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26/11/2013

Barata Sem Eira Nem Beira - 42


Barata Sem Eira Nem Beira
Produção e Apresentação: Barata Cichetto
Segundas, das 21 as 23 horas pela Stay Rock Brasil
Reapresentação, terças, das 16 as 18.
Programa Nº. 42 - 25/11/2013
www.stayrockbrazil.com.br
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Bloco 1 -
- Centurias - Sobreviver (2013) Exclusiva Stay Rock Brazil
- Sons de Saturno - Curta a Viagem
- Patrulha do Espaço - Poder
- Luiza Maria - Canção Ereta
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Bloco 2 -
- Black Merda - Prophet
- The Velvet Underground - Run Run Run
- Television - Little Johnny Jewel (Parts 1 & 2)
- Highlonesome - Devil at the Door
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Bloco 3 - Especial Muqueta na Oreia
- Muqueta na Oreia - Nova Era
- Muqueta na Oreia - Paranóia
- Muqueta na Oreia - Excesso e Abundância
- Muqueta na Oreia - Primogênito de Uma Meretriz
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Bloco 4
- Lingua Mortis Orchestra - Cleansed By Fire
- Hawkwind - Masters of the Universe
- Operatika - We Rock
- Leslie West - I Feel Fine
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Bloco 5 -
- The Animals - Inside Looking Out (Live, 1966)
- Novak's Kapelle -  (Hypodermic Needle) Inside Looking Out
- The Obsessed - Inside Looking Out
- Grand Funk  - Inside Looking Out
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Bloco 6 -  Especial Coven
- Coven - Black Sabbath
- Coven - Coven In Charing Cross
- Coven - I Guess It's a Beautiful Day Today
- Coven - Easy Evil
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19/11/2013

Barata Sem Eira Nem Beira - Programa 41 - Especial Super Peso Brasil


Barata Sem Eira Nem Beira
Produção e Apresentação: Barata Cichetto
Segundas, das 21 as 23 horas pela Stay Rock Brasil
Reapresentação, terças, das 16 as 18.
Programa Nº. 41 - 18/11/2013
www.stayrockbrazil.com.br
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Especial Super Peso Brasil
Taurus (RJ), Centúrias (SP),  Metalmorphose (RJ),  Salário Mínimo (SP), Stress (PA)
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A banda carioca de Thrash Metal Taurus, formada por Otávio Augusto (vocal), Cláudio Bezz (guitarra), Felipe Melo (baixo) e Sérgio Bezz (bateria).

Taurus - Batalha Final
Taurus - Desordem e Regresso
Taurus - Fissura
Taurus - Império Humano
Taurus - Rebelião dos Mortos
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Centúrias, um dos pioneiros do Heavy Metal brasileiro, é formado atualmente por Nilton "Cachorrão" Zanelli (vocal), Ricardo Ravache (baixo), Roger Vilaplana (guitarra) e Júlio Príncipe (bateria).
Centurias -  Metal Comando
Centurias - Animal
Centurias - Arde como Fogo (To Hell)
Centurias - Duas Rodas
Centurias - Rock Na Cabeça
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Metalmorphose, formado por Tavinho Godoy (vocal), PP Cavalcante e Marcos Dantas (guitarras), André Delacroix (bateria) e André Bighinzoli (baixo).
Metalmorphose - Complexo Urbano
Metalmorphose - Jamais Desista
Metalmorphose - Maquina dos Sentidos
Metalmorphose - Nosso Futuro
Metalmorphose - Passados Incompletos
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Salário Mínimo -  "Simplesmente Rock" (2010),  está sempre com a agenda cheia e vem mostrando sua força nos palcos. Em seus shows, China Lee (vocal), Daniel Beretta e Junior Muzilli (guitarras), Diego Lessa (baixo) e Marcelo Campos (bateria).
Salário Mínimo - Eu Não Quero Querer Mais
Salario Minimo - Cabeça Metal
Salário Mínimo - Delírio Estelar
Salario Minimo - Noite de Rock
Salário Mínimo - Homens com Pedigree
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O pioneiro grupo paraense Stress, formado por Roosevelt "Bala" (vocal e baixo), Paulo Gui (guitarra) e André Chamon (bateria), que terá um álbum tributo a ser lançado este ano pela gravadora portuguesa Metal Soldiers Records.
Stress - Heavy Metal
Stress - Mate o Réu
Stress - Oraculo do Judas
Stress - Tributo ao Prazer
Stress - Flor Atômica
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Encerramento:
Brasil Heavy Metal - Clip Oficial
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17/11/2013

Syd Barrett Não Mora Mais Aqui!


Syd Barrett Não Mora Mais Aqui!
Luiz Carlos Barata Cichetto
Ano: 2013
Edição: 1ª
Formato: 14 X 21
Gênero: Cronicas
Páginas: 288
Preço: R$ 40,00 + Frete 
Editora: Editor'A Barata Artesanal
49 crônicas e artigos sobre Rock.

