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23/03/2015

Prefácio ao Livro "Algum amanhã de merda que para sempre já morreu"

Prefácio ao Livro "Algum amanhã de merda que para sempre já morreu", de autoria do Sr. Arcano
Luiz Carlos Cichetto


"Não entre, não leia minha mente. Com minha imaginação, eu lhe possuo..."  A frase acima, retirada de uma das suas próprias crônicas, define o perfil (palavra tão desgastada nos dias correntes) desse escritor que aos trinta e cinco anos coleciona e conta historias de uma forma extremamente sincera e portanto inquietante, crua e rude.

Anjos e toda sorte de demônios, putas e toda sorte de criaturas cruéis e doces, além de toda sorte de seres sem sorte ou sem morte, fazem da literatura do Sr. Arcano, algo por demais excitante intelectualmente e, porquê não, sacana.

Por vezes, nessas crônicas, o leitor que é sempre lembrado de seu papel e tratado com respeito e atenção, poderá perder a paciência com o autor por causa de sua extrema sinceridade e crueldade. Por não ser tratado apenas por um idiota mal letrado que busca na literatura o remédio para a insônia ou para a falta (ou excesso de sexo), E também por ter a todo momento a visão abominável das suas (as dele próprio e as do escritor) vísceras expostas.

Normalmente um escritor de crônicas é por demais egocêntrico, como de resto todo escritor de qualquer estilo o é. Mas o nosso Sr. Arcano, ao retratar de forma intensa, por vezes poética e sempre com excelente talento literário, todo o sentimento solitário da mente humana, converge ao solidário. Pois é na solidão do ato de falar sobre si mesmo, que o escritor cria ao seu redor o real sentido de solidariedade.

Luiz Carlos Barata Cichetto
25/02/2015



22/03/2015

Manifesto Underground

Manifesto Underground
Barata Cichetto
(Registrado no Escritório de Direitos Autorais da Fundação Biblioteca Nacional
Todos os Direitos Autorais Protegidos - Cópia Proibida)


E agora, que os subterrâneos não são mais de veludo
Que não há mais a mulher tetuda e o homem peludo?
E agora, que meu arco-íris está desbotado e imundo
E não há mais buracos onde se esconder do mundo?

As minhocas olham para cima e não enxergam Pink Floyd
Não gosto do Arnaldo Baptista, onde é que está meu Rock?

E agora, que não existem mais virgens, nem putas a parir?
E se não há motivos para chorar, nenhuma razão para rir
Nenhum porquê de viver, vários de morrer, sem esperança
Pois é ela, a que se espera, apenas um sorriso de criança?

As minhocas morreram ao sol, Syd Barrett gordo e careca
As águas que rolam carregam pedras, nada pode ser feito.

No Rock havia o sonho, independência e vida por instantes
Alice Cooper não mora mais aqui, nesse país de mutantes
E se não há mais veludo nem underground, sem camurça azul
Meus sapatos estão guardados até que eu possa andar ao sul.

As pedras não rolam, não há mais glória no Rock, só história
Ela de fato queria ser um anjo, e eu queria comer sua bunda.

Mas agora a poesia morreu e restam apenas poetas de chapéu
Não há caixas de som em árvores, nem noivas cobertas de véu
E não culpem ao dinheiro, pois é o poder aquilo que lhes domina
Tanto que não é o demônio, mas o santo que ao anjo extermina.

Mas ainda há Gatos & Alfaces, like a rolling stone, oh baby blue
It's all over now, e Bob Dylan comendo pastel na feira de quinta.

Mas agora, que estão empoeirados os meus discos de vinil
Reclamo da falta de acordes sinceros e detesto Gilberto Gil
Buarque o burguês tem inveja de pobre, Caetano é um tolo
E eu nem sei se vomito ou se como outro pedaço desse bolo.

Golpe de Estado, um Carro Bomba e Patrulha ainda no Espaço
Oswaldo conta histórias enquanto bebemos cerveja na Galeria.

Domingo de manhã, Lou Reed morto, eu sem eira nenhuma
A poesia consola e o Rock ainda pulsa, sem duvida alguma
E as minhas gatas dormem sobre minhas pernas doloridas
Não sei se pinto as paredes de branco ou as deixo coloridas.

E o underground não é mais de veludo, mas de plástico bolha
Embalado para presente, caros presentes sem futuro nenhum.

Há um tesouro no fundo do baú e o baú no fundo do poço
E estou velho demais para tanta tristeza na hora do almoço
Mas ao sul de Parador há um nobre a quem chamo ditador
Sob o sol do norte morre um pobre sob as balas do atirador.

E sob a fúria de Titãs, um poeta não fingidor, mas um Pessoa
Num grito rompe o rito e o mito do Rock jamais será o mesmo.

No submundo habita o underground e isso não deu no jornal
E na farsa da força, à força deu um beijo e nela fez o sexo anal
O aborto é crime a quem não dou perdão e nem desculpas
E acima do direito ao corpo há o dever da vida e suas culpas.

Lennon disse para imaginarmos um mundo com menos posses
Mas morava no Dakota e agora está no Céu com Diamantes.

Agora construo minha casa com pregos e martelo na madeira
Esmago os dedos na escada e pinto com verniz outra cadeira
Vinho barato antes do jantar e meu braço cansado de martelar
E depois de tanto tempo tenho aquilo que posso chamar de lar.

Nos setenta eu tinha calças com boca de sino, anel de caveira
E o gosto incrível pelas musicas que tocavam no rádio de pilha.

Um dia sonhei que comia a Patti Smith debaixo do palco escuro
Era um tempo de solidão, de um desejo sujo, um tanto obscuro
Mas eu a comia, e Iggy, a iguana verde e gosmenta se debatia
E todos sabíam que era pelo demônio que ela tinha simpatia.

Um dia fui hippie e lendo histórias de Zéfiro eu batia punheta
O perigo na esquina, e revistas suecas dentro das fotonovelas.

Nos subterrâneos haviam sonhos, pesadelo hoje é a intolerância
E se no porão haviam os socos, a dor surge agora da arrogância
Ando com medo por ruas perigosas tingidas de rubro e amarelo
E agora não há dor que eu não sinta, pois meus ossos são farelo.

Hoje nada mais é proibido, tudo é divino, permitido e maravilhoso
E se nada é proibido, me é permitido proibir aquilo que é perigoso.

Termino o meu manifesto underground cagando pelas pernas
Provando que na poesia nem no Rock as mentiras são eternas
E se há alguma verdade nisso tudo, está dentro da sua cabeça
Pois se falo é porque qui-lo, algo para que de mim não esqueça.

Não há nenhuma chave na porta, mas dentro do seu estômago
Vomite e a encontre, pois a Porta é a sua única real esperança.