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31/10/2012

Frases Soltas, Pensamentos e (In)Consequencias V: Esperança

Frases Soltas, Pensamentos e (In)Consequencias V: ESPERANÇA
Luiz Carlos Barata Cichetto

Esperança é um termo cristão que diz: conforme-se com sua mediocridade e com suas desgraças. E indica: acredite que tudo irá melhorar, trabalhe feito um burro e espere o salário no final do mês, depois morra com seu câncer esperando uma cura que nunca chegará, imaginando que depois de morto terás a recompensa de sua existência.

(Vídeo: A Esperança - Poema de Augusto dos Anjos, Musica Norman Bates, Belém, PA) Montagem do Vídeo: Barata

30/10/2012

A Volta do Filho Pródigo (“Seja Feliz!”)

A Volta do Filho Pródigo (“Seja Feliz!”)
Luiz Carlos Barata Cichetto
Vincent van Gogh, Esqueleto Fumando Um Cigarro, 1886. Óleo Sobre Tela, 32 X 24.5 cm. Museu Van Gogh

Diariamente escrevo crônicas e poemas. Compulsivamente, do mesmo jeito que fumo um cigarro atrás do outro enquanto escrevo. E nisso, há mais que um desejo de expressão, mais que um desejo de falar, há um desejo de vida. A cada escrito um pedaço da minha vida, compulsivamente vivida como quem fuma outro cigarro enquanto escreve. Mas acima disso, acima dessa compulsão pela escrita e pelos cigarros, em cada uma está explícito: "OK, eu vivi mais essa!” Como se a morte estive esperando eu terminar cada uma delas, me cobrasse a escrita e depois me dissesse: "Então, passastes no teste, vai ficando por ai!" E continuo por aqui, desafiando a morte escrevendo. Eu não a temo e acho que é por isso que ela tem me deixado em paz. 

Quanto às crônicas, imagino que cada uma delas é a última, e que sendo assim cada uma é um testamento, que será interpretado como a ultima expressão de meu desejo em vida. E imponho a cada uma delas uma condição: sigam seu caminho e tenham vida própria. E ao concluir a cada uma, olho bem em seus olhos e digo: "Vá-te em paz!", com aquele sentimento de quem se despede ou sepulta a um grande e querido amigo. 

Cada crônica, cada poesia, é a obra de uma vida e a vida de uma obra, é única e absoluta e traz consigo uma herança genética ímpar. E em todas a minha genética, embora a nenhuma eu imponha meus desejos, mas a todas a minha expectativa de vida. Elas são livres para nascerem e livres para partirem. E até para morrerem caso assim desejem. São como filhos e sendo assim não devem ser tratadas como propriedade, devem ser postas à luz do mundo para terem vida própria. 

Minha prole é minha escrita, muitas estão mortas, outras escondidas e muitas dormem pelas salas empoeiradas sem nunca serem compreendidas. Dormem em livros ou com seus bites e bytes em discos rígidos de computadores. Dormem enquanto eu fico aqui gerando outras, numa fecundação solitária e hermafrodita.

Mas seria mesmo assim a criação artística? Uma criação hermafrodita, onde o artista se auto fecunda e gera filhos sob a forma de obras artísticas? Seria, portanto, o artista um ser que se basta e, portanto, do mundo nada precisa? Seria este o motivo que faz a todos os artistas egoístas absolutos? (E não negue esse egoísmo, querido artista, pois não és aquele que deseja seu nome sempre estampado em suas obras? Que faz questão da paternidade como um pai que vê o filho alçar vôo?  Não finja socialismo, querido artista, pois no fundo não existe autenticamente arte comunitária.) E então, é assim que são geradas as obras, auto-fecundação? 

Mas a realidade é que um artista é sempre a mãe de sua obra, pois cabe a ele recolher e absorver informações e sentimentos feito espermatozóides, depois guardá-los, gestá-lo durante um tempo determinado e depois dar ao mundo a luz da sua criação. E quanto aos pais, estes podem ser muitos e cada um fornecer um espermatozóide diferente. Um fato presenciado, uma noticia de jornal, um sonho, um pensamento vago, uma saudade... Enfim, muitos são os pais de uma criação, fornecedores de espermatozóide criativo e cabe ao artista o papel materno e depois soltar a criação ao mundo para que, como qualquer ser vivo, tome seu caminho próprio. 

E sou eu, escritor compulsivo, feito uma cadela no cio, absorvendo todos os espermatozóides que encontro pelo caminho, oferecendo meu útero a todas as fecundações existentes e possíveis. Qualquer coisa. E então escrevo como quem acalenta um filho na barriga, e escrevo como quem espera esse filho crescer no ventre. E escrevo esperando o momento de dar-lhe a luz. E ao ver o texto pronto, final, embora sempre seja ainda rascunho feito a própria vida, olho para ele feito uma mãe recém parida e tenho orgulho. Dou-lhe um nome, oferece-o ao batismo pagão da Deusa das Artes e depois deixo-o livre, para que o mundo escute seus gritos, gemidos e lamentos. Deixo que o mundo o termine, deixo que o leitor, feito uma ama de leite termine de alimenta-lo. E espero que ele cresça sozinho e solto no mundo, trazendo pensamentos e provocando emoções. E tal a filhos, espero que ele tenha uma vida própria em contato com outras vidas, esperando apenas que um dia ele retorne, me dê um abraço e diga, não como um filho pródigo, mas dedicado: “Eu nunca esqueci de você”. E eu lhe direi: “Eu o amo demais para que fiques junto a mim. Vá e sejas útil ao mundo, pois foi a isso que o criei. Seja feliz!”

29/10/2012

Argumentos (Ou “Welcome To My Nightmare”)


Argumentos (Ou “Welcome To My Nightmare”)
Luiz Carlos Barata Cichetto
Imagem: Autor Desconhecido. FOnte: http://sonhosdesperto.blogspot.com.br/2011/10/terra-dos-sonhos-pesadelo-02.html

Estou péssimo! Passei a noite em claro lamentando lástimas e lastimando lamentos. Remoendo iras e moendo as unhas. Pensando sobre meu pensamento. Meu pensamento não foi criado nem moldado em laboratórios bem iluminados das faculdades, não sou fruto de um experimento, nem instrumento de músicos desafinados ou de deuses desanimados. Meu pensamento foi moldado pelas esquinas tortas, pelas ruas escuras das periferias, pelos amigos incolores ou de todas as cores, pelas putas com quem passeei de mãos dadas pela Avenida São João. Meu pensamento foi moldado pelos livros que comprei e pelos que roubei em bibliotecas; pelos que li inteiros e pelos que apenas vi a capa; e até mesmo pelos que rasguei e queimei. Meu pensamento foi moldado pelo escuro dos cinemas do centro da cidade onde putas faziam boquete no banco de trás, onde bichas se prostituíam no banheiro e onde cafetões escrotos cobravam sua parte, à porrada. Meu pensamento foi formado pelos filhos que formei, pelas mulheres que pensei amar e que pensava que me amavam, pelos que me detestaram e pelos mendigos a quem nunca dei esmola. Meu pensamento foi formado pelas surras de ripa que meu pai me dava, pelos gritos histéricos de minha mãe e pelo choro egoísta de meu irmão. Meu pensamento foi formado por dor e por sonho, por odor e por merda. Pelas mulheres que comi e pelas vezes que brochei, pelas punhetas que bati em banheiros de escritório querendo comer as secretarias gostosas que chupavam os caralhos dos patrões. Meu pensamento foi formado pelos chefetes invejosos, pelos gerentes mal amados e pelos patrões egocêntricos. Por padres macumbeiros e por pastores roqueiros. Nunca aceitei o dito pelo não dito e muito menos pelo bendito. Malditos foram aqueles que citaram ditos populares. Nunca aceitei um pensamento que não fosse pensado, um documento que não fosse documentado e um gozo que não fosse gozado. Nunca aceitei como prova contra mim o testemunho de ninguém. E existe um tribunal inquisidor em cada esquina, um juiz em cada sala e um carrasco em cada quarto. Meu pensamento não é único, mas é meu e dele não abro mão. Meus argumentos são meus e eu tenho o direito de ser obtuso e opositor, obsessivo, compulsivo e transtornado. Sou um tornado, sou assim. E como disse, meu pensamento não é de laboratório, nem de faculdades, nem de salões envidraçados. Sou transparente e cristalino e tenho o direito a ser aquilo que minha consciência mandar. Conheci putas crentes e crentes putas, todas com suas tolices e seus gozos perversos. Travei lutas contra crentes, ateus e nazistas. Transei com mendigas na calçada em troco de um café com leite e com putas nas escadas apenas para meu deleite. Projetei brinquedos, analisei fórmulas e criei sistemas. Apanhei de assaltantes, de putas e de tenentes. E gargalhei até mijar nas calças, escutando histórias de dementes. Comi rabos em puteiros, peguei gonorreia  mas não morri; escrevi à máquina e com caneta tinteiro e não morri, tomei conhaque com racumim em hotéis fedorentos e não morri; ajoelhei aos pés de crentes, rastejei aos pés de lésbicas, e lambi o chão de videntes, mas também não morri. Roguei aos céus, pedi clemência, implorei milagres e paguei promessas a santos e deuses. Ressuscitei sem morrer, emergi sem afundar, e amei sem amar. Amei a poesia e depois a matei. Matei sem matar, corri sem parar, parei sem olhar. Escorri, corri... E morri sem morrer. Corri sem corrente, sem correr. Nunca aceitei a corrente, nem a linha, nem segui o curso da torrente. Fui lixo, fui bicho, escroto, de esgotos, das ruas e das camas. Das damas. Quebrei cabaços, dei abraços e me cortei em estilhaços. Explodi bombas, pisei no vidro e cortei os pés. Fiz filhos, vasectomia e plantei árvores. Fiz parto de gatos, corri de medo de ratos e caguei nos sapatos. Ouvi milhões de musicas, escrevi milhares de poesias e fodi centenas de putas. Escrevi livros, cartas de amor e receitas de bolo. Criei galinhas, cadelas e mulheres. Mas sempre preferi ser um pequeno vulcão a uma gigantesca montanha inerte. Achei o que tinham perdido e perdi o que eu tinha ganho. E entre perdas e danos, danei-me em meio ao escuro da solidão bebendo rum e acordando no meio da madrugada segurando meu par de botas onde eu tinha mijado. Fodi com vivas em cemitérios e com mortas em camas. Por noites perdi o sono, por dias perdi o sol. Perdi o ônibus, perdi meu tempo e perdi a paciência. Da sanidade perdida, me sobrou a demência. A ausência... De tudo! Mas todo crime tem seu preço a ser pago e pago agora o preço daquilo que dei de graça. Ofereci a quem achei que devia, aquilo que eu tinha de mais precioso, que era a capacidade de pensar e contestar, até mesmo o meu próprio pensamento e até mesmo o seu próprio pensamento. E hoje sinto que isso era tão correto que aqueles a quem eu dei esse pensamento, sequer lembram de onde ele veio. Como filosofia e como experimento social, eu deveria ganhar o premio Nobel, mas como homem, dotado de ego, dotado de amor próprio e até mesmo de vaidade, sinto-me perdido, prisioneiro de mim mesmo, perseguido feito o Dr. Frankenstein por sua criação e abandonado a idéias que ninguém quer mesmo escutar, mesmo que eu brade, mesmo que eu gesticule. Por fim, troquei os laboratórios iluminados das faculdades pela vivência, pelas experiências práticas, feito uma cobaia que escapa do laboratório e vai ser presa nos dentes de um predador. Sempre falei muito, gesticulei, bradei. Queria ser escutado. Corri riscos, necessários e desnecessários, incorri em erros, necessários e desnecessários. Morei em tantas casas e lembro de todas elas. Poderia ter matado mas não matei, poderia ter roubado mas não roubei. Poderia ter morrido, mas não morri. E poderia ter amado, mas... Amei. Sim! Troquei a mim mesmo por uma, depois por dois e por fim por três. Transformei rochas em flores e o luar em meu amigo, corri perigo, construí um abrigo mas acordei coberto de lama, sozinho e no escuro. Pensei bem, pensei em mim e corri o risco, mais uma vez. Contei até um, até dois e até três e saltei no escuro sabendo da escuridão, mas sem medo do escuro; saltei do alto e tomei de assalto a vida, mas nunca roubei ninguém. Mãos ao alto, disse o ditador. Então rasguei poemas, criei problemas e acabei na sarjeta, bêbado, com o chinelo na mão e um par de dentes quebrados. Nunca vi o sorriso da sorte, mas da morte escutei a gargalhada. Joguei Deus na privada e dei a descarga, fui chamado de fraco e de ditador, de tolo e aproveitador, de traído e de traidor. Mas nunca chamei a ninguém do que fui, nunca fui sem ser chamado. De nada e por nada, nem por ninguém. Nunca cobrei o que me deviam e sempre devia menos que me cobravam. E sempre paguei com correção e juros. Correção: nunca jurei mentiras nem menti de verdade. E agora, sem sono e com fome, nesta madrugada faminta, escrevo perplexo uma resposta a uma pergunta que não foi feita. Ou aceita. E percebo que foi isso, apenas isso, que formou meu pensamento. E isso é o meu mais forte, e talvez o único, argumento que eu tenho a lhe dar. E “Fui”... Fui por ter ido.. Fui por ter sido. Bem-vindas, crianças, ao meu pesadelo.

