente, tinham um contexto diferente: eram usadas como fonte de inspiração e liberação da mente, preparando-a para novas e ricas experiências humanas, e juntamente com os outros elementos chave que formavam a base da Contracultura, estariam transformando o ser humano e a forma como ele enxerga e interage com o mundo, criando assim uma sociedade mais justa e benéfica a todos.

Mas com a chegada dos anos 1980 e o crescimento da tecnologia e da massificação intensa das comunicações, o Movimento Contracultura foi perdendo força, até que, no final do século passado passou a representar apenas um verbete de dicionário, uma referência histórica e nada mais. Os deflagradores desse movimento abandonaram o esse objetivo, provavevel mente cooptados pelo sistema que combatiam, usando o antigo jargão "se naõ pode com eles... 

Sem referências e sem guias, nasceu e cresceu uma juventude sem objetivos, sem porquês e principalmente sem questionamentos válidos e sem "talvez", aceitando de pronto o que os esquemas de massificação lhes oferecia. O mundo parecia mais colorido, sob o ponto de vista do consumo. Cores berrantes, primárias, sem meios tons e sem sobre tons... E a vocação natural de rebeldia, inerente á juventude e aos artistas, perdeu lugar para uma sociedade de consumo sem precedentes. E a velocidade é necessária à industria do consumo. Tudo tem que ser consumido rapidamente para que se compre o que vem a seguir. E essa regra foi alimentada ferozmente, instalada em todos os níveis. Dos bens simples de consumo às artes, tudo passou a ser criado para ser devorado rapidamente. E dentro desse panorama, foi criada uma cultura que, pior que leite instantâneo, sem nem necessidade de colocar nem a água... Tudo pronto para consumo. 

Chegamos ao Século XXI, a Internet explodiu no mundo inteiro. A realização do sonho de compartilhamento livre de informação, em tempo real, sem censura, sem intermediários. Não precisávamos mais depender da grande mídia, dos grandes esquemas de produção e comercio de cultura. Uma biblioteca e um arsenal ao mesmo tempo. Ao alcance dos dedos, dos olhos. Em lugar de uma máquina de escrever, um amontoado de folhas em um mimeógrafo, pernadas, dinheiro de Correio, apenas teclas e cliques. Seria o paraíso da Contracultura... Acaso seu espírito ainda existisse. E não era apenas o espírito da Contracultura que fora soterrado debaixo de toneladas de lixo. Os tempos eram outros, disseram, e trataram de transformar também em um produto de consumo fácil. No início ainda podia se sentir o cheiro de liberdade, mas depois o perfume do consumismo tomou conta. As chamadas redes sociais, que tomaram de assalto aniquilaram qualquer sonho cultural. Acabou com os sites de cultura de uma forma geral, acabou com os Blogs, que eram uma espécie de “panfletos” ampliados. Tudo, a partir de 2004, ficou reduzido à telas azul bebê, com pessoas fúteis e hipócritas, falando sobre futilidades, frivolidades e unhas pintadas...

Junto com isso, as ondas do politicamente correto e da sustentabilidade, - termo que muita gente usa sem saber porra nenhum do significado – transformou tudo em uma massa plástica e uniforme. As pessoas foram reduzidas a meros consumidores, embalados em músicas descartáveis, de refrão fácil, sem nenhuma mensagem. Tudo construído com o único intuito de consumo fácil e rápido. A busca desesperada por uma identidade, em meio a tantos rostos sem faces, transformou a comunicação em algo insuportávelmente chato e sem nenhum conteúdo. Falar de algo mais profundo que a cor da calcinha de uma atriz, ou citar uma frase que não seja de Caio Fernando Abreu ou trecho de poesia de Drummond, acabou sendo perigoso, muito perigoso. O humor se transformou em caso de polícia e os humoristas em bandidos. Uma censura disfarçada de “respeito” à minorias, de todas as matizes. E assim nos transformamos em zumbis apertando teclas de computadores, clicando em desenhos mal elaborados, sem a menor responsabilidade. Dentro das redes sociais, todos ou são belos, ou são inteligentes ou são revolucionários. Todos comparecerem em todos os eventos descolados e na prática ninguém sai da frente do computador. Escutando sem ouvir, quilos e quilos de emepetrês sem a menor qualidade musical. Vendo música, em lugar de escutar... Enfim, tudo em plástico azul do fundo das milionárias redes sociais, criadas por garotos que não tem outro objetivo a não ser amealhar fortuna.

