Barata Cichetto
Comam dos poemas que lhes entrego em belos pratos suculentos
Minha poesia não é comida mas a tenham feito lautos alimentos
Deixe o resto da comida aos porcos pois a conta ninguém lhe cobra
O que lhe farta a outro falta e minha janta do seu almoço é a sobra.
Apanhem cutelos, bocas e outros alimentares instrumentos
E retalhem a melhor parte da minha poesia de tormentos.
Comam da minha poesia num nefasto banquete trágico
Alimento podre consagrado em um altar antropofágico.
Minha cabeça em uma bandeja e uma porção em seus lábios
Comam agora minha poesia indigesta e brindem aos sábios
Entrem no restaurante e comam poesia temperada com solidão
Transformada em carniça, a poesia é dos vermes da podridão.
Ao mendigo um poema entrego e comida seus olhos imploram
O feijão, o pão e o circo são as marcas daqueles que lhe adoram
Ah a poesia, ela é feita com dentes, soluços e abraços
Ela morde meu pescoço e depois cai nos meus braços.
Toda comida que comemos é apenas matéria morta
Apodrecendo o sangue e entupindo a artéria aorta.
Porque é da morte alheia que nós nos alimentamos
E na nossa própria morte em nós nos manietamos.
Não vomitem em meu tapete, não cuspam em meu prato
Estamos mesmo todos mortos, então façamos um trato
Tratem a mim com a indiferença das espécies silenciosas
Eu não lhes mordo e nem cuspo em suas vestes graciosas.
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