27/10/2012

O Futuro Acabou! - Mas Quem o Matou?


O Futuro Acabou! - Mas Quem o Matou?
Luiz Carlos Barata Cichetto
Escritório de Trabalho de Milton Santos - São Paulo - Foto: André Stolarski - 2009 - Fonte: www.miltonsantos.com.br
Há alguns dias, escrevi uma matéria analisando uma frase do geógrafo brasileiro Milton Santos, a respeito de classes sociais. Naquele texto a análise foi pautada pela interpretação pura e simples da mesma e do seu significado e atualidade. Cheguei a conclusão de que, no contexto contemporâneo, ela está totalmente equivocada, não por falta de visão de Milton, mas porque aquela bipolaridade deixou de existir, em meu entendimento. Mas existe um outro flanco a ser analisado com relação não quanto a frase em si, mas sobre uma questão que muito me aflige e que diz respeito ao porque de a maioria das pessoas não conhecerem, e portanto não darem valor, a pensadores como ele, por exemplo, pautando suas vidas através de declarações de pessoas que, no mínimo, não tem um dedinho do pé de seu conhecimento, mas que são levados a sério, como se gênios fossem. Pessoas que nunca leram um livro, ou se leram foram apenas livros de autoajuda ou religiosos. Que nunca param para escutar coisas que podem de fato alimentar suas mentes com idéias conscientes e produtivas, que as faça pensar e consequente agir na direção de seu pensamento.

Milton Santos

E quem foi Milton Santos? Milton de Almeida Santos (1926–2001) foi um dos mais profícuos pensadores brasileiros, negro, nascido pobre numa pequena cidade do interior da Bahia, mas que através do talento e principalmente esforço intelectual, considerado um dos mais sérios filósofos do Século XX. Tornou-se Bacharel em Direito pela Universidade Federal da Bahia (1948) e posteriormente Doutor em Geografia pela Universidade de Strasbourg (1958). Foi perseguido pela Ditadura Militar, tendo morado na França e também no Canadá e Estados Unidos, Tanzânia e Venezuela onde sempre atuou como um respeitado professor.  Em 1994 recebeu o Prêmio Vautrin Lud, instituído pelo Festival Internacional de Geografia, em Saint-Dié-des-Vosges e é conferido por universidades de 50 países, premiando uma personalidade eminente no campo da geografia, sendo considerada a maior distinção neste campo científico, para o qual não existe o Prêmio Nobel. Milton Santos recebeu o título de Doutor Honoris Causa pelas seguintes universidades: Universidade de Toulouse, França, Federal da Bahia, Buenos Aires, Complutense de Madri, Sudoeste da Bahia, Federal de Sergipe, Federal do Rio Grande do Sul, Estadual do Ceará, Passo Fundo, de Barcelona, Federal de Santa Catarina, Estadual Paulista, Nacional de Cuyo, Estado do Rio de Janeiro e Universidade de Brasília. Foi também presidente ou membro de entidades nacionais e internacionais como a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (Anpur) e consultor de organismos internacionais com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), Organização dos Estados Americanos(OEA), Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Secretaria da Educação Superior (SESu/MEC) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp/SP). 

Além disso, o menino negro e pobre, nascido de uma família humilde do interior baiano escreveu cerca de trinta livros e é reconhecido mundialmente. Sua obra "O Espaço Dividido", de 1979, é considerada um clássico mundial, onde ele desenvolve uma teoria sobre o desenvolvimento urbano nos países subdesenvolvidos. Seu pensamento sobre globalização, esboçado muito antes desse conceito se tornar corriqueiro, advertia para a possibilidade de que isso poderia gerar o fim da cultura e da produção original do conhecimento. "Por uma Outra Globalização", livro escrito em 2000, dois anos antes de sua morte, é referência hoje em cursos de graduação e pós-graduação em várias universidades brasileiras. Nesse trabalho fundamental, Milton faz uma abordagem crítica sobre o cruel processo da globalização atual. Em sua visão, esse processo, da forma como está configurado, padroniza a cultura e transforma o consumo em ideologia de vida, massificando os seres humanos, transformando-os em meros consumidores e espectadores de seu próprio destino, assim concentrando a riqueza nas mãos de poucos. Milton Santos não era contra a globalização, mas contra o modelo de globalização perversa vigente, que ele chamava de "globalitarismo". 


Silvio Tendler e Milton Santos

Conhecido como "o cineasta dos vencidos" por abordar em seus filmes personalidades como Jango, JK e Carlos Marighella, entre outros, Silvio Tendler produziu cerca de 40 filmes, entre eles dois longa-metragens sobre Milton Santos. "Milton Santos, Pensador do Brasil” (2001) e "Encontro com Milton Santos: O Mundo Global Visto do Lado de Cá", documentário que discute os problemas da globalização sob a perspectiva das periferias. O filme é uma entrevista com Milton Santos gravada quatro meses antes de sua morte. O outro, lançado em 2004, é o curta-metragem "Milton Santos – Por Uma Outra Globalização”.  Em 2005 Tendler recebeu o Prêmio Salvador Allende no Festival de Trieste, Itália, pelo conjunto da obra. Em 2008, foi homenageado no X Festival de Cinema Brasileiro em Paris, com uma retrospectiva de seus filmes.  É detentor das três maiores bilheterias de documentários na história do cinema brasileiro: "O Mundo Mágico dos Trapalhões" , "Jango"  e "Anos JK" , com cerca de um milhão de espectadores cada um.


Milton Santos, Inácio Bueno e Outros

E porque, pessoas como Milton Santos e outros intelectuais brasileiros não são divulgados, estudados de forma ampla e geral, não são convidados, com raríssimas exceções, a dar entrevistas em programas de televisão, rádio, jornais, etc.?  Porque a intelectualidade brasileira é colocada no ostracismo, vilipendiada e desacreditada em nossas terras, embora ovacionada em vários outros paises mais civilizados do mundo?  E existem outros, claro, e que nem a mesma reverência dos meios acadêmicos de Milton Santos tiveram, como Inácio Bueno, que se não fosse pela perseverança da família em lançar uma obra póstuma, "O Futuro Começou", teria seu pensamento totalmente ignorado quase pela totalidade das pessoas. E como tantos outros, que ignorados pela mídia comprometida com o poder, nunca chegaram aos olhos e ouvidos da maior parte da população, estando restrito apenas aos meios acadêmicos.

