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02/03/2013

Cem Folhas

Cem Folhas
Barata Cichetto

(Eu trago comigo um par de cadernos
E cada um deles tem certas cem folhas.
Nelas eu anoto todos meus sonhos eternos
Marcando em cada uma minhas escolhas.)

"Na outra linha, parágrafo, dois dedos da margem!" Ordenou a mestra de pernas cruzadas sobre a mesa. E eram belas as pernas debaixo daquela mini-saia. E eu a comia com a mão todos os dias depois da escola.

Eu tinha comigo um par de cadernos com capas de papel amarelo. Em cada um deles, matérias de escola. Mas em ambos, rabiscados na margem, no espaço dos dois dedos, nomes de meninas de mini-saias, uniformes de colegial, que depois das aulas, eu lembrava trancado no banheiro.

Os cadernos tinham cem folhas, mas depois de algum tempo, algumas eram arrancadas e usadas para limpar meu esperma ainda incolor. E os nomes das meninas e da mestra iam parar no cesto de lixo, junto com o esperma, meus sonhos e minhas escolhas...

À margem das folhas, onde eu anotava com letra miúda as minhas escolhas. Eu agora sabia escrever, e jamais as mestras e as colegas de escola e suas mini-saias estariam imunes à minha caneta... E a minha punheta.

(Tenho poemas escritos sob todas as formas.
Em letra de forma, escritos fora das normas.)

Depois de mais de quarenta anos, as quatro da manhã eu perco o sono. Onde andam minhas folhas, por onde andam minhas filhas? Não tenho folhas, nem filhas e agora? Onde andam a mestra e as alunas? Ainda usam suas mini-saias? Resta o computador, monstro negro, inerte e silencioso! Sem punhetas, sem professoras  e sem alunas de mini-saias. Apenas o computador. E poemas sem forma nem formato. Digitados em um teclado cujas teclas estão apagadas de tanto usar.

Pobre computador!

Penso na morte e sobre o quanto eu a conheço! "Prazer em conhecê-lo!", disse ela quando apagou a luz e tirou a roupa. Seus lábios estavam pintados e lambuzados de esperma. Não tinha uma foice nas costas, mas marcas de dentadas e unhas. E eu disse: boa noite, Morte! Até amanhã! Durma com os anjos!

Pobre Morte!

Deixei uma nota de cinquenta em cima da mesa de cabeceira e sai, fechando o cinto e me perdendo pelas esquinas da noite. Até amanhã!

Pobre eu!

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