Trecho
Syd Barrett criou a essência do Pink Floyd, mas depois não coube mais dentro de sua própria criação. Aquilo era pequeno demais para caber sua genialidade. Syd Barrett era maior que o Pink Floyd. Sempre foi e sempre será. Segundo conta a história, ou melhor, contam os remanescentes da banda, Syd foi colocado de escanteio por causa de sua "deterioração mental". Afinal, aprisionar aquela gostosa da Karine (a peladona que aparece na capa de “Madcap Laughs” era a namorada dele na época) num apartamento e lhe passar bolachas por baixo da porta era coisa de doido mesmo. Aparecer no palco com a cabeça cheia com uma pasta de comprimidos é coisa de maluco mesmo. Ficar tocando uma nota apenas na guitarra, então, isso é coisa de doente mental.

Mas Roger Keith Barrett não era maluco, maluco eram eles. E sabiam disso. Tanto sabiam que continuaram a usar as idéias digamos pouco ortodoxas de Syd em um monte de discos que seguiram a saída dele. "The Dark Side Of The Moon", segundo Waters e Gilmour era uma homenagem a ele, pois "apenas os lunáticos podem enxergar o lado escuro da lua". Lunático? Syd era lunático? Claro que não. Chamar Syd Barrett de lunático é o mesmo que chamar Freud, Schopenhauer, Da Vinci, Einstein também de lunáticos.

Um sujeito que pegou o Rock e disse: "Ok, vamos à lavanderia!". Que pegou as experiências sonoras de John Cage (outro lunático?), colocou uma pitada de musica erudita, um quilo de Rock'n'Roll, bateu num liquidificador mental e transformou essa pasta num belo e florido Elefante Efervescente. Um elefante que esmagou os conceitos sobre música para sempre. Não era um maluco, nem doido, nem doente mental. Era um gênio. E a história da musica deverá ser escrita no futuro da seguinte forma: AB/DB, ou seja, Antes de Barrett e Depois de Barrett.

PEDIDOS: http://abarata.com.br/livros.asp?secao=L&registro=1

13/11/2013

E Este Aqui? Ainda Sou Eu!

E ESTE AQUI?  AINDA SOU EU!
Luiz Carlos Barata Cichetto

E este, assim, sou eu: esfarrapado. Desdentado, roto, maltrapilho e ferrado. Sem eira nem beira, à beira de um ataque... Do coração. Assim, este aqui sou eu, lúcido, translúcido e cristalino. Nem preto nem branco apenas humano. Apenas um, humano ser. E este, que não dorme nem sonha, este aqui sou eu. Maquiavélico, maldoso, cuspidor e punheteiro. Sou eu. Assim! Assim, este aqui sou. Eu? Sou o que sou e não onde estou, porque os pés são mais importantes que o lugar, parafraseando toscamente ao Franz. As vezes as noites são curtas demais e os dias longos demais... Mas para todos esses casos, há a poesia. To buy or not to be.. this is the really question. E este, ali adiante, também sou eu. Refletido num espelho quebrado, invertido, rachado e empoeirado. Eu, apenas eu. Que pensou que eram doces as uvas. E percebeu que eram frutas as vulvas. Ou seria o contrário? Metralhadoras não cospem doces, putas não fedem perfume e eu, este que sou eu, ainda sonha. Perdido, fedido, fodido e mal pago! Eu, apenas eu e ninguém mais. Quem mais seria? E ainda pergunto: quem sou eu? Eu mesmo? Quem? Quem dá mais... Quem dá? Pra mim? Quem dá pra mim? Quem pra mim dá, empresta aos deuses... Então... Dá pra mim? A mim. Este que sou eu, esfarrapado, desdentado, punheteiro, duro e safado. Quem dá mais? Leilão de poetas e de poesia. Quem dá mais? E eu, eu mesmo, este mesmo, que não fede, mas não cheira... Que não cheira nem fuma... Maconha. Marlboro e café... Tem cigarro aí, Rogério Skylab? Ele me disse, tome um cigarro, mas vá fumar em outro lugar, porque quem fuma junto conspira, inspira e aspira. Ontem peguei um caminho. O caminho mais rápido era de Metrô, mas não era linha a 743, Era a estrada 666, estrada da dor, Facção Central, Central do Brasil, Brasil Central. Onde é que está meu Rock'n'Roll? Ah, foi ao Inferno, mas ao contrário do Poeta ainda não voltou. E este aqui sou eu, sem tirar nem por... Pondo e tirando, pondo e tirando, pondo e tirando... Gozei! Tirando o tirano, este aqui sou eu! Algo em mim está morto e eu não sei quem fui. Morto e torto. Torto? E o porto, como fica nessa rima? Porto... Alegre... As praças de Quintana... Um dia chego lá... Em Porto... Alegre? Triste ou alegre eu chego lá. Tem tanto bêbado e tanta puta na estrada que é capaz de eu não chegar. Ao porto.. Aporto... Aeroporto, espaçoporto. "Não fique triste, venha ser minha..." Cantou Luiz Carlos, o Porto! O Peso... Pesa muito? E este ainda sou eu... Ainda sou. Eu? Este aqui ainda sou... Ainda somos? Eu, paranóico, paródico, esquizofrênico. Eu? Ainda eu. E mais ninguém...

