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30/07/2019

Gyroscopio 69 - Reestréia

Gyroscopio 69
(Texto escrito em 2016, quando foi criado o projeto, que durou um ano, em duas rádios, ambas criadas por mim. Agora, o retorno, com AS Brazil, a convite do Wladimir de Paula)



Sou da geração criada ouvindo rádio. Que acordava de manhã, despertada pela voz de Zé Béttio, José Paulo de Andrade, Gil Gomes e outros. Depois ia dormir ouvindo Jacques Kaleidoscópio, e seu papo dez e muito Rock'n'Roll na Rádio América de São Paulo. Ouvia durante o dia a Rádio Difusora e Excelsior, "A Máquina do Som". O rádio era o companheiro, o professor, o amigo. Não nos impedia de viver, como muito acontece com redes sociais. Líamos, estudávamos, trabalhávamos, nos divertíamos, fazíamos sexo, bebíamos... Tudo... Ouvindo rádio. O rádio era a companheira das donas de casa nas lides domésticas, no cuidar dos filhos, no fazer o almoço; e dos trabalhadores de todas as áreas.

Eu dormia com um rádio de pilha debaixo do travesseiro. Tomava banho com um rádio de pilha pendurado no registro do banheiro. E durante o dia tinha um rádio com toca discos, um indefectível "2 em 1", com discos de vinil roubando por horas a atenção de locutores como Antonio Celso, Darcio Arruda e Vicente Leporace. ("O Trabuco, vai dar um tiro nas noticias do jornal"). Dormia com a voz de Jacques e seu Kaleidoscópio, na católica Rádio Amééééééérica....vrrrriiiiiiim. 

Pelas manhãs, minhas andanças de ajudante de artesão de vasos de flores com meu avô, que vendia suas esculturas perfeitas pelas ruas da periferia de São Paulo tinham a trilha sonora de Gil Gomes, que contava suas histórias colocando um lado humano por trás de crimes. A cada trecho de rua uma frase do locutor. E ao fim do quarteirão um pedaço do programa. Quando o bairro terminava de ser percorrido, ele anunciava: "E ao final de mais um 'Dramas da Cidade', Gil Gomes lhes diz: - 'bom dia!'". Todas as casas respondiam: "Bom dia!" E parece que para aquelas pessoas, o cumprimento do radialista era, mesmo depois de escutarem uma história que nunca tinha final feliz, era a ordem para começar efetivamente seu dia. 

E de "bom dia" o rádio entendia mesmo. Antes de Gil, Omar Cardoso, acredito que o precursor da astrologia e da autoajuda no rádio, tinha um programa chamado "Bom Dia, Mesmo"... O slogan era uma frase que nunca saiu da minha cabeça:"todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor." É... O rádio sabia dizer "bom dia!".

Entretanto, era a Radio Bandeirantes a minha preferida. Desde os tempos em que acordava com "O Pulo do Gato", onde particularmente às terças-feiras, um frei chamado Albino Aresi, falava sobre medicina psicossomática, com um sotaque italo-paulistano: "Bum dia, Zé Paulo, bum dia, amigos do Pulo do Gato". O Frei, falecido no final dos anos 1980, hoje "Albino Aresi" é o nome uma praça aqui do lado da minha casa. E eu tenho um orgulho danado de saber quem foi ele. E a cada vez que passo por ela, olho a placa e escuto aquele "bum dia,..." E me encho de orgulho e saudades.

O rádio era o amigo dos tímidos, o amante das donas de casa mal amadas ou simplesmente solitárias, o príncipe encantado das moças que, apaixonadas por locutores, sonhavam. O companheiro dos pedreiros, escriturários e gerentes. O amigo fiel de todas as gentes. O rádio era o informante que lia as noticias de jornal daqueles que não podiam ou não queriam comprar na banca. O rádio era a voz de todos: pobre, ricos, estudantes, analfabetos, poderosos, coveiros... Todos.

Muito da minha escrita tinha por trilha sonora programas de rádio... Muito foi escrito escutando os programas citados. O choque da noticia da morte de John Lennon por Antonio Celso, a transmissão ao vivo do julgamento do cantor Lindomar Castilho, assassino da ex-esposa, e a história do Padre João, nome de uma rua no centro do bairro da Penha, região onde morei a maior parte da vida, são as memórias que, depois de décadas ainda estão presentes na minha memória. 
Devo muito ao rádio. Muita emoção!