Inácio de Loyola Gomes Bueno foi membro da Companhia de Jesus, Padre Diocesano afastado da Igreja na época do Regime Militar Brasileiro por pressão militar, exilando-se na França onde permaneceu durante oito anos e onde cursou Sociologia e depois o Curso de Psicanálise existencialista em Paris. Por intermédio de uma bolsa, foi também  a Tanzânia e posteriormente ao retornar ao Brasil passou por inúmeras dificuldades, tentando retornar ao ministério sacerdotal e passando a exercer a psicanálise, sempre atendendo generosamente a todos que o procuram. Em 2000 sofreu um AVC, seguido por várias doenças e em 2001 escreveu este "O Futuro Começou". Faleceu em 29 de Junho de 2007.


E Nós? E os Outros? 

E porque isso acontece? De quem é a culpa, afinal de contas? É claro que não podemos subestimar os poderosos, achando que incentivariam ou mesmo permitiriam que o pensamento de pessoas como Milton Santos e Inácio Bueno fosse levados às chamadas "classes inferiores", pois fatalmente isso resultaria numa revolução. Óbvio que o poder emana de cima, ao contrário do que prega a Constituição hipócrita, nunca do povo, mas o trabalho sujo, de disseminação, cabe a outros componentes dessa engrenagem, como a dos meios de comunicação, que nada mais são do que as vozes dos poderosos, braços que conduzem as ovelhas pelo mata-burro até seu destino final. Os outros braços, os das religiões, se encarregam de dar o aspecto "divino", demonizando e desacreditando a intelectualidade e transformando as pessoas em autômatos ocos, presas fáceis do grande mecanismo de dominação.

Exemplos de vida, antes de mais nada, como os de Inácio Bueno e Milton Santos, exemplos de determinação, de como não se deixar levar por estigmas e rótulos, pelas dificuldades, não interessam aos poderosos. Saber que, através de esforço, dedicação e firmeza de caráter podemos romper a maior parte das barreiras sociais, independente da cor da nossa pele ou da nossa condição social de origem, não interessa. Interessa mesmo é criar cotas racistas e preconceituosas, segregação pura, leis de privilégios que criam ilusão de igualdade, mas que são puros disfarces de incompetência e etc., são na verdade cabrestos aplicados com o único intuito de manter as coisas exatamente como e onde elas são e estão. Aqueles que ousam destoar, são execrados, alijados de seus bens, emudecidos com as armas mais sujas ou estigmatizados como loucos. 


Conclusão

Pouco resta do poder de pensar para a maioria, pouco resta do poder de se comover com a miséria e com a fome. Pouco resta do poder de indignação perante a violência. Pouco resta de fato de humanidade aos seres humanos. A banalização do sexo e do amor em musicas de qualidade sofrível e a publicidade que induz às pessoas ao consumo demente, são mecanismos práticos de dominação e conduzem a um caminho perigoso, o da aniquilação da humanidade. O que nos espera é um futuro sombrio, tenebroso, de fome e destruição, onde a violência e a morte serão, como aliás já são, fatos corriqueiros, cotidianos. Um futuro onde a arte e o sonho não terão mais lugar. O que nos espera é um futuro em que como zumbis nos devoraremos uns aos outros, até que não sobre mais um ser. Ao menos nenhum ser que foi um dia chamado de Humano.


Mais Informações:
Milton Santos: http://miltonsantos.com.br
Inácio Bueno: http://www.abarata.com.br/resenhas_livros_detalhe.asp?codigo=1143
Silvio Tendler: http://pt.wikipedia.org/wiki/Silvio_Tendler


26/10/2012

Cavalos Não Fazem Revoluções


Cavalos Não Fazem Revoluções
Luiz Carlos Barata Cichetto
"Existem apenas duas classes sociais, a dos que não comem e a dos que não dormem com medo da revolução dos que não comem." - Milton Santos. 

A frase acima, que brotou na minha cabeça com o primeiro lampejo da manhã, provocou uma torrente de lava. Uma quente torrente de pensamentos, alguns confusos pela profundidade da mesma, outros claros pelo mesmo motivo. 

Infelizmente não descobri as circunstâncias e quando frase foi dita ou escrita, o que seria de fundamental importância para sua total compreensão. Mas, separemo-la do tempo, isolando-a no contexto e época atuais, pois se a analisarmos dentro do contexto anos 60 ou 70, ela teria diretamente uma relação com a época da Ditadura Militar, e daquela crença dos "guerrilheiros" de que as massas um dia se levantariam contra a tirania militar, o que aliás nunca aconteceu. Mas analisando pelo ponto de vista atemporal, deslocada em qualquer tempo, e trazendo-a para os dias correntes e a luz dos acontecimentos que nos cercam neste principio de segunda década do terceiro milênio, seu significado muda completamente. Entretanto, os contextos históricos não podem e não devem ser desprezados quando se trata de uma declaração de alguém que foi atemporal e proprietário de uma cultura com poucos similares nestas terras. 

Frases como esta são reprisadas e exibidas em redes sociais com alarde por aqueles que se consideram revolucionários, sem, no entanto pararem e pensarem em seu significado real, sobre o que ela representa na prática ou na história. E se hoje, vivemos um caos, principalmente nas grandes cidades, com organizações criminosas disputando o poder a tapas e a balas podemos dizer que a frase de Milton está correta? Sim e não!

Se pensarmos na população concentrada nas periferias das grandes cidades, abandonada em barracos sem infraestrutura, ganhando salários miseráveis quando muito, vivendo em péssimas condições de sobrevivência como os "que não comem", sim, a frase estaria correta. Desamparadas pelo Estado, usadas como massa de manobra por políticos e humilhados de todas as formas, estas pessoas se bandearam para o lado que lhes era mais próximo e que lhes dava abrigo e segurança: o lado do chamado crime organizado, e se são estas pessoas, que ameaçam "o que não dormem", que seria na concepção do conceito imposto na frase do geógrafo brasileiro, os "poderosos".

Mas a resposta seria não se pensarmos que isso não se trata de nenhum tipo de revolução, mas sim de uma guerra pela sobrevivência, nunca uma revolução. Uma revolução é pautada por ideais e objetivos claros e comuns, é embasada e sustentada por uma causa comum, clara e definida. Seria o descaso do Estado com essas pessoas a causa determinante? Isoladamente sim, mas no geral não se trata de uma "causa", mas de uma desculpa. Em outras palavras, a revolução é comunitária, mas a guerra é individual. E o que temos são apenas guerras individuais travadas por vezes em grupos, sem objetivos claros, sem ideais e que causam apenas uma autêntica barbárie social, visto que entre essas duas classes a que se referem Milton Santos existe uma terceira, que no fim é quem paga a conta, ou seja, a que realmente não dorme, com medo das outras duas.

Essa bipolaridade de Milton, a parte toda sua vivência e cultura, me parece um tanto simplista se entendida literalmente, sem o contexto exato em que foi proferida. Mas como foi ela a base desta análise, continuo a analisá-la isoladamente, posicionando-a no atual cenário brasileiro.

Então pensemos: quem são "os que não dormem"? Num entendimento imediato e simples, seriam os milionários e os políticos, os poderosos que comandam o mundo. E será que eles realmente não dormem com medo dos "que não comem"?  Não creio, pois têm de muito a certeza de que todo o aparato de segurança os protegem. E quando falo em aparato, não me refiro apenas ao mais aparente, como forças militares e policiais, mas também aos aparatos muito mais eficazes e eficientes da propaganda, das mídias, que os protegem com uma invisível barreira. As ilusões são transformadas em realidade, empacotadas em belos embrulhos e entregues "aos que não comem" sob a forma de leis protecionistas, segregacionistas, e privilégios. Puras ilusões.

E a ilustração disso seria aquela de se pendurar uma cenoura na frente de um cavalo deixando que ele a persiga o dia inteiro sem nunca alcançar. A busca dessa "cenoura" é o maior fator de proteção. E assim "os que não comem" têm a ilusão de que um dia comerão e passam a defender aqueles que, diariamente colocam aquela cenoura na sua frente. A guerra é declarada não contra aqueles, mas contra outros cavalos para que mais dessa cenoura imaginária lhes pertença. E isto é uma guerra, nunca uma revolução.

Mas o terceiro ponto desse triangulo, que a frase de Milton Santos despreza, não é nem o dos cavalos que não comeriam, nem a dos fazendeiros fornecedores de cenouras imaginárias que não dormiriam, mas o daqueles que projetam e constroem celeiros,  aram a terra e plantam e colhem a cenoura. Enfim, daqueles que realmente produzem com o suor de seus rostos ou matraquear de seus neurônios tudo o que os outros dois disputam. E estes são os que de fato não dormem. E não dormem porque são obrigados a fornecer mais e mais cenouras aos primeiros para que criem suas ilusões, e não dormem por medo de terem suas plantações devastadas pelos iludidos cavalos ensandecidos, e principalmente não dormem por medo de serem massacrados por mostrarem aos cavalos que jamais alcançarão aquela cenoura. São estes, portanto, inimigos tanto de uns quanto dos outros.

Temos portanto não duas, mas três figuras metafóricas na história: o fazendeiro, o cavalo e o agricultor. E não tenho duvidas de que o agricultor é de fato aquele que não dorme. Ou como no velho dito popular, dorme de olhos abertos, com um olho no fazendeiro e o outro no cavalo. E acredito que não preciso lembrar ao distinto leitor de que nem fazendeiros nem cavalos fazem revoluções.