13/11/2013

12/11/2013

Resenha - Super Peso Brasil - 9/11/2013


Super Peso Brasil
Metalmorphose (RJ), Stress (PA), Centúrias (SP), Taurus (RJ) e Salário Mínimo (SP)
Convidados: Jack Santiago (ex-Harppia), Vitor Rodrigues (Voodoopriest, ex-Torture Squad), Luiz Carlos Louzada (Vulcano), Lucky Luciano (X-Rated, ex-Metalmania) e André Góis (Desaster, ex-Vodu)
9 de Novembro de 2013, Sábado
Local: Carioca Club

Sair de casa, encontrar amigos, falar sobre Rock, beber cerveja, ver e ouvir sua banda tocar e ainda de quebra alguma "ficada". O espírito dos concertos de Rock sempre foi esse. Harmonia e amizade... Por ai. Mas há um bom e certo tempo esses fatores não aconteciam. Ao menos não em conjunto, quando se trata de apresentação de bandas brasileiras. Mal organizados, em lugares apertados, escuros e sem o menor conforto, sempre em horários durante a madrugada. E isso, aliado ao desinteresse de muitas bandas foi criando um estado de coisas que não era bom para ninguém. Ao menos não a artistas e publico, que é para quem deve ser bom. Para o produtor ou produtores, claro que com raras exceções, só é bom quando rende muito lucro.  Um evento de tal natureza, é claro, precisa dar resultados financeiros. E duvido que da forma que eram feitos, até isso acontecia. Na maior parte por culpa deles próprios.

Quando fiquei sabendo do Super Peso Brasil, confesso que fiquei receoso de mais um fiasco dessa natureza, mas ao tomar conhecimento de que estaria por trás disso seria Ricardo Batalha, literalmente um batalhador das coisas do Rock no Brasil fiquei muito mais tranquilo. E com o passar do tempo, ao saber do lugar e do envolvimento das bandas e do publico em geral, até mesmo dentro das redes sociais, a desconfia se dissipou totalmente. Mas e como seria? O publico de fato apareceria? Restava essa duvida.

No sábado, deixei o extremo leste e fui até a estação de trem de Guaianases. Já ali, uma pequena surpresa: ao meu lado no trem um garoto boliviano, de cerca de uns dezesseis anos, trajado com um visual metal e usando uma camiseta dos Beatles e óculos redondos de John Lennon. Em principio achei estranho, mas o garoto parecia sentir-se muito bem e é isso o que importa. Seguimos juntos até certo ponto e nos dispersamos pois tive que parar na metade para resolver um assunto urgente. Mas ao chegar à porta do Carioca Clube, em Pinheiros, lá estava meu amigo, sorridente e feliz. Com certeza, aquele simples encontro já me deu certo alívio. Era apenas um solitário garoto, mas que vinha de longe para participar.

O Carioca Clube é uma casa de espetáculos onde se apresentam artistas de qualquer tendência ou gênero musical, mas logo na chegada, pude avistar um grupo de pessoas na calçada. Fiquei apreensivo pois achei pequeno, mas ainda eram menos de quatro da tarde... Eram pessoas de todas as idades, trajados de formas diferentes, uns curtos outros longos, uns brancos outros pintados. E até ausentes. E entre aquelas pessoas, que bebiam nos bares próximos, conversavam alegremente e fumavam, juntamente com alguns dos músicos que dentro de pouco tempo estaria sobre o palco, parecia haver um clima de total harmonia e amizade. Autógrafos em discos antigos de vinil eram muito comuns, abraços, fotos. Uma tietagem saudável.

Sabia que naquele dia decerto encontraria amigos que não via há bom tempo, e outros que conhecia apenas por perfis de redes sociais. Alexandre Quadros, velho amigo de Internet, de Mogi Mirim foi o primeiro. Adriano Coelho, que também fazia parte do "staff" da organização, outro. O próprio Ricardo Batalha também. Ricardo Ravache, hoje do Centúrias, mas que também já apresentou um programa de Rock Progressivo na Stay Rock, dá autógrafos e posa para fotos .Os minutos iam passando, as pessoas chegando, os músicos chegavam e ficavam pela calçada dando autógrafos, entrevistas, posando para fotos. Fico na porta papeando com Fabio Makarrão do Kamboja. Jack Santiago, Ex Harppia aponta na calçada em frente e é cercado por um grande numero de pessoas na chegada. Jack é um sujeito muito simpático, tranquilo e trata sempre os fãs com carinho.

Quando meu companheiro de Stay Rock Brazil, o musico Adilson Oliveira chegou entramos. Faltavam poucos minutos para o início. Na entrada aquele sempre desconforto por revistas de seguranças mal encarados, mas isso, infelizmente é algo necessário nos dias de violência e malandragem que vivemos. No palco, os mestres de cerimônias, Ricardo Batalha, Walcir Challas, dono da lendária Woodstock, e Marcelo Pompeu, do Korzus para apresentações e sorteios de uma guitarra. Está iniciado o Super Peso Brasil.

A primeira a se apresentar é a banda carioca Taurus. Walcir desce do palco e se posiciona a nossa frente, mais ao fundo do salão. Havíamos marcado uma entrevista com Roosevelt Bala do Stress e conversamos com ele sobre isso. que com a gentileza que lhe é peculiar, foi até os bastidores e nos traz as coordenadas.