Sempre foi um sonho ter um programa de rádio. Estar num estúdio, falar a milhares e milhares de pessoas, mas nunca, por uma série de motivos, pude realizar. Com o advento da Internet e a popularização das rádios web, essa possibilidade se fez presente. Em 2000, tomei contato com um sujeito que eu considero - e até prova em contrário é - o precursor da radioweb no Brasil: Paulo Rogério, que tinha um esquema complicado e caro para a transmissão. Construí para ele um site e ficamos amigos. A rádio tinha o nome de "Rock Geral" e despareceu, bem como seu criador, poucos anos depois.

Em 2008, convidado por Cezar Bastos, fiz parte do primeiro time da Stay Rock. A fase foi curta, durando apenas oito programas. Depois veio a Lágrima Psicodélica, a A Ferro e Fogo e um retorno por mais de três anos na Stay Rock. Nesse meio tempo, criei uma rádio que tinha uma proposta diferente, chamada "KFK Web Radio". O slogan: "A rádio que toca ideias"... Dá pra perceber a proposta. Dentre essas "ideias", coloquei, na integra, num domingo, a execução completa de "O Anel do Nibelungo" de Richard Wagner. A duração é de quase dezessete horas. Não acredito que nenhuma rádio, mesmo "tradicional" tenha tido tal ideia...

Confesso que ainda me considero um devedor ao rádio, seja ele que forma tenha. Seja num rádio de pilhas em AM, seja por um computador ou aplicativo de celular, ainda tenho muito a pagar a esse meu amigo. Uma divida, entretanto, que sei que jamais irei quitar. Não que não possa, mas decerto porque não quero.

E neste momento, depois de ter me afastado mais uma vez de rádios web, preparo um programa, ainda dentro do estilo que eu criei, com meus erros, tosses e minhas pausas enormes entremeadas a uma voz atropelada, onde coloco Rock, Poesia e falo sobre filosofia, política e tudo que me der na teia. 

O nome... Bem... Quando tenho algum projeto na cabeça, é comum acordar com um nome... A palavra vem logo ao abrir os olhos... E assim foi com esse: "Gyroscopio 69". 

"Giroscópio, substantivo masculino, fís.: dispositivo cujo eixo de rotação mantém sempre a mesma direção na ausência de forças que o perturbem, seja qual for a direção do veículo que o conduz." Tec! Plim! Vriiiiim.. É isso! O "69" veio depois, pelo desejo de acrescentar números. A razão de numero é óbvia àqueles que me conhecem ao menos um pouco.
Busco agora um veículo sério, que tenha compromisso com o rádio sob qualquer forma, e que possa servir mais do que suporte e base a esse programa, mas também de uma casa, de um parceiro de aventuras.

Em breve verão. Ou melhor, em breve ouvirão.

07/10/2016

2 comentários:

Genecy disse...

Noves fora um ou outro detalhe, até parece que sou eu o autor da matéria.

Procuro não ser saudosista por 'N' razões, mas não me atrevo a ignorar a importância da caixinha que toca música na minha vida. O rádio sempre estava presente, mesmo que o que estava tocando no momento me interessasse. Havia de tudo.

Com a chegada da adolescência, o rádio era onipresente. No meu caso, a emissora que fazia a minha cabeça era a Rádio Tropical (a primeira FM do Brasil, fundada em 1968). Foi nas ondas dela que conheci minha primeira diva, black music, o pop, e até umas MPBs bacanas. O rock veio muito depois, por outros meios. Naquele tempo, rádio FM significava sofisticação e bom gosto.

Mas o tempo passa, até para as rádios. Hoje, encontrar uma emissora realmente interessante equivale a um trabalho de garimpagem.

Que seja bem-vindo, novamente, o G69. Volto a ser um fiel ouvinte.

Luiz Carlos Cichetto disse...

Rádio sempre foi minha paixão, como escrevi. Acredito, entretanto, que ele está com os dias contados, em função de outras midias, como Youtube e sites como Spotfy, mas mesmo assim, enquanto não acaba, vamos insistindo.
Ademais, preciso falar, ouvir minha própria voz, numa cidade surda, num país surdo, numa terra surda... Co as devidas exceções de costume.