Para Saber Mais Sobre Milton Santos: http://miltonsantos.com.br/site/

25/10/2012

Sabonetes, Putas e Poesias


Sabonetes, Putas e Poesias
Luiz Carlos Barata Cichetto

Estou fumando feito um condenado. Condenado a que? Condenado por quê?  Condenado! Apenas condenado e pronto. Que importa por qual motivo, pouco importa qual o crime. Não existem inocentes. Que o réu levante para escutar sua sentença! A sentença, escrevi uma agora e escrevo outra na sequencia: os condenados abriram seus braços e morreram todos abraçados na praça da revolução. Foram torturados e mortos a golpes de tesoura. A tesoura lhes cortou a língua, violentou a poesia. O golpe de misericórdia veio do meio da multidão. A fome era próspera naqueles dias de muito chumbo e pouca poesia. O poeta ergue a bandeira e o general bate continência. Em que contingência? Nas celas da carceragem, ainda existem vidas secas e ramos de oliveira. Estou prestes a cometer suicídio. Bombas caindo sobre a Praça, pombas cagando sobre a catedral da Sé corroem o concreto. E de concreto apenas a deterioração da alma humana, feito o concreto corroído pela merda dos pombos da liberdade. Estou em paz com minha consciência. Eu lutei, estabeleci as metas da minha revolução e parti em meio à tempestade. Não reconheço sua autoridade e nem a paternidade de filhos que não a aceitam. Atirei em mim, corri pelas trincheiras e acabei morto atrás das linhas inimigas. Não conheço sua austeridade nem esqueço dos tiros em minhas costas. Alteridade! Bosta! Que fui fazer da minha vida? Agora não tem mais tempo e o tempo ruge e o leão branco me devora as carnes. Queimem tudo, ordena o general. Ontem não dormi, era a ultima noite de um condenado. Mas não perca seu tempo comigo, General, venda meus olhos, venda minha carcaça aos pedaços, os urubus pagam bom preço no mercado negro. Rock and Roll era a revolução, não a numero 9, mas uma revolução sem números nem nomes. Mas tomou o poder e não existem revolucionários no poder. Tenho saudades do tempo, tenho saudades do tempo em que acreditávamos no vento, do cheiro das ventas e das bucetas encardidas das meninas dos puteiros da São João. As putas de São João fediam a mijo, mas tinham bucetas cheirando sabonete. Não se fazem mais sabonetes como antigamente e não tem mais putas na São João. Nem na Ipiranga. Não se fazem mais putas como antigamente. Suas bucetas cheiram a perfume e suas axilas estão depiladas com um aparelho de 10 lâminas afiadas. E agora elas gozam. E riem. De mim! Ah, tenho saudade das putas, dos sabonetes e da poesia. Esqueça, maldito, dos cheiros das putas, dos sabonetes e do cheiro da poesia. Toque a marcha nupcial, que a fúnebre não presta a essas horas. Nada mais tem importância, porque o mundo que eu conheci acabou faz tempo. O tempo acabou. E eu, encostado no paredão, estou fumando que nem um condenado.

24/10/2012

Ainda Existem Homens Fortes?


Ainda Existem Homens Fortes?
Luiz Carlos Barata Cichetto

Dia desses, comentava com meu pai de 80 anos e getulista assumido, sobre o fato de eu estar relendo "Olga" de Fernando Morais, e sobre o que fora de fato a chamada "Intentona Comunista". No fim do meu resumo, ele saiu com a seguinte observação: "É, naquela época ainda existiam homens de verdade!" E então me pus a pensar sobre o que ele dissera e que parecia em principio ser de uma simplicidade extrema com um toque de machismo, mas cheguei a conclusão que ele tinha absoluta razão. Afinal, um homem como Luiz Carlos Prestes, militar de carreira, atravessar quase o país inteiro comandando um bando de esfarrapados e armados quase que apenas com o ideal de libertar um povo das garras de uma ditadura sangrenta e humilhante, não é o que teríamos hoje. Ser torturado e ver sua esposa ser deportada para dentro da Alemanha Nazista, sabê-la morta em câmaras de gás e mesmo assim, ainda continuar acreditando e lutando pela libertação de um povo que nada fez para ao menos caminhar ao seu lado, não é exatamente o tipo de atitude que veríamos nestes dias. 

Até o final do Século XX, mais precisamente até os anos 1980, ainda existiam tais homens, que, por um ideal se submetiam calados à tortura; que se submetiam a miséria e a fome em nome de um povo; que se submetiam ao exílio e a falta de condições de vida por lutar por um povo que sequer tinha consciência de sua existência e que vibrava a cada gol numa Copa do Mundo. Pessoas como Olga Benario, Carlos Lamarca e Carlos Marighella e outros trocaram suas vidas por um ideal, deram suas vidas pelas vidas alheias, por um sonho de liberdade não pessoal, mas de um povo inteiro.

E eu então pergunto: existem hoje pessoas com tal espírito? Com tal desprendimento, com tamanho "amor" de fato à raça humana de uma forma geral?  E eu mesmo respondo, sem nenhuma chance de estar infelizmente errado: não existem! E essa conclusão é a coisa que mais me causou perturbação. A frase de meu pai faz absoluto sentido, mas por quê? Seriam hoje os homens feitos de uma matéria diferente daqueles que a 30, 50 ou 80 anos existiam? Claro que não! Onde, então foram parar esses "homens de verdade"? 

Provavelmente precisaríamos de uma completa análise histórica a partir dos últimos 80 ou 100 anos, que englobasse todos os fatores inerentes para compreendermos tal "desaparecimento". Ou talvez a coisa seja um tanto mais simples. Nasci ainda no final dos anos 1950 e passei minha infância, adolescência e parte da vida adulta debaixo de uma Ditadura Militar no Brasil. Conheço, portanto, o comportamento e o pensamento de meus contemporâneos. E tive filhos e os vi crescer justamente a partir do final desse processo e, aparte a educação que lhes dei, percebo o quanto essa geração e as posteriores passaram a enxergar o mundo, de uma forma mesquinha, vaidosa e ignorante.

O final dos anos 1980 viu a derrocada do sistema Socialista no mundo, através do fim da União Soviética e da derrubada do muro de Berlin. E, mais do que simbolizar o fim de um sistema de governo, isso deixou órfão todos os idealistas, quebrando suas referências. A espécie humana precisa das dualidades, das referências, dos opostos. Precisa de opções que representem um caminho: Bem ou Mal, direita ou esquerda e assim por diante. E o Socialismo representava a outra ponta da corda, a opção, o caminho para aqueles que acreditavam que se do lado do Capitalismo as coisas eram ruins existia a outra ponta, o Socialismo, como a referência. Existia a busca por um outro ideal, uma tentativa, um sonho, que com o fim do Socialismo morreram, deixando órfãos todos os idealistas. Pois a parte a crença no socialismo em si como sistema correto ou não, justo ou não, era simplesmente o fato de existir a opção que mantinha os ideais vivos. E os ideais é que fazem com que pessoas vivam ou morram por eles. Sejam quais forem.

E aí é que realmente está a cerne da conclusão perturbadora a que meu pai, sem qualquer estudo filosófico ou histórico chegou, mesmo sem ter consciência: falta aos homens de hoje um ideal. Um ideal que não se encerre em si próprio, em suas necessidades vitais de vaidade e dinheiro. Claro que muitos seres humanos vivem bem sem um ideal fora de sua própria existência, claro que muitos vivem apenas pelo “ideal” que seja apenas comprar um carro novo ou ter dinheiro para beber, mas creio que a essência humana seja coletiva por natureza própria ou pela da moral religiosa arraigada há milênios, mas é baseada sempre num por que, num motivo. E porquês e motivos são as bases do ideal. 

O ideal gera comportamentos e atos. Não há como isolar. Isolados são efêmeros e desprovidos de verdade, desprovidos de ação. Comportamentos sem idéias são vazios. Podem ser reativos, mas não causam efeitos e se o fizerem são de curta duração ou de fraca expressão. Agora, comportamentos baseados em idéias e ideais são duradouros e fortes, representando o crescimento da humanidade como espécie.

Enfim, a conclusão que chego a respeito da afirmação de meu pai é que não existem mais "homens" de verdade por não existirem mais ideais. Os ideais fazem os homens fortes, os faz viver e morrer. Sem eles, somos apenas uma massa uniforme de seres amontoados preocupados apenas com comportamentos despidos de tudo, ocos e mecânicos.

23/10/2012

Caminho Suave


Caminho Suave
Luiz Carlos Barata Cichetto

A angustia que não larga, a boca amarga e o cigarro que a gente traga. Trago comigo ainda um sonho, mas feito aqueles de padaria, azedou o creme. O creme não compensa e o que compensa é o que? Não sei, mas em compensação brinco com as palavras porque gosto de brincar. A brincadeira é minha e não deixo ninguém mais brincar. Quer brincar? Então pegue outras palavras e vá brincar em outro lugar. Brinque com as suas próprias palavras e não com as minhas. As minhas me pertencem, minha mãe me deu. Eu era criança, era pequeno e era doente. E minha mãe passava roupa e na outra ponta da mesa eu aprendia a escrever. E eu achava que as letras eram meus brinquedos. E eram mesmo.