A banda Taurus foi formada no Rio de Janeiro em 1985 e já gravou quatro discos. O set list da apresentação do Super Peso Brasil, que foi iniciado com "Fissura", faixa titulo de seu mais recente CD, passeou por todos os discos da banda e em "Mundo em Alerta" teve a participação de Luiz Carlos Louzada, vocalista do Vulcano, se encerrou com "Massacre", do primeiro disco, com boa parte do público cantando junto e com direito a um riff de "Heaven and Hell", que enlouqueceu a platéia. Após a apresentação, conversamos com Otávio, vocalista da banda que nos disse estar muito contente com o retorno da banda, e que infelizmente, a cena de Metal ser praticamente inexistente no Rio de Janeiro.

Aliás, falando em intervalos e conversas, é digno de nota o espaço existente no Carioca Clube, uma área aberta, onde se pode fumar e principalmente, para onde sempre um musico da banda que acabava seu show se dirigia para entrevistas e bate papos com os fãs e amigos. Muito legal, entre as apresentações músicos e publico se juntarem, beberem, conversarem, num espaço totalmente aberto. E fomos encontrando amigos, músicos de outras bandas que estavam ali para prestigiar o evento, conversando e tomando nossas cervejas.  Dentre esses amigos, o fotógrafo Leandro Almeida e o jornalista Sergio Alberto Bauchilione, que eu não via há mais de dez anos, desde quando eu realizava eventos de Rock na Fofinho.

A segunda banda a subir ao espaçoso palco foi o Centúrias, outra histórica banda que iniciou carreira nos anos 80, e que contava na época as baquetas de Paulão Thomaz, atualmente da Baranga e Kamboja. Nesta nova formação, um retorno depois de alguns anos de inatividade, a banda conta com Nilton "Cachorrão" Zanelli no vocal, Ricardo Ravache no baixo, Roger Vilaplana na guitarra e Júlio Príncipe na bateria.  O grupo apresentou um repertório calcado nos álbuns "Ninja" (1988), "Última Noite" (1986) e da coletânea "SP Metal" (1984), além da nova "Inúteis Palavras". O show contou com a participação de André Góis da banda Desaster.

Mais um intervalo de cigarro, cerveja e papo com as pessoas do publico e músicos presentes na área "cigarrettes" do Carioca. E esse foi especial, muito especial, pois encontramos com Jack Santiago. Um momento de emoção pura e sincera, de ambas as partes. Confesso que fiquei muito emocionado com as palavras dele com relação a minha pessoa e pelo fato dele, imediatamente após ter recebido das mãos do Adilson a camiseta da Stay Rock, vesti-la, posando inclusive para fotos de outros amigos que ali estavam. Jack Santiago é um gentleman, uma pessoa que enxerga muito além de apenas riffs de guitarras. E nesse intervalo ainda outro prêmio: um amigo que infelizmente não consegui guardar o nome e ao qual peço desculpas, disse ser ouvinte de meu programa, e citou uma fala minha quando da morte de Lou Reed. O salário do ano está pago.

Retornando ao recinto de show, aliás, muito bem  projetado e dividido, e nesse momento bem lotado. Nesse momento encontro outro outro amigo e músico, o baixista da banda Cracker Blues, Paulo Kruger. A a próxima banda a se apresentar são os cariocas da Metalmorphose, outra das bandas seminais da cena brasileira com seu Heavy Metal tradicional. Criada em 1985, quando gravaram um split com a histórica banda Dorsal Atlântica. Como era previsto pelo ideário do evento, também tocaram suas musicas clássicas, incluindo um cover de "Satã Clama Metal" do Azul Limão, já que o vocalista do Metalmorphose, Tavinho Godoy, integrou essa no final dos anos oitenta. O show da Metalmorphose contou com participação de Lucky Luciano (X-Rated, ex-Metalmania).

Outro fato a ser narrado e elogiado, foi o cumprimento à risca dos horários marcados para as apresentações. Começaram e terminaram nos horários previstos. A duração dos shows poderia ter sido um pouco maior, mas, entendendo-se as razões, perdoa-se. Aliás, com raras exceções em detalhes que não comprometem, toda a organização do Super Peso foi muito boa, outra coisa muito rara por estas paragens. Os intervalos necessários foram seguidos, os tempos das apresentações. Muito bom, pois não existe nada mais irritante que shows que atrasam em, muitas vezes, horas. Isso demonstra respeito ao publico, a casa e aos artistas.


E em falando em tempo, passávamos agora da metade do evento e mais uma vez na área aberta da casa, um grupo de "senhores" de cabelos grisalhos me chama: falam sobre o fato de que o Rock não tem idade e coisas assim. Estão todos na faixa dos quarenta e poucos anos e quando declino minha idade, todos riem. Junto ao grupo, um homem acompanha a tudo atento. E nesse momento ele entra na conversa e arremata, puxando pela mão o filho, de cerca de uns seis anos: "Nós temos que continuar a espécie..."  Todos concordamos.