- “Chegou a hora de uma nova revolução de Contracultura?” - Perguntei ao amigo Amyr Cantusio Junior, um dos maiores, mais capacitados e estudiosos músicos do Brasil, que, por seu desejo de se manter íntegro, de se manter fiel às duas idéias e conceitos, muito próximos à Contracultura, luta com dificuldade para mostrar sua arte e manter suas contas.  

- “Não, está na hora de criar a Contra Acultura, pois não existe uma cultura a ser contra, mas sim um aculturamento total e absoluto. Apenas lixo” – Respondeu ele.

E eu concordo!

Quando coloquei acima as definições e conceitos sobre a Contracultura dos anos 60 e 70, percebemos que existiam conceitos pré-estabelecidos dentro da cultura de uma forma geral. A euforia do pós guerra era o pano de fundo para uma cultura estagnada, antiga e sem horizontes. E baseados em conceitos filosóficos de pensadores que enxergavam o mundo sob uma ótica humanista, perscrutando o futuro e temendo o amanhã, lançaram as bases de um movimento que se propunha a carregar a humanidade a um estágio mais avançado, seja através das portas abertas pelas drogas psicodélicas, seja pela assimilação de doutrinas como o budismo, pelo uso da arte como veículo de crescimento e prazer humano.

Mas e agora? O que temos? Não temos nada. E principalmente, não somos nada. A arte se transformou em produto banal, as drogas em anestésicos sociais e as doutrinas em fanatismo religioso. A música, a mais nobre das artes, foi transformada num veiculo para o dinheiro, o estoicismo e a egolatria. Pensar, conforme previu George Orwell, se transformou em crime. A “crimidéia”, as palavras passaram a ser maltratadas e não estar de acordo com os padrões do “politicamente correto”, passou a ser um pesadelo. Sem a censura formal, de coturnos e fardas, passamos a sofrer a Censura do Processo, onde “tudo que você disse pode e será usado contra você”, numa distorção e ampliação, dos limites jurídicos. Achar que faz parte de sua liberdade denunciar alguém cuja opinião não é favorável passou a ser encarado como normal. O aborto, a ser tratado como apenas uma questão de direito feminino, Os conceitos de liberdade foram deturpados, estropiados e estuprados.

Falhamos e falimos enquanto seres pensantes num mundo sem perspectivas, sonhos e objetivos. O capitalismo, cujas bases fincadas no individualismo, faliu ao permitir a ingerência do socialismo, que também faliu. Todos os sistemas políticos faliram, todos os sistemas religiosos faliram, transformados em grandes negócios dominados por uma fé cega e perigosa, todos os sistemas culturais faliram. Enfim, todos os sistemas, de todas as tendências, das religiosas às artísticas, das políticas ás sexuais, também faliram. E o ser humano também faliu, não como sistema, não como tendência, mas como ser pretensamente dominante do Planeta.

Estamos entregues literalmente às baratas e nosso destino é morte, não apenas a morte física de cada um, mas a morte da humanidade. Ainda resta uma esperança? Quem sabe... O que nos jogou nesse ponto, no fundo de um poço escuro não foi o individualismo, mas o egocentrismo, e principalmente a falta de uma cognição mais ampla de nosso papel enquanto criadores de nossas histórias e nossos destinos. Construindo nosso destino através de atos individuais, mas não egocêntricos, estaríamos construindo, cada um de nós, um pedaço de um caminho que carregaria a humanidade ao bem comum. Mas abrimos mão disso, em prol de uma busca por uma segurança financeira falsa, uma beleza falsa e uma sexualidade falsa.

Então, continuamos sentados, esperando que a humanidade acabe, numa noite escura, ou retornemos a busca de nós mesmos dentro do quarto escuro que a deixamos no passado, quando ainda não tínhamos computadores, redes sociais e telefones celulares? Talvez seja mesmo a hora de uma nova revolução cultural, pois a cultura é a base de todo e qualquer desenvolvimento humano, seja no plano físico como no intelectual. Talvez seja a hora de um novo movimento de Contracultura, mas não para rechaçar a existente, pois não existe nenhuma, mas para criar uma nova, uma verdadeira. Não uma “Nova Consciência” como pregavam os Hippies, mas uma “Consciência Verdadeira”, que evolva cada indivíduo. De dentro para fora. Da construção a partir de um. Um país, um planeta, uma Humanidade feita não apenas de seres idênticos, com cor azul bebê, mas uma humanidade de cores diferentes, de matizes e gestos diferentes. Uma humanidade que seja a união de bilhões de “UNS”. E não de bilhões de seres idênticos, entalados e envasilhados, embalados e prontos para consumo.

Estão lançadas as sementes. Da sobrevivência ou da aniquilação. A semente da Contra-Acultura é o UM. Colhamos o que possamos.