Os melhores brinquedos que eu já ganhei. "Caminho Suave" Nunca foi suave esse caminho de brincar com as letras, depois com as palavras, mas foi o caminho que eu escolhi. Nem foi tanto escolha, mas um processo natural. Minha mãe passava roupa das vizinhas e ganhava um trocado. E eu, que aprendia a ler e escrever naquela cartilha, nenhum. Minha mãe sorria e eu aprendia. Não tinha noção do caminho, queria apenas brincar, gostava daquela brincadeira. O som das letras, primeiro separadas e depois juntas, era belo. Minha mãe cantava e eu soletrava. Uma bela cena doméstica, coisa de filme francês na periferia de São Paulo. Sabia que um dia eu iria conseguir ler aqueles livros que estavam no bojo do sofá-cama. E um dia consegui. E depois, de "A Tartaruga e o Gato", passando por "Lone Ranger", que foi chamado de "Zorro Americano", presentes das minhas primeiras professoras, cheguei a Joyce e Calvino. E também passei pelas palavras perigosas de Marx, pelas indecorosas dos Arthur, Miller e Rimbaud; pelas incestuosas de Augusto e Genet; pelas vertiginosas dos Charles, Baudelaire e Bukowski e sem contar, é claro, com as maravilhosas de Edgar e Friederich.

O caminho nem sempre era suave, mas era o caminho que eu queria. E nem sabia ainda o que era angústia, cigarro e dor de cabeça. Não tinha amigos, apenas livros; não tinha heróis, apenas livros; não tinha problemas, nem namorada, nem dinheiro, apenas livros. E sonhos que não azedavam. 

Ainda hoje gosto de brincar com as palavras, adoro quando as espremo e aperto e elas gemem, gritam, choram e riem. São belas e são vivas. Quase que diariamente, sento-me a mesa, apanho uma porção delas e começo a colocá-las umas ao lado das outras até chegar ao final de uma linha, depois embaixo delas outras e outras e no final tenho um brinquedo pronto, vivo e eterno que por vezes dou nome de poesia. Brinco e brinco com esse meu novo brinquedo de armar até a noite, quando ele passa a ter vida própria. Então eu o liberto para que outras crianças crescidas como eu e talvez também angustiadas com seus sonhos que azedaram, possam brincar com o mais magnífico brinquedo que um ser humano pode ganhar.

E sempre agradeço a minha mãe, não por ter me mostrado o caminho da vida através de seus rígidos conceitos éticos e morais, pelos tapas rústicos e pelos beijos carinhosos, mas a agradeço pelo maior e melhor brinquedo que já ganhei na minha vida, um brinquedo que nunca irá se partir, nunca irá quebrar: "Caminho Suave".


22/10/2012

O Que Nos Espera?


O Que Nos Espera?
Luiz Carlos Barata Cichetto

Ainda espero o retorno de um amigo, uma ligação perdida, uma ligação não atendida. Ainda espero que alguém leia minhas poesias, que fale sobre uma crônica; que compre um livro meu e que aceite uma dedicatória. Ainda espero um toque na campainha ou palmas no portão: "Ô de casa!" Ainda espero um abraço filial, agradecimento vital e um café matinal com pão com gergelim. Ainda espero a comida, ainda espero pagar minhas contas. Ainda espero, e espero, espero.... Minhas gatas ronronam e querem apenas um afago. Apago o cigarro e meus dedos desaparecem naqueles pelos macios. Elas não esperam nada a não ser um afago. Pago, não pago, esqueço a dor de estômago e a angustia e elas sorriem com seus miados. A casa é gelada, o sol não  aparece na janela. Quero o Sol nascente, um sol descente e a Lua é apenas um reflexo de mim. Sou lunático, canceriano, mas não acredito em horóscopo. Tenho medo da noite e o dia não compra meu sossego. A angustia me consome e eu fumo dezenas e dezenas de cigarros por dia em busca do calor. "Aguenta firme, Poeta, que o mundo acaba logo, antes do fim do ano".  E ainda espero o fim do mundo, espero o mundo... E o fim. Quem pensa por mim? Não quero choros nem velas e nem fitas amarelas gravadas com os nomes delas. Ainda espero e espero... Mas que tanta espera é essa que sentado não cansa? Quem espera nunca alcança e a esperança é a única que morre. Não espere por mim nem de mim. Não espere. Não perca por esperar e nem espere por perder. Quem perde nunca espera... Perder.. E eu espero... Sentado na porta da cozinha, as panelas estão vazias e eu não sei o que mais esperar. Um robô mijou na esquina e era gasolina que escorria. Alguém tem um fósforo? Acendo e corro. Fogo eu não apago, fogo eu afago! Queima! Minha cabeça queima e teima em pensar e não consigo caminhar. Minhas pernas estão cansadas e doem demais. Pesam toneladas! A idade não pesa, o que pesa é a dor da exclusão. Sou sensível à insensibilidade. E ainda espero. Daqui a pouco chega minha mulher do trabalho, sempre com um beijo nos lábios e a esperança nos olhos. Ela tem olhos lindos, cheios de esperança que eu não quero sepultar. Espero! Ela acredita, ela tem fé e a fé é o que a gente é. É? Espero que seja! Ela conta que sempre esperou por mim e eu lhe conto sobre o que espero de mim. E sei que o que ela espera é apenas ser feliz... E eu não sei o que é esperar. As gatas miando, caminhando sobre o teclado e eu acho que elas são felizes sem esperar nada a não ser comida, água e um chamego. As gatas são felizes? Agora preciso parar de escrever, lavar a louça e deixar os pratos limpos e prontos para o dia que tivermos comida para colocar dentro deles. Ah, mas ainda temos computadores e Internet, então não precisamos comer... Drogas não nos faltam. E ficamos aqui nos olhando e pensando sobre o que esperamos da vida. E ela, o que espera de nós? A vida está do lado de fora da porta e não atendemos a campainha "Ô de casa!", grita ela, e nos trancamos, passamos o ferrolho na porta e esperamos que ela se vá. Que nos deixe aqui, quietos a frente de nossos computadores, vivendo... Esperando viver! O que nos espera?

Esquizofrenia


Esquizofrenia
Luiz Carlos Barata Cichetto

Tem algumas coisas escritas que eu guardo em silêncio dentro de um baú de ossos. Ou seria dentro de um saco de tripas? Que coisas seriam essas, ainda querem saber os curiosos furiosos, aqueles que amam a desgraça e o segredo, revelados em programas vespertinos de Televisão? São coisas que não conto nem a mim, porque o medo é aliado da morte e eu morro sem contar. Conto até dez, até cem, até um milhão se for necessário, mas não entrego nem sob tortura o que existe guardado dentro de mim. A morte foi a primeira a chegar à cerimônia do meu velório e eu nem a convidei. Intrometida! Ela sentou-se ao lado do caixão, apanhou uma flor e ficou ali, cheirando rosas podres. Cravos de defunto e todo mundo olhando para ela com olhos de medo. Eu não tinha medo dela, da morte, tinha medo de mim. Tinha medo da dor que me afastou da vida, ainda pensou o poeta antes da corda baixar seu caixão naquele tumulo gelado. Todos estão mortos naquele cemitério. Os coveiros não matam ninguém. Apenas enterram. Coveiros não são portadores da morte, apenas transportadores. Que coisa mórbida! Ainda pensou minha mãe ao ler meus escritos, aquelas coisas que guardei por muito tempo debaixo do colchão. Muita gente guarda notas de dinheiro debaixo do colchão, outros guardam bilhetes românticos, pedaços de sonhos. Eu guardo segredos e pedaços de minhas tripas. Chegaram noticias do exterior. Do mundo exterior. Escuto vozes... E elas não gostam de ninguém. Estamos em um mundo esquizofrênico, endêmico, acadêmico. E o pior, anêmico e ecumênico. Escuto vozes que falam comigo, escuto as vezes vozes que falam de mim. Vozes as vezes que são silenciosas, sussurrantes e que me contam segredos terríveis sobre mim mesmo. E pedem que eu guarde segredo. E escrevo coisas, num caderno espiral, anoto coisas com caneta vermelha, qualquer cor menos azul, que azul me lembra escola e escola me lembra ditadura e dor. Anoto poemas, idéias e sonhos. Meu baú de ossos transborda, esqueci a chave no banheiro da estação rodoviária. A chave do baú. O saco de tripas rasgado, o saco de merda do mundo de Charles, o alemão. "Como vão as coisas, Charles?" O francês, o alemão e o brasileiro dos morros... Pensa que não sei o que acontece quando a gente morre? Sei, sim! Ressuscitei ontem pela terceira vez e era sábado... Ou seria domingo? Estou sentado em frente a um espelho e não enxergo nada além do tempo atrás de mim. Sou um quadro surrealista! O tempo escorrendo pela beirada da mesa, feito o relógio de Dali. Qual é o resultado da matemática da vida? Sempre é zero. Não importa a operação, a conta que se faça que o resultado sempre será igual a zero. Tudo é matemática, meu querido artista. A matemática da música, da pintura... A matemática da escrita, somando letras a letras, formando palavras cujas somas dão por resultado uma poesia ou um tratado homérico. Não, eu não guardo nada em silêncio, nem o próprio silêncio, mas sou guardado por um silêncio psicótico, a ignorância e o dinheiro silenciam as almas e estou cansado de pregar... Pregos numa parede podre que não suporta mais nenhum prego. Quebrou o cabo do meu martelo, sinto informar. Quer um prego? Estou cego, não consigo pregar. Sinto a dor do mundo, o sangue que escorre pelas ruas e o cinismo dos políticos em entrevistas de jornal. Quero um mundo sem política e sem políticos, sem cinismo e sem poderosos esmagando crânios. O crime não compensa. No cinema tudo sempre acaba quando acende a luz, mas na vida real, essa que está aqui do meu lado querendo meu sangue e cheirando podre; nessa, o que acaba quando se acende a luz é a verdade. Mentiras são monstros criados no escuro? Nem sempre, pois as maiores mentiras são criadas em gabinetes bem iluminados, com lâmpadas fluorescentes e ar condicionado. As verdades brotam no escuro. Quem me conta mentira? Quem há de me contar a verdade? Quem há de me contar? Apague a luz, abra a porta. O mundo acabou e não há mais nada. Ah, mulher, porque não nos conhecemos antes, quando o mundo ainda existia? Porque não nos conhecemos quando ainda existia esperança? Agora não escuto mais vozes, não vejo coisas e nem sinto... Mais nada!