Os primeiros acordes do próximo show e corro para dentro. É a vez da banda Salário Mínimo. Uma chuva de papel picado e os acordes de "Delírio Estelar". O Salário Mínimo é uma das mais antigas da cena paulista, tendo começado ainda no final dos anos 1970, mas apenas em 1987, lançaram seu primeiro disco intitulado "Beijo Fatal", que, entre as oito faixas incluía um cover da banda que revolucionou os anos 70 no Brasil: Secos & Molhados com a música "Rosa de Hiroshima", que não foi tocada. Em compensação, clássicos da banda como "Dama da Noite", "Noite de Rock", "Anjos da Escuridão", Beijo Fatal" foi cantada em coro por quase toda a platéia presente. Emocionante isso, cerca de 1200 pessoas (publico estimado), cantando junto com uma banda brasileira. E dá-lhe chuva de papel picado. Quase no final, adentra ao palco Jack Santiago, que integrou o Harppia no disco "A Ferro e Fogo", e ao lado do Salário Mínimo cantou a faixa "Salém, a Cidade das Bruxas". O publico foi ao orgasmo, cantando em uníssono um dos maiores hinos do Rock nacional do Brasil. E para finalizar o set com chave de ouro, a não menos emblemática "Jogos de Guerra".

Nesse momento, quando saia em direção à área de tietagem e papo aberto do Carioca, encontro o jornalista Marcelo Moreira, do Combate Rock e trocamos um papo rápido. É, nem tão rápido, mas com gosto de "precisamos continuar essa conversa outro dia." O Marcelo bem lembrou a parte final em sua resenha no Combate Rock: "'E ainda dizem que o metal nacional não tem público, que a galera não se renova', comemorava o jornalista e escritor Luiz Carlos Barata Cichetto."  Realmente, estava mesmo comemorando o clima, o fato de que o evento tinha dado certo, que as pessoas tinham comparecido. Estava mesmo feliz e comemorando, pensando que o trabalho todo do Ricardo Batalha e das bandas que fizeram aquele evento tinha sido um sucesso. Feliz por estar em um evento bem organizado, numa casa decente, em horários corretos, banheiros limpos... Enfim... E feliz até com a tal de "Double Beer". Afinal, duas cervejas de lata por cinco pratas é extremamente decente e justo. Ainda mais numa casa como aquela.

Mas ainda tinha mais e para encerrar o Super Peso Brasil, a mais lendária banda da história do Heavy Metal Brasileiro: Stress, banda que, desde a distante Belém do Pará, ainda em 1982 incendiou o mundo com sua musica. Muita gente desconhece ou erra propositalmente ao contar a história do Metal no Brasil e não reconhecer a importância e o pioneirismo dessa banda. A Stress é considerada na Europa como a primeira banda de Thrash Metal do mundo. Em 2004, o selo alemão Die Irae lançou o primeiro disco do Stress, em vinil e em CD, com um detalhe: nas lojas da Alemanha, Estados Unidos e Japão, o disco traz estampado na capa: "The first thrash metal band in the world". Mas, se depender do publico presente no Carioca Clube, naquele dia 9 de Novembro de 2013, esse injustiça com o Stress foi corrigida.

E assim, Roosevelt "Bala" Cavalcante no vocal e baixo, Paulo Gui na guitarra) e André Lopes Chamon na bateria iniciam a explosiva apresentação da banda com "Heavy Metal", seguida da velocíssima  "Mate o Réu" e em seguida outro grande clássico da carreira da banda "Flor Atômica", faixa-título do segundo disco, de 1985. Logo após, Vitor Rodrigues (VoodooPriest, ex-Torture Squad) adentra ao palco para cantar "Sodoma e Gomorra", do primeiro álbum, de 1982.  E quase ao final da apresentação a banda executa uma musica nova chamada "Heavy Metal é a Lei". Tenho a impressão que o set do Stress foi mais curto que os demais, talvez pelo fato de que o evento tinha hora certa para terminar. Em função disso, a banda encerrou sua apresentação, mas sem antes preparar-nos uma imensa e grata surpresa: Bala chama todos as bandas ao palco, para juntas executarem "Brasil Heavy Metal", música-tema do documentário de mesmo nome. Muita gente canta junto e ao terminar, todos os músicos perfilados, saúdam o publico. é simplesmente indescritível! Nesse momento eu estava ao lado do palco e comecei a olhar bem nos rostos das pessoas que estavam ali. Havia alegria, satisfação, emoções puras, fortes e boas. Como se todos ali estivessem sentindo a mesma coisa. E se essa "mesma coisa" foi a que eu senti, foi a mais pura sensação de alegria por estar presente em uma celebração, como se ali, depois de tantos anos, uma fênix estivesse renascendo das cinzas. Exagero meu? Talvez, mas o tempo, apenas ele dirá se aquele dia foi ou não a data de renascimento do Rock e Metal no Brasil.

As luzes se acendem, o show acabou. Ficamos por ali, eu e Adilson Oliveira ainda conversando com algumas pessoas. Na tal área aberta ainda encontro o grande cantor Percy Weiss a quem presenteio com meu livro "Patrulha do Espaço no Planeta Rock". Fotos, abraços e retornamos. Perto da porta Adilson conversa com dois garotos da banda "Muqueta na Oreia", cujo disco já me chamou a atenção logo de cara. O nome "Blatta", que significa "Barata"...  Um papo rápido e saio zanzando pelo salão, observando o trabalho de desmontagem do palco. Aprendi a gostar disso desde quando era manager da Patrulha do Espaço. Mas num dado momento, passa por mim um cidadão usando uma camiseta que tinha me chamado a atenção anteriormente. A estampa oficial de uma turnê de Ian Anderson. Elogio a camiseta, falamos sobre bandas prediletas, tudo muito rapidamente até cair em Syd Barrett.. Falo do meu livro.... E ele: "espera aí, como é teu nome?"...E ele estende a mão num gesto rápido, firme e amistoso: "Prazer, eu sou o Toninho da Brigade!" Levei um susto, pois apesar de conhecer toda a trajetória da revista não tinha a menor idéia do rosto dele. Uma grata surpresa, mesmo.

