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01/11/2012

Onde é Que Está Meu Racumin?


Onde é Que Está Meu Racumin?
Luiz Carlos Barata Cichetto


Eu, que sou paranóico, que acredito em todas as teorias de conspiração, mas que não acredito em deuses, igrejas e santos. Eu, que espero apenas acabar o que outros começaram: a minha existência. Eu, que não acredito em tradição, família ou propriedade, nem na santa igreja católica, nem em marias nem em jesuses. E não acredito na remissão dos pecados, nem na vida eterna amém. Nem além e nem aquém. Eu que não creio, que acho tudo incrível. Eu que não deixo nenhum bem, mas também não deixo nenhum mal. Eu que ando, eu que caminho, eu que sei por onde ando a caminho do nada. Eu que não sei nada sobre o nada e muito menos nada sobre o tudo. Sobretudo, não sei de nada. Porque nada mais preciso saber. Não quero um copo de nada, os copos deixem vazios. Os corpos também. Não ateiem fogo às vestes, deixem grassar as pestes. Eu, eu que não acredito na evolução humana, nem no fim do mundo. Que não acredito em morte, e que acha que a vida não vale a pena viver com tanta diferença e tanta ignorância. Eu, que não mato baratas, que não gosto de macarrão e adoro beber água com limão. Eu que não espero por Godot, por Brecht, nem por ninguém. Deixei tudo para trás por nada nem por ninguém. Por nada! Obrigado. Obrigado por nada. Por nada, obrigado! Obrigado. Por nada! Escrever poesia é fácil, dificil é ser poeta. Ser homem, meu querido Charles Alemão, é fácil demais. Quer um autógrafo no meu livro? Ah, desculpa, não sei escrever! Outra noite sem dormir. Outra! Não tomo remédios pra dormir, o Racumin está escondido no armário da cozinha. Quem haverá de entender o desespero, afinal? Não espere, desespere, que ninguém compreende. Desistir ou resistir. Preciso decidir isso logo e ir dar comida às minhas gatas. Elas esperam isso de mim. Não a comida, mas minha decisão.  Ontem li uma poesia que era uma declaração de morte ao próprio poeta e não fiquei sabendo se ele deu um tiro nos cornos ou ficou famoso depois de suas dez tentativas. Fotografou a si mesmo e colocou no Facebook a foto com sua própria cabeça enfiada no forno do fogão. Não sei se morreu ou se era apenas uma montagem. Bobagem, isso sim! Bobagem isso, sim! E eu com isso? O importante é que não encontro o envelope de Racumin. Silêncio na noite. As gatas dormem e minha cabeça arde. Onde anda a merda do Racumin? Adoro escrever merda pra inglês ler e dinamarquês sofrer. E foda-se quem não gosta. Eu acabei esquecendo onde guardei a caneta, agora tenho que parar de escrever. O rascunho. Um monte de palavras que podem não lhe fazer o menor sentido, mas é o que tu tenho sentido. "Posição de sentido", bradou o Coronel à Companhia. "Alto!" Sou maior que eu mesmo e menor do que todos nós. Juntos. Eu? Não sei! “Onde é que está meu Rock’n’Roll?” Eu gosto do Alice Cooper, não gosto mesmo é do Arnaldo Baptista! Onde é que está meu Racumin?

Dei comida para as gatas!

Acabou! Achei!

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Amor, Poesia e Racumim
Barata Cichetto
Livro Virtual: A Verdadeira História da Betty Boop
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Estou cansado, minhas pernas estão pesadas agora demais
Não tem porque caminhar sem ninguém a carregar nos ombros
Acredito que não conseguirei caminhar com alguém jamais
Pois minha alma foi esmagada por toneladas de escombros.

Eu não tenho nenhum perdão, não mereço nem o desejo
Porque tenho uma alma perdida desde tempos antigos
Portanto estar morto ou não depende apenas do ensejo
Arrastando uma alma amassada sem mesas e abrigos.

Acreditei na paixão, na sinceridade de sentimentos puros
E então parecia renascer igual à fênix depois das chamas
Grata a sensação e entre pequenas coxas construí portos seguros
Mas não eram portos nem seguros, apenas de rameira de pijamas.

Sonhos são íntimos desejos, bucetas, facas e amoladas tesouras
Nós sonhamos com o que desejamos e ontem eu sonhei com ela
Mas seu ar de tesão deu lugar a uma agonia enorme e duradoura
Seu desejo nunca pertenceu a apenas mim mas a todos e aquela.

Estou cansado, repito, minhas agora pernas estão doloridas
Jamais conseguirei uma ereção prolongada em minha mente
Porque não gemes agora, criatura insana de entranhas coloridas
Então, porque não gemestes apenas por mim, por mim somente?

A morte rangeu seus 666 dentes de ouro, cobre e marfim
Ela sorri igual àquelas que derrotaram a minha existência
Mas ela comunica que ainda não, mas digo que estou a fim
Fui derrotado outrossim e agora não tenho mais resistência.

Deixei ser usado e não fui o primeiro nesta ou em outra cidade
Cuidado que poderás ser o próximo, o último que ela deseja
Usado no que existia de maior importância e em preciosidade
Entregando eu mesmo, minha cabeça em uma dourada bandeja.

Deixa agora eu continuar do lugar onde eu parei, penso
Porque naquele dia o meu bolo seria feito de Racumim
Mas foi um veneno com um poder mortal muito mais intenso
Um veneno forte que arrancou a minha alma de dentro de mim.

7/12/2005
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Registro no E.D.A. da F.B.N. : 508.830 - Livro 964 - Folha 118

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