19/10/2012

As Portas da Decepção

As Portas da Decepção
(ou A Poesia Está Morta! Viva a Poesia?)
Luiz Carlos Barata Cichetto
"Este é o fim / Belo amigo / Este é o fim /
Meu único amigo, o fim /Dos nossos elaborados planos, o fim 
De tudo que permanece, o fim/ Sem salvação ou surpresa, o fim
Eu nunca olharei em seus olhos...de novo
Você pode imaginar o que será? / Tão sem limites e livre
Precisando desesperadamente...de alguma...mão de estranho
Numa terra desesperada?..."
"The End" - The Doors - 1968
Nos últimos tempos comecei a sentir aquele buraco que muitos acreditam ser na alma. Um buraco que acaba gerando angústia e demais sentimentos de tristeza e pena. Depressão? Diante de tanta violência absurda e descontrolada exibida em todas as mídias de forma gratuita e inconsequente, onde extermínios de pessoas são mostrados da mesma forma que se mostra uma receita de bolo, numa sociedade cada dia mais anestesiada pela dor, só resta mesmo o quê? Escrever poesia? 

Durante muito tempo, a maior parte da minha existência que já conta mais de meio século, sempre acreditei que sim, que seria esta a saída, que a poesia seria o antídoto para tanta estupidez humana, para tanta ignorância, para tanta falta de sonhos e objetivos. Mas agora sou obrigado a confessar que nisso, como em tantas outras coisas, eu estava errado, pois não pode a poesia sobreviver diante de tanta mazela, de tanta fome, de tanta dor. Não pode, definitivamente não pode!

Há cem anos, um ladrão de bicicletas era manchete de jornal e as pessoas se estarreciam com um crime violento. E nem precisava ser tão violento. Não me cabe aqui analisar o que levou a violência a ser cada dia mais banalizada e portanto menos "chocante". Deixo esse trabalho aos estudiosos de comunicação, aos filósofos e matemáticos, mas o certo é que as gerações anteriores tinham na poesia o contraponto às suas angustias. O prazer intimo de contemplação das artes era necessário a combater o "tédio viciante" numa sociedade que vivia ainda sob a égide da emoção.  

O acesso á informação e as artes eram restritos e isso fazia com que apenas aqueles que se interessavam realmente por elas, seja como produtor ou consumidor, tivessem acesso. E embora isso criasse de certa forma uma segregação, onde os mais pobres não tinham acesso, de certa forma "filtravam" e davam às artes um ar aristocrático que de fato, me desculpem os socialistas de ultima jornada, necessitam.

A massificação da mídia e o crescente "poder de criação" dado àqueles que sequer tinham uma capacidade mínima de raciocínio artístico foi nivelando por baixo a qualidade artística. A era da Informática, deflagrada no final do Século XX jogou finalmente a chamada pá de cal sobre o defunto da Arte, com qualquer pessoa com acesso a um computador e ligação com a Internet passasse a se julgar "artista" e a "produzir arte". Enfim, muita gente se achando no direito de "criar arte", sem o mínimo necessário para criar algo além de galinhas em seu próprio quintal. Esse comportamento, gerado pelos poderosos em busca de mais e mais dinheiro e poder, criou a ilusão de que todos podem falar, todos podem escrever, todos podem ser artistas retirando dos verdadeiros artistas e intelectuais o “poder” de polarização consciente. É parte do mesmo jogo! Ilusionismo barato de um mágico de quinta. Em palavras mais simples, aniquilaram os chamados “formadores de opinião”, dando a idéia de que todos o podem ser, e então, aquele ser cujo cérebro é menos evoluído do que o de uma ameba, se considera no direito de auto formar a sua e “formar” a alheia, num jogo cujo final é o emburrecimento e a involução cultural do ser humano. 

E também é fácil perceber, pelo menos para quem quer, que esse mesmo esquema foi usado em tudo, da política aos esportes, da educação ao sexo, e das relações humanas como um todo ás artes. Criaram a ilusão de que todos podem tudo usando por pano de fundo o efêmero conceito de liberdade. Então, baseado nisso, as pessoas passaram a se sentir poderosas, achando mesmo que podiam ser tudo o que quisessem, mesmo que não tivessem capacidade para nada. E isso, no campo artístico acabou gerando uma realidade em que já não existem leitores porque todos se consideram escritores, não existem mais espectadores porque todos se julgam músicos e por ai a fora. As livrarias estão entupidas de livros que não são comprados e se comprados nunca são lidos. Milhões de bytes circulam sob a forma de arquivos digitais de musica e cinema na Internet, que são baixados gratuitamente e nunca são escutados. O importante é fazer com que os tolos pensem que tem o poder, que podem tudo, que não precisam mais pagar por nada. Uma tática de dominação antiga.

Fora o caos artístico que esse comportamento criou, o pior acabou acontecendo na sociedade como um todo e que culminou com essa violência estúpida que é tratada e sentida como natural. Esse sentimento de que "todos podem tudo", esse sentimento de poder dado a quem não consegue sequer gerir a própria existência foi diretamente responsável por estarmos vivendo numa sociedade em que não existe mais respeito a nenhum tipo de hierarquia, onde todos os valores autênticos e na maioria das vezes necessários foram jogados ao chão e pisoteados. E não falo sobre valores morais que podem e devem ser contestados, mas de valores éticos essenciais à sobrevivência da espécie. Até mesmo a diferença básica entre esses dois conceitos foi escondida propositalmente para criar uma confusão necessária no mecanismo de dominação. E jogando por terra esse valores éticos nivela-se tudo por baixo, criando-se a partir daí um estado de confronto, ao contrário do que supõem os filósofos coletivistas. 

E num estado em que tudo é visto desta forma, o acirramento dos ânimos, o confronto verbal e armado é inevitável. E quem criou isso ainda quer mais, feito um monstro insaciável que não vê fim para sua fome. E o que pode se feito para de fato mudar tal estado de coisas? Escrever romances e poemas? Pintar quadros? Não, decerto que não! Abandonemos, portanto as artes, deixemos de lado as canetas, os pincéis e as máquinas de escrever guardados dentro da memória e presos num tempo em que Arte era feita por artistas, num tempo em que o conhecimento valia mais que drogas, num tempo em que almas valiam mais que armas, num tempo em que sonhos não eram ilusões criadas por poderosos, mas objetivos sinceros e concretos.

Estamos alegremente vivendo a era do Fascismo Fascinante, muito mais perigoso que qualquer outro. As liberdades são colocadas como centro das atenções e servem de cortina de fumaça aos interesses escusos de bandidos cujos interesses estão no poder e no dinheiro. Somos todos marionetes alegres e fascinadas curtindo e compartilhando tolices em redes sociais. Onde entra a Poesia nisso? A poesia não entra nisso, ela está morta. E que não reviva, que não ressuscite! “É o fim, belo amigo”!

18/10/2012

Ayn Rand



“Ayn Rand, nascida Alissa Zinovievna Rosenbaum, (São Petersburgo, 2 de Fevereiro de 1905 - Nova Iorque, 6 de Março de 1982) foi uma escritora, dramaturga, roteirista e controversa filósofa estado-unidense de origem judaico-russa, mais conhecida por desenvolver um sistema filosófico chamado de Objetivismo, e por seus romances The Fountainhead (que foi lançado no Brasil com o título de "A Nascente" e deu origem a um filme homônimo conhecido no Brasil por "Vontade Indômita") e Atlas Shrugged ("A Revolta de Atlas" no Brasil). Nascida e educada na Rússia, Rand imigrou para os Estados Unidos em 1926. Ela trabalhou como roteirista em Hollywood e teve uma peça produzida na Broadway, em 1935-1936. Ela alcançou a fama com seu romance The Fountainhead, publicado em 1943, que em 1957 foi seguido por seu melhor e mais conhecido trabalho, o romance filosófico Atlas Shrugged.

Sua filosofia e sua ficção enfatizam, sobretudo, suas noções de individualismo, egoísmo racional, e capitalismo. Seus romances preconizam o individualismo filosófico e liberalismo econômico. Ela ensinava:

- Que o homem deve definir seus valores e decidir suas ações à luz da razão.
- Que o indivíduo tem direito de viver por amor a si próprio, sem se sacrificar pelos outros e sem esperar que os outros se sacrifiquem por ele.
- Que ninguém tem o direito de usar força física para tomar dos outros o que lhes é valioso ou de impor suas idéias sobre os outros

Um admirador de Ayn Rand organizou, em 1972, o Partido Libertário Americano, cujo programa original tinha os traços que ela mesma defendia nos anos 40. Um de seus principais pupilos foi Alan Greenspan, mais tarde presidente do Banco Central dos Estados Unidos (a Reserva Federal).
(Fonte: Wikipedia)
Entrevistas Com Ayn Rand








16/10/2012

Programa Momento Rocktime # 57


Programa Rocktime, do amigo Jackson Rocktime, falando entre outras coisas, sobre meu livro de poesia "Cohena Vive!" Assistam, comentem e compartilhem. O programa Rocktime vai ao ar também pela TV em Ponta Grossa e divulga sempre, alem de noticias do Rock Mundial, bandas e artistas independentes. Vale a pena acompanhar o programa inteiro!!!