Saímos conversando quando os seguranças "gentilmente" nos pedem para sair. Na calçada encontramos o amigo fotógrafo oficial do Super Peso, Rhadas Camponato que também está muito contente com o resultado. E ainda China Lee e ficamos a recordar nosso ultimo encontro, há cerca de dez anos num show do Salário na Led Slay. A alegria nos nossos olhos é intensa, a sensação de uma missão cumprida em conjunto por um exército sem fronteiras. Na outra extremidade da calçada avistamos Roosevelt Bala, marcamos a entrevista que havíamos combinado para outro dia, tiramos algumas fotos e saímos, eu e Adilson em direção ao Metrô que nos levaria de volta à Zona Leste de São Paulo, com a nítida sensação de alma lavada. Ainda olhei a procura do amigo boliviano, aquele com visual de metaleiro e camiseta dos Beatles...

Luiz Carlos Barata Cichetto

Homenagem feita a mim pelo amigo Alexandre Quadros


11/11/2013

Barata Sem Eira Nem Beira - 41 - Dum de Lucca's Playlist


Barata Sem Eira Nem Beira
Produção e Apresentação: Barata Cichetto
Segundas, das 21 as 23 horas pela Stay Rock Brasil
Reapresentação, terças, das 16 as 18.
Programa Nº. 40 - 11/11/2013
www.stayrockbrazil.com.br
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Dum De Lucca
Jornalista  há 32 anos, com passagens pelas TVs Cultura, SBT, Manchete; rádios BR 2000, Band AM, USP FM (programa Radiografia); Editora Globo, Centro Cultural São Paulo (programador de rock alternativo), Site Terra, Jornal da Tarde, Revista Brasileiros, Guitar Player (editor), Top Rock (editor), colaborou com várias revistas, produtoras e assessorias. Hoje escrevo para a Revista Melhor e administro blogs, twitters e facebooks de empresas, além claro do Jukebox .Dificilmente alguém me encontrará em alguma casa indie da cidade porque não sou DJ e gosto de boa música. Escrever poesias e crônicas dissonantes é um prazer.
http://urbanofagia.wordpress.com/
http://dynamite.com.br/jukebox/
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Bloco 1
Aretha Franklin - Come Back Baby -  Disco – Lady Soul
Humble Pie – Get Down To It – Disco – Eat It Up
Hawkwind – Hassan I Sahba -  Disco – Tales From Atom Henge

Bloco 2
Affinity – Night Flight – Disco – Affinity
Blue Oÿster Cult – Don´t Fear the Ripper – Disco – Agents of Fortune
Rare Earth - Hey Big Brother – Disco – Star Power

Bloco 3
Frank Zappa -  Pojama People – Disco – One Size Fitts All
Captain Beyond – Mesmerization Eclipse – Disco – Captain Beyond
King Crimson – Facts of Life – Disco – The Power To Believe

Bloco 4
Novos Baianos -  Caia na Estrada e Perigas Ver – Disco – Caia Na Estrada e Perigas Ver
Rogerio Skylab – Eu Esporro – Disco -  Skylab IV
Walter Franco – Canalha – Disco – Vela Aberta

Bloco 5
Lou Reed – Walk On The Wild Side – Disco -  Transformer
The Who –  Love Reing o`er Me - Disco – Quadrophenia
UFO – Doctor Doctor – Disco -  Phenomenon
Deep Purple – Rat Bat Blue – Disco – Who Do You Think We Are

Bloco 6
Patti Smith -  Ask The Angels – Disco - Radio Ethiopia
Lucifer's Friend – Ride in The Sky – Disco – Lucifer Friend`s
Leslie West – One More Drink For The Road – Disco – Unusual Suspects
West Bruce & Lang – Why Dontcha
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Bloco 7 - Arca do Barata
Chicory Tip - Son of my Father 1972
Hermans Hermits - There's A Kind Of Hush
Middle of the Road - Chirpy Chirpy Cheep Cheep - 1971
Neil Diamond - Sweet Caroline
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Bloco 8 -
T. Rex - Metal Guru
Scorpions - Children Of The Revolution
The Animals - In Side Looking Out (Live, 1966)
The Hackensaw Boys - Gypsy
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10/11/2013

Em Busca da Criatividade - Emanuel R. Marques

Muito honrado em inaugurar o projeto EM BUSCA DA CRIATIVIDADE, do amigo Emanuel R. Marques. Um projeto que visa colocar o pensamento sobre arte e criatividade de artistas de todas as partes do mundo.