13/9/2012

Momento Rocktime # 57
13/09/2012
(Necropsya, Cohena Vive, Barata Cichetto, Kiss, Cavaleiro)

Elogio à Mentira


Elogio à Mentira
Barata Cichetto

Falamos mal da mentira, a chamamos de prostituta e megera
Mas sem a mentira não existe a poesia, o sonho ou a quimera
Ah, quanto somos hipócritas em combater a mentira e ensejos
Porque nela, na mentira, estão todas as artes, sonhos e desejos.

Sem a mentira não há a paixão que sustente, relação que aguente
E pensando bem não existe verdade sem a mentira que a sustente
Pensando melhor não existe a verdade, apenas mentiras repetidas
Que reditas e recônditas as transformam em verdades mentidas.

A mentira é o político, o poeta e a prostituta; a mãe dos desgraçados
A criança e o ancião, a esposa e a amante, Deus e o Diabo abraçados
Brancas ou negras, pequenas ou grandes não existem meias verdades
Mas por semântica a mentira é sempre um inteiro ou duas metades.

E encerrando o presente elogio, cuja mentira é um poema horroroso
Confesso ser eu um falso poeta, um ser desprezível e um mentiroso
Que um arremedo de ode á falsidade da mente mentirosa ora retira
Pois tal não fosse jamais escreveria um mentiroso elogio à mentira.

Do Livro: "Cohena Vive!" - Editor'A Barata Artesanal
Registrado no E.D.A. da F.B.N Sob Nº.562.916 - Livro 1.073 Folha 473
Para Saber Mais ou Comprar o Livro:  http://www.abarata.com.br/livros.asp?secao=L&registro=7


Barata


Barata
Barata Cichetto

Quando Quero Sou Anjo,
Quando Desejo Sou Demônio.

Quando Não Quero Nem Desejo,
Barata!



15/10/2012

Frases Soltas, Pensamentos e (In)Consequencias: Reconhecimento

Frases Soltas, Pensamentos e (In)Consequencias IV: Reconhecimento
Luiz Carlos Barata Cichetto
RECONHECIMENTO: Ter um trabalho reconhecido por sua qualidade consiste basicamente em duas coisas:  1 - Fazer o que a gente gosta e gostar daquilo que a gente faz - Isso se chama honestidade. 2 - Não deixar a vaidade acima da verdade e da arte - E isso também se chama honestidade.

13/10/2012

Kerouac

Kerouac
Luiz Carlos Barata Cichetto

"Pômos do pênis a ponto de semear.
Mais gargantas cortadas que grãos de areia.
Como beijar minha gata na barriga.
A suavidade de nossa recompensa."
(Jack Kerouac. Poema 230 do livro Mexico City Blues)

Não há dureza nas palavras, a dureza está nos corações. Kerouac sabia disso. Morro e não mato, sou poeta, não sou coveiro. A morte tem batido em minha porta diariamente. Tranquei a porta e engoli a chave, portanto é a chave que liberta a morte e não a chave da liberdade que está dentro de mim. Ninguém consegue pensar com o estômago doendo de fome e tem horas que sequer lembro do meu nome. Meu nome próprio, impróprio para menores. Não ouso sentir, não ouso mentir. Estou amortecido e não tenho crença alguma que possa me dar consolo. E o não crer não é a minha religião. Não tenho palavras para proferir, nem armas para ferir. O silêncio se faz sobre minha Poesia. Tem um livro que ainda quero ler antes de morrer, mas ainda não sei qual é. Sempre li cada livro pensando que seria o ultimo antes de morrer. E sempre escrevi cada poesia como se ao terminá-la eu estaria morto sobre a folha de papel, que meu sangue escorreria sobre ela se misturando às letras. Estou escrevendo agora e não sei como isso acaba. Estou sempre a perigo e nunca corri com meus versos em portas de editoras, mercadores malditos, em busca de glória. Não existe mais literatura, apenas coisas como estas que escrevo agora. Somos apenas vaidosos que acreditam que colocar palavras umas depois das outras, feito isto que faço agora, possa ser um dia considerado literatura. Nunca! Esqueçamos isso, contemporâneos. Não temos a cultura e a clareza de idéias que nos possibilitaria sermos escritores. Nunca seremos. Nunca soubemos compreender a verdadeira literatura, muito menos a Poesia. A Poesia morreu na Europa há mais de 100 anos, no fim do século XIX. Acabaram-se os salões e os saraus. Poesia escrita em teclados de computadores não tem nenhum valor. É lixo digital. Não se enganem com o contrário. Eu mesmo não escrevo mais poesias desde que minha máquina de escrever quebrou. Não existem mais bobinas de telex, não existem mais máquinas de escrever e não existem mais poetas. Escrevo sob o efeito de cafeína e nicotina, as palavras saem feito fumaça da minha boca. E eu não estou interessado em saber qual será o futuro dos livros, se em papel, bytes ou implantes dentro de cérebros. A mim interessa saber se um dia a poesia renascerá. Não há dureza nas minhas palavras, não há dureza em nenhuma palavra. A dureza está apenas nas mentes. Kerouac não sabia disso, afinal.

12/10/2012

12/10/2012

Contramão

Contramão
Luiz Carlos Barata Cichetto

Escrevo poemas sentado na guias que margeiam as ruas. E por linhas rotas e esquinas tortas, escrevo poesias mortas. Jogo a garrafa, acerto o passo e refaço cálculos. Chove e faz frio e não conheço um caminho que não tenha uma placa indicando contramão. Que merda! Estou sempre caminhando na contramão, com carros passando por mim em sentido contrário. Estou certo eu ou estão certos os carros, que passam e me atiram lama da chuva que empossa no buraco? A lama está em seu lugar. O buraco também! O que destoa dessa paisagem são os carros e as placas de contramão. As ruas me pertencem, nasci com elas e nós, eu e as ruas, não nascemos para sermos contramão. Não! Nascemos, eu e as ruas, para sermos caminhos, passagens, rotas. A contramão é por conta da autoridade constituída. Não por mim, nem pelas ruas. Constituída autoridade que nem eu nem as ruas reconhecemos. E se somos contramão, qual é a mão certa, Senhor Autoridade Constituída? Sabemos o que somos, eu e as ruas, porque nascemos com nossos destinos traçados, não em pedaços de papel onde estavam escritos poemas ou mapas, mas nascemos de outras ruas e de sonhos e morremos também em outros sonhos e ruas. Nuas. Carros passam pelas ruas e eu na contramão indicada por uma placa. Eu não tenho placas, não aceito placas. Não sou rua. Sou caminho.

12/10/2012

Se Mate!

"Se Mate!"
Barata Cichetto

Existe Drummond, existe Carlos
Existe Marighela, existe Carlos
Existe Lamarca, existe Carlos
"Não Se Mate", Carlos!
Não se mate, Luiz Carlos!
Porque existe Prestes e existe Luiz Carlos
Existe Maciel e existe Luiz Carlos.
E ainda assim, existe Cichetto
Mas não existe Luiz Carlos.

11/10/2012

Cabeças de Tomate

Cabeças de Tomate
Luiz Carlos Barata Cichetto


Dia desses, relendo "Olga", de Fernando Morais, deparei com um detalhe, sobre a Policia Politica do Ditador Getulio Vargas, que era chamada pela população de "Cabeças de Tomate", por causa dos quepes vermelhos que usavam. Era uma milícia truculenta, ignorante e inculta, com o objetivo de caçar "terroristas". E esses chamados terroristas nada mais eram que pessoas que percebiam que o Brasil estava sendo dominado por tiranos burros e truculentos e tentaram, em vão, libertar seu povo.. Os "Cabeças de Tomate" das décadas de 1930/40 usavam armas como metralhadoras e truculência física para prender, espancar e torturar "inimigos do regime" ditatorial de Getúlio Vargas, que foi um dos mais vorazes e furiosos de todos os tempos. Matou muita gente, torturou sem piedade, massacrou sem dó. E parece que eles renasceram depois de mais de 70 anos.

Recentemente fui vítima dessa reencarnação maldita dos "Cabeças de Tomate" modernos. Não que fosse eu um guerrilheiro moderno tentando libertar o Brasil das botas de ditadores sanguinários, mas o objetivo da minha "guerrilha" era outra: o de fomentar o debate em cima de um fanatismo burro (todo fanatismo é burro) que faz com que as pessoas criem deuses intocáveis dentro das artes, particularmente. Basicamente os artigos mostravam que determinados artistas tinham seu valor exacerbado e superestimado, sendo que suas obras eram incoerentes com suas vidas, que pregavam exemplos e não os viviam e que, em outras palavras, enganavam os incautos, sendo portanto, carismáticos e perigosos lideres que incitavam pessoas a agirem de acordo com suas vontades. Em outros mostrava através de relatos pesquisados e comprovados de plágios, demonstrando o caráter falho (e portanto humano) desses ídolos. O tempo todo o mote era: pensem, não admitam ser levados pela midia desonesta que lhes impõem ídolos com o objetivo de fechar sua mente com o único propósito do consumo cego. Pensem que ídolos não são deuses e coisas assim. Mas o que aconteceu foi uma defesa cega desses ídolos e desse Estado de Coisas, usando como armas ataques violentos e fanáticos contra a minha pessoa, até com ameaças físicas. Pouquíssimos foram os que debateram e até discordaram com base em argumentos lógicos ou opiniões sensatas.

E traçando agora alguns paralelos com a Policia Política do Sr.Vargas e a Policia Política(mente Correta) dos dias atuais, ambas representadas pelos "Cabeças de Tomate", "fardados ou não, amados ou não" percebemos que ambas tem muitas coisas em comum. É referido na história que os "Cabeças" de Getulio e Filinto Muller eram assim chamados por causa da cor dos quepes. Será? Ou seria porque tinham cérebros tanto quanto tomates, ou couves, ou cebolas? Eram paus mandados que invadiam casas e prendiam aqueles que ousassem desafiar o sistema dominante. Esses "ousados" intelectuais, jornalistas, artistas e até mesmo outros militares que pretendiam abrir os olhos do povo para a sua condição de "ovelhas". No fim, as ovelhas nunca deixaram de balir e os ousados foram exterminados nas masmorras do Ditador.