04/11/2013

Barata Sem Eira Nem Beira - 39



Barata Sem Eira Nem Beira
Produção e Apresentação: Barata Cichetto
Segundas, das 21 as 23 horas pela Stay Rock Brasil
Reapresentação, terças, das 16 as 18.
Programa Nº. 39 - 04/11/2013
www.stayrockbrazil.com.br

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Reabertura:
Lou Reed - Sad Song
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Abertura:
- Milton Nascimento - Promessas do Sol
-- Tem Cigarro Aí (Thiago Machado - Marlboro)
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Bloco 1 -   Festa Stay Rock
- Iggy Pop - Cold Metal
- Its A Beautiful Day - Bombay Calling
- John Mayall With Eric Clapton - Steppin' Out
-- Tem Cigarro Aí (Augusto dos Anjos - Continental)
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Bloco 2 -  PI² Numero 6 / Poesia: "Falo"
(Prefácio ao Livro Homônimo)

Falam que sou porco, bêbado, tarado
E justo eu, que de beber tinha parado
Falo muito, falto alto, o que penso falo
E por que penso, falo por que não calo.

Falo muito, falo forte e falo rígido
Tagarela, cuspidor, nunca frígido
E a fala é que não cala, sou tesão
Tarado e bêbado, porco e artesão.

Pois não cuspas em meu rosto
Que lhe causo o farto desgosto
E se sentes pavor da minha fala
É que seu medo é o que lhe cala.

Falo o que quero e o que desejo
Pois a minha fala é o meu beijo
E se eu não mato, morro ou falo
Não morro, mato e não me calo!

E quando falo, falo pinto, porra e caralho
Falo é minha profissão e poesia o trabalho
O pinto um instrumento quase litúrgico
Com que abro carnes em ato cirúrgico.

E enquanto falo ouço gritos altos de dor
Alto lá, queridas, eu não sou estuprador
Apenas falo e falar pode acordar o mundo
Embora creia que falo coisa de vagabundo.

Sei do que falo, não falo só por falar
Não sei quando calo e não sei calar
E meu falo quando falo cresce duro
Falo com o falo e a língua, asseguro.

Minha língua é meu falo, minha cara
Cara amiga, que a mim se escancara
E sem falácia, sem drama e sem medo
Guardo em minha língua seu segredo.


- Neil Young - Eldorado
- Johnny Winter - Highway 61 Revisited 1976
- Judas Priest -  Revelations
-- Tem Cigarro Aí (C. Marcy - Hollywoodl)
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Bloco 3 -  Cópia Infiel
- Ricky Nelson - Summertime
- Blues Magoos - We Ain't Got Nothin' Yet
- Deep Purple - Black Night
-- Tem Cigarro Aí (Mario Quintana - Lord)
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Bloco 4 -  Poesia: "Tratado Filosófico Sobre a Poesia e Seus Afluentes"

Porque a Poesia é um prato cheio
De rosas cheirando a estrume
Enquanto o Poeta um farto recheio
De bosta cheirando a perfume.

- Salário Minimo - Anjos da Escuridão
- Messias Elétrico - Desejo, Loucura & Trabalho
- Zezé Motta - Magrelinha
-- Tem Cigarro Aí (Clarice Lispector - Derby)
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Bloco 5 -  Arca do Barata
- Los Bravos - Black Is Black
- Strawberry Alarm Clock - Incense And Peppermints
- The Shadows - Ghostriders in the Sky
-- Tem Cigarro Aí (Edison Gil - LS)
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Bloco 6 -  Zeitgeist / Lou Reed
- Lou Reed - Lady Day
- Lou Reed - Men Of Good Fortune
- Lou Reed - Walk on the Walk Side
-- Tem Cigarro Aí (Phillipi Estevão - Minister)
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Bloco 7 -  Lobão
- Lobão - O Rock Errou
- Lobão - Panamericana
- Lobão - Eu Não Vou Deixar
-- Tem Cigarro Aí (Oswald de Andrade - Ella)
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Quarenta Anos de Poesia ou Vênus em Fúria

Quarenta Anos de Poesia ou Vênus em Fúria
Luiz Carlos Barata Cichetto

No início de 1973, quando eu tinha 14 anos de idade, e já rompia e rasgava as ruas de São Paulo, um garoto magrelo e tímido e virgem carregando pacotes e envelopes, cometi meus primeiros poemas. Poesia concretista na maioria. E muito ruim e foi tudo ao lixo. Dois ou três anos depois, ainda magrelo e tímido e não mais virgem, já rasgava as cortinas dos puteiros do centro e escrevia poemas de amor impossível para as putas da São João. Poemas secretos, não concretos, mas ainda assim, ruins. E foi tudo jogado no lixo, embora alguns tenham sido publicados em "jornaizinhos" (não existia ainda o termo "fanzine"), que decerto foram jogados ao lixo também. O tempo corria e eu também, de um balcão a outro de banco, trajado de terno e gravata, pois bancário, mesmo auxiliar de porra nenhuma, tinha que se trajar assim. Descobri Lou Reed e a barra pesada, depois, bem depois, descobri Augusto, Baudelaire e outros. Era a poesia do Rock e o Rock da Poesia e eu ainda era magrelo, não era tão tímido e nem um pouco virgem. Em 1978, peguei doença venérea, coisa séria, ao comer o rabo de uma puta. Enchi a cara e a porra do corrimento recolheu. Me fodi dois anos tratando daquilo. E minha poesia falava daquilo e eu não joguei nada  no lixo, porque aquela era nojenta, mas era boa. Guardei dois anos e editei um livro, resgatado há pouco, em mimeógrafo. Guardei mais dois anos e uma recém-esposa ficou com ciúme, fez uma cena e rasguei tudo e joguei no lixo. Era ela ou a poesia e eu escolhi o lixo. E daí, mais dois, mais dois... Mais dois ou três ou cinco... Passaram-se quinze e sonhava com o Paraíso. Eu era infeliz... E sabia... Sabia de cor e salteado... Perdi empregos, dignidade e fui digno de pena, porque era assim que me queriam. Enchi a cara, passei fome e fui revirar o lixo que tinha na esquina. Fedia aquele lixo. E naquele lixo, entre papel higiênico sujo de esperma e de bosta encontrei meus poemas, aqueles que tinha rasgado há anos. Eles disseram; "Olá, estamos todos aqui, no lixo te esperando!". Disputei com mendigos a cachaça e o café com leite de misericórdia, colei os pedaços dos poemas e ficávamos na calçada, eu e uma meia dúzia de mendigas e mendigos. Eles sabiam do que eu falava e eles sabiam o que eu sentia. Ambos já estávamos mortos e sabíamos disso. Disputei com abraços com eles e fugi aos braços da primeira... Que de primeira... Fodeu! Quem era eu? Rum, vodka, cerveja e putaria, sexo e porrada na madrugada. Pirações e inspirações, num personagem de desenho animado da década de trinta. O diabo, como dizem, não é tão feio quanto se pinta. E ela não tinha trinta e na buceta uma pinta. Gostávamos de foder, de bater e de apanhar. E de buceta, os dois. E minha poesia crescia. Lixo? Jamais! Eu não tinha mais 14 nem 24 nem 34. A rua tem gosto de podre e cerveja gosto de mijo. Lixo? E não tinha mais família, e existir era tão boa quanto Cynar, amarga e doce ao mesmo tempo, dependendo de quanto deles se bebe. Mas o tempo mijou na minha cara. Olhei pra cima e vi a buceta peluda do tempo se abrindo e despejando aquele mijo quente e salgado na minha cara. Ah, a buceta do tempo... Eu fodi com ela, com a buceta do tempo. E eu sabia escrever, escrever, escrever. Poesia é uma puta lésbica e mentirosa e eu só fodia com ela. Betty Boop? Ah, fodam-se os desenhos e os desejos infantis. Quero olhar pra cima e esperar o gozo da buceta do tempo na minha cara. Poetas apenas esperam por esse momento. Orgástico, plástico... Mágico. Ah, maldita língua portuguesa: por que usar a palavra "balas" para doces e projéteis de arma de fogo? Onde estão minhas balas? Perguntei. No seu bolso, respondeu  a criança. Mas não lembro se são balas de chocolate ou de revólver. Revolver? Balas de chocolate, são as minhas. Derretem na boca. Disparo e pronto. Conheci uma senhorita que adorava balas... De hortelã e de menta... E um dia acabou levando ... Balas de revólver. De revolver o estômago essa. Gosto de balas, principalmente de metralhadora. Encho a minha com letras e saio atirando, a esmo, sem alvo fixo. Deixo as balas espalharem os pedaços dos miolos dos incautos pelas calçadas. Adoro cérebros espalhados pelas calçadas. Sempre que pego um livro de poesia, numa espécie de ritual, abro numa página aleatória, ao acaso. E como alguém que tirava a sorte com os velhos realejos, leio a mensagem. Entendo assim, ali e desta forma, dentro da minha descrença aos deuses, mitos e mestres, uma mensagem secreta do autor a mim. Sempre foi assim, desde o primeiro que lembro. Foi assim com Baudelaire, foi assim com Rimbaud, foi assim com todos os poetas, desconhecidos e inglórios que li ao longo dos últimos 40 anos. Mas agora olho para cima e a buceta do tempo não é tão gostosa, o mijo não nem tão quente nem tão salgado quanto antes, mas eu ainda quero foder com ela. Enfiar meu pau nesse buceta e esporrar na buceta do tempo. Mas eu não tenho mais 14, 24, 34, 44... Nem 54 mais. Lou Reed está morto. Eu não sabia inglês e imaginava que a tradução de “Venus in Furs” era “Vênus em Fúria” e aí escrevi “O Cu de Vênus”. John Cage é um gênio, Nico  uma gostosa e eu ainda bato punheta para PattiSmith. Patti é uma cadela, né, Banga? Adoro as cadelas, mas prefiro as gatas. E a buceta do tempo, da puta universal e lésbica do tempo ainda é sempre bela e limpa e sempre mija na cara de todo mundo. Depravada e maldita! Quarenta anos de poesia é uma merda! Porque poesia é dos jovens, dos que ainda, dentro de suas rebeldias ainda acreditam que podem mudar o mundo. Não acredito mais em porra nenhuma. Acreditar é para os moços, acreditar é para os que acreditam que nasceram com o dom da poesia, da arte, e acham que assim podem mudar o mundo. Tolos moços e moças. Um dia ficarão feito eu: velhos e cansados para acreditar em algo. Quarenta anos, vinte livros de poesia que não interessam a ninguém. Sacerdote sem altar, deus sem devoção, artesão de livros. Homem. Não sou referência a ninguém. Espero que rasguem e apaguem dos computadores da Deep Web tudo aquilo que eu escrevi. Poesia é merda, entendam isso de uma vez por todas. Hoje vou dormir de barriga pra cima, amanhã acordo mijado? Hein??? Feliz quarenta anos de poesia, Barata Cichetto.