E o que, portanto, difere as duas eras de Cabeças de Tomate? Apenas o tempo, o uniforme e os meios. Não estamos mais em 1940, eles não mais usam quepes vermelhos, mas cabelos longos ou cabelos curtos penteados com gel. E os meios, não são mais metralhadoras compradas pelo Exército alimentados por mão de obra escrava, mas teclados de computadores que são alimentados pelas mesmas mãos. Não dão tiros, não prendem, não espancam fisicamente, mas destroem aqueles que ousam pensar e principalmente falar, que ousam imaginar estar contribuindo para que as pessoas se libertem dessa vocação de gado encurralado nas garras do poder.

Aqueles morreram sem ver seu sonho realizado e aqueles poucos tolos da atualidade que ainda acreditam nesse sonho de libertar uma raça do jugo de uma ditadura bem maior e bem mais destrutiva que a militar e que não arranca o sangue, mas destrói a mente, também em breve sucumbirão e serão esquecidos pela história do mesmo jeito que os outros.

A história tem sido sistematicamente mudada e esquecida. E aqueles que ainda insistem em mudá-la, aqueles que insistem em construir uma espécie melhor, aqueles que construíram de alguma forma sua história baseada em lutas por alguma causa são desacreditados, taxados de loucos e jogados na escuridão. Desacreditar os mais velhos fazendo-os parecer inúteis e tolos, dignos apenas de lugares privilegiados em atendimento publica e em filas de espera é jogar no lixo a história.

Prega a máxima que a história é contada pelos vencedores. E que sempre foi e será assim. E quem foram os vencedores na história? Os ditadores, os gananciosos e os corruptos. Os Cabeças de Tomate, que nada mais são do que idiotas recrutados no meio do povo para cumprir um papel fundamental no esquema de dominação serão sempre a escória, nem povo nem poder. E se a história nunca será contada pelo ponto de vista dos perdedores eternos, o povo que vê neles aquilo que gostariam de ser, também nunca será contada por eles.

Os "Cabeça de Tomate", Varrem as Ruas do Rio de Janeiro - Foto: http://bloghistoriacritica.blogspot.com.br

10/10/2012

Tarde Demais!


Tarde Demais!
Luiz Carlos Barata Cichetto
Madonna


Criei filhos, ensinei mulheres, treinei cachorros. Fiz parto de gatos, tratei de coelhos e limpei bosta de pombos em cima do forro. Trabalhei feito burro, sustentei família e bebi feito um gambá. Não uso drogas, mas fumo feito um Camelo. Nunca fui cowboy nem fora da Lei. Fumo Marlboro e gosto de dormir até tarde, quando consigo. Gosto de usar cabelo comprido, e o dever cumprido nem sempre é notado. Errei na mão, troquei as bolas e os pés pelas mãos. Sou destro e tenho nariz grande. Politicamente incerto, incorreto, escrevo torto por linhas certas. Politicamente falando, sou anarquista, ou nem isso porque não suporto nenhum “ista”, nem artista, nem egoísta. Um dia sonhei em ser escritor e acordei todo cagado. Bati em portas de editoras, ninguém lá dentro. Nunca abriram. Que sou neurótico e erótico, paranóico e pouco heróico, todos já sabem. Talvez seja esquizofrênico, mas estou anêmico por falta de dinheiro. Canso depois de três quilômetros e os cigarros me dão falta de ar. Aprendo rápido e não sei ensinar ninguém a contar... Histórias... Minhas poesias são compridas, ilhas de sentimentos dentro de um mar de sangue.  Quando era adolescente queria ter comido todas as mulheres do bairro. Bati muita punheta, comi muita buceta e sonhei com a Madonna. E hoje, depois de 54 anos, 40 de poesia, queria uma tranquila aposentadoria. Jogar dominó na praça, de pijamas e chinelos, esperando um enfarto fulminante. Cuidar de pássaros, de galinhas e de porcos. Apenas cuido dos últimos. Sou racista: não suporto a raça humana! Nunca conto até dez e nem até três. Deixei a escola por causa de uma buceta. Ah, a Maysa era gostosa e me ensinou a Matemática do desejo. Quanto a Geografia aprendi pelas ruas e nunca terminei o colegial. A História é apenas a história. Nunca li tantos livros quanto queria e nunca menos do que podia. Troquei discos por livros e livros por discos e carreguei nas costas o peso do ideal. O ideal mesmo é ter grana e mandar o mundo inteiro se foder. Queria ser burro! E sou! Não quero glória, apenas reconhecimento. Não quero a fortuna, apenas a sobrevivência honesta, ganha com aquilo que sei fazer, ou apenas com aquilo que ainda consigo. E quanto a meus filhos, eu os orientei no caminho do pensamento livre e do questionamento. E se eles não tem consciência disso é porque eu acertei. A consciência chegará depois, com o tempo e com a ausência e a saudade. A consciência sempre chega tarde demais. Agora, deixe-me dormir que amanhã não demora a chegar e ainda tenho que explicar porque ainda não consegui pagar meu aluguel. Ontem acordei tão tarde que já era hoje. Ou será que hoje acordei tão cedo que ainda era ontem? Não sou cronista, nem jornalista. Não sou formado nem conformado.  Ah, sou artista?  No mundo de hoje não há lugar para velhos safados, apenas para jovens assexuados que fazem sexo como quem vai à feira comer pastel. Ah, quase não existem feiras também. O Facebook nada mais é que uma pastelaria digital. Carne ou queijo? Estou recolhido, encolhido em minha solidão. Tenho medo da rua, medo de tudo. Deixem eu comer meu pastel sossegado enquanto olho meninas de shorts curtinhos mostrando a bunda na ponta da feira. Sou o "Aqualung" da feira de sábado, "olhando menininhas com más intenções".”Greasy fingers smearing shabby clothes... Spitting out pieces of his broken luck”.  Minha sorte arruinada, minha morte arruinada. Não tenho mais sonhos enquanto a feira é desmontada e os feirantes vão embora dormir. A cabeleireira retorna ao salão, a funcionária do bar para trás do balcão. A feira acabou e eu não comi nenhum pastel. Mas não como restos de sábado da feira, quero o supermercado  de segunda a sexta-feira. Aos domingos quero estar no Parque, fumando e pensando e seguindo a canção. “Somos todos soldados, armados ou não”. Torquato morreu e sua poesia ficou, aos brados os outros cantam a sua canção. E o bardo apodreceu na terra. A guerra não é contra o povo, mas não existe povo no mundo que hoje seja digno de ser liberto de alguma ditadura, pois estão todos aquartelados em troca de uma dentadura... Postiça...  Ontem sonhei que era um dos Carlos, o Lamarca, o Marighella ou o Prestes. E estava a beira de libertar o povo da ditadura. Minha Coluna tinha marchado milhares de quilômetros e eu, cansado, sentei para descansar nos braços de Olga. Acordei com minha mulher pedindo pão e café e eu não tinha dinheiro para comprar. Sentei na frente do computador e cai de cara no teclado. Minha mãe conta que a história do meu nome era por causa de Prestes, mas meu pai era um Getulista. Duras pendengas familiares. Traição e loucura, fui condenado ao ostracismo na Ilha das Flores. Dores nas juntas por causa da pauladas. Mas não são torturadores militares que espancam minhas costas. São civis, homens e mulheres que diariamente traem sua consciência em troca de uma liberdade que sabem que jamais irão encontrar. Traem ao preço de nada, portanto. E arrebentaram meus dentes, que custo aos pedaços quando tusso a fumaça do cigarro que insisto em fumar. Não sou cronista, nem escritor, sou poeta. Cronista é jornalista, escritor é profissão e eu sou apenas um poeta, rabujento e tosco em busca de um Sol que nunca consegui alcançar. Na vida tudo é pessoal, mas nem tudo é intransferível. E por incrível que pareça, nem tudo é vida. E nem tudo é esperança. Há a morte! Ainda há esperança, portanto.


09/10/2012

Pessoal Mas Transferível


Pessoal Mas Transferível
Barata Cichetto


- Acorda, preguiçoso! Corta o cabelo e arruma um trabalho
E aproveita e corta essa barba, seu vagabundo do caralho!
Não tem respeito quem não madruga em fila de emprego
Escuta o que falo ou preciso falar em russo ou em grego?

Ah, mas que tolo fui eu em acreditar naquilo que eu podia
Minha arte não dá dinheiro e a cada poesia mais me fodia
Com escrita nunca recebi sequer uma moeda de um real
E o mundo que conheci acabou, agora o mundo é surreal.

- Acorda, filho da puta! Nesses dentes podres dá um jeito
Ninguém precisa de poesia e poeta não é um bom sujeito
O trem funciona desde as cinco da manhã, todos os dias
E estou farta de suas poesias e de suas eternas covardias!

Esqueci o que sabia e não aguento mais subir descidas 
Precisamos de comida e as contas estão todas vencidas
Eu preciso provar que não sou um ladrão ou vagabundo 
Ainda arranjo um emprego nem que seja um moribundo. 

- Acorda e manda curriculo, qualquer emprego lhe serve
E peço em nome de Deus, que seu emprego lhe conserve
Lembra da senhoria, paga as contas de luz e o crediário
Deixa portanto essas histórias de poesia, Poeta Ordinário!

Hoje pensei em abrir o gás do fogão e tal a Torquato Neto
Enfiar a cabeça deixando um bilhete de adeus bem direto
Mas não tenho coragem, deixo que me matem aos poucos
Pois tenho a covardia dos poetas e a coragem